Maria Carolina ScarantiO sonho de todo pai e de toda mãe é ter uma relação saudável e tranquila com os filhos! Porém, quando o casal opta por uma separação, nem sempre é fácil. Costumam acontecer brigas, discussões; é um tal de pai falando mal da mãe e vice-versa; ou seja, a relação fica péssima. Agora, se é difícil para o casal, imagina para os filhos.
Por isso, é muito importante que tanto o pai quanto a mãe entendam que ambos são pais daquela criança para sempre! Existe ex-marido, ex-mulher; mas não existe ex-filho! Aceitar isso é fundamental para manter uma relação saudável e feliz!
Conversei com a Psicóloga, Coach e Terapeuta de Casais, Nara Doné, que explicou como os pais devem proceder diante de uma separação para não afetar tanto as crianças, afinal, estas são os bens mais preciosos do casal!
CANAL INFANTIL – Quando os pais decidem pela separação, é importante que conversem com o filho sobre o assunto?
NARA DONÉ – Claro! A separação dos pais é um momento de muitas mudanças para os filhos, então, é importante que a criança seja comunicada sobre o que está acontecendo e como será a vida da família após a separação. Com quem a criança vai morar, qual será a periodicidade de encontros com o cônjuge que irá sair de casa, quais as mudanças que irão acontecer, porque se este diálogo não acontece, a criança vê e sente todas as mudanças e isso pode gerar angústia e medo do abandono por não saber, de fato, o que está acontecendo.
CANAL INFANTIL – Uma separação pode trazer problemas emocionais para os filhos?
NARA DONÉ – Sim, pode, e quase sempre traz, afinal a criança vai deixar de conviver diariamente com um dos seus pais; um vínculo será rompido com a separação, mas não precisa ser traumático para o filho. Além da separação em si, a forma como a separação é conduzida é o grande diferencial, pois se os pais lidam bem com a separação e saem bem resolvidos, os filhos também irão lidar de uma forma mais tranquila, pois os filhos são o termômetro da relação e, assim como uma esponja, eles absorvem tudo que acontece. Então, para evitar problemas emocionais para os filhos, é importante estar atento ao que ocorre na relação antes da separação, bem como as brigas e desgaste da relação até decidirem se separar, pois, a partir daí, já se inicia o processo de angústia do filho, podendo até mesmo se sentir culpado pela separação.
CANAL INFANTIL – Alguns pais se afastam do filho antes de saírem de casa pensando ser o melhor a fazer, afinal, após a separação, o filho o verá menos. Essa é a atitude correta?
NARA DONÉ – Não. A separação é do cônjuge e não do filho. Sempre digo que não existe ex-filho, como existe ex-marido ou ex-mulher. Isso é importante no processo de comunicação: o casal estar junto para transmitir segurança e tranquilidade de que tudo ficará bem, mesmo após a separação.
CANAL INFANTIL – Falar mal do ex-parceiro para o filho pode gerar consequências negativas para a criança?
NARA DONÉ – Sem dúvidas! Quando a separação ocorre, os ex-parceiros continuam sendo os pais da criança e, sendo assim, permanecem como heróis, no seu imaginário. Falar mal do ex, desconstrói esse imaginário, sendo que é sua percepção de ex e não a percepção do filho. Então, é importante preservar a imagem um do outro para o filho. Porém, parte das separações não ocorrem de forma amigável e, assim, os parceiros começam a usar o filho, de forma inconsciente, para atingir o ex-parceiro(a), ou forma alienação parental com filho, para atacar e denigrir o ex, e se tornam aliados contra o outro, e isso intensifica o sofrimento emocional do filho.
CANAL INFANTIL – Como deve ser a relação pai e mãe após a separação para não afetar tanto a vida da criança?
NARA DONÉ – É importante que ambos tenham maturidade para viver a decisão da separação e alinhem, claramente entre si, como serão as responsabilidades de cada um com o filho, bem como todas as regras, a forma de criação e condução com o filho. Entendendo que ambos, mesmos separados, permanecem sendo os pais, e isso implica responsabilidades, inclusive, financeiras, para que nenhum fique sobrecarregado. Percebo muitas situações em que o filho mora parte da semana com a mãe e parte com o pai, por exemplo, e na casa do pai pode “tudo”, ele ganha presentes, sai para passear, não tem horário de comer ou dormir; já na casa da mãe tem as regras, horários e responsabilidades. O filho fica sem referência do que é certo ou errado, do que é permitido e do que é proibido, sem parâmetros de limites, e isso é extremamente importante para o desenvolvimento da criança. Então, o diálogo entre os ex-parceiros é muito importante para esse alinhamento e para que um seja a continuidade do outro para o bem-estar do próprio filho.