Quando colocamos o filho na escola, esperamos que ali seja um lugar onde ele aprenda não só as matérias e conteúdo pedagógico, mas também o amor pelo próximo, a importância da socialização e até um pouco sobre as escolhas que fazemos em nossas vidas. Infelizmente, muitas vezes, não se respeita a figura do professor. Aquele que deveria ser visto como herói, símbolo da educação; muitas vezes não recebe o valor devido, deixando, assim, de sentir prazer pela profissão. Mas, ainda há esperança!
Conversei com o Marcelo Pellegrino que é um verdadeiro exemplo de professor que ama a sua profissão e faz de tudo para o sucesso e a felicidade dos seus alunos! Confesso que fiquei emocionada ao ouvi-lo contar a sua história.
Há mais de 30 anos dando aulas, Marcelo hoje é professor de adolescentes, em Teresópolis (Rio de Janeiro), e é um verdadeiro “pai” para os seus alunos.
“Ser professor para mim é ser um cultivador de gente, um disseminador de conhecimentos. É vivenciar o meio termo entre o compromisso político de gestar cidadãos e a experiência emocional de ver brotar pessoas”, destaca Marcelo.
Mas não pensem que dar aulas para adolescentes, principalmente no mundo atual, é simples e fácil. Existem obstáculos! Marcelo explica que o principal é “conquistar o encantamento da garotada! Sempre tivemos que competir com a tecnologia, que já foi o uso de vídeo cassete, de disc man, gravadores e toca fitas, uso do epidiascópio, do projetor de slide e, mais modernamente, os recursos de informática e das redes sociais. Mas essas são as questões que também estão presentes nas relações familiares, no distanciamento das pessoas e no afrouxamento dos laços de família. Penso que a nossa grande dificuldade é aproveitar os recursos das diferentes mídias e anexar os conteúdos das diferentes matérias”.
E dar aula vai muito além de passar conteúdo! Como afirma Marcelo “é um permanente exercício de associação de sua história com a história de cada aluno. É um não perder a sintonia com a modernidade vigente, pois o que foi moderno há 30 anos hoje é passado. A tecnologia, a informação, o conteúdo, tudo se transforma! A novidade vira peça de museu e o futuro que víamos lá atrás é o presente que já está passando e ficando meio sem graça. É permanecer com a mente adolescente em um corpo pós-púbere”.
Se quando o nosso filho é criança já nos preocupamos tanto, imaginem na adolescência! Uma fase nem sempre fácil, onde o jovem quer experimentar tudo e “mandar” em sua própria vida. É comum alguns não ouvirem os pais e é aí que entra uma pessoa fundamental: o mentor! Ele é aquele que vai orientar o seu filho para o mundo. Apesar de ser um papel que poderia ser muito bem desempenhado pelos pais, nessa fase, os filhos são um pouco rebeldes e não querem ouvir conselhos dentro de casa. Por isso, o mentor deve ser alguém que encante o seu filho, mas também que o ajude a seguir por caminhos de sucesso. E por que não o professor ser também o mentor? Não é fácil, mas, com amor, isso é possível!
Marcelo é um grande exemplo de mentor para seus alunos! Chamado de “pai” por muitos, Marcelo encanta por meio de seus conteúdos e palavras! “Ao longo do tempo, no meu caso do tempo de três décadas, tenho construído uma ideia na qual há uma parte do exercício do magistério que se caracteriza pelo compartilhamento do conhecimento acumulado pelo professor e pelo sistema, e isso é relativamente fácil. Há estudos sobre tecnologias educacionais, o uso de diferentes mídias para compartilhar conteúdos… Mas há um lado mágico, um lado humano e pessoal em que podemos perceber o encantamento onde os humanos envolvidos na relação da educação se presenteiam com o seu melhor e se permitem tecer as interfaces. Acredito que ter uma ética emocional, onde as pessoas não fraudam o que sentem, onde a relação se faz por respeito e por desejo e vivência de sinceridade. Dessa forma, o professor consegue ser aceito como alguém que possa influenciar individual ou coletivamente e, no diálogo, essência dessa relação, constrói-se um link de mão dupla onde nos tornamos todos referências de todos”, ressalta o professor.
Para lidar com adolescentes é também preciso tratar de temas polêmicos. E Marcelo faz isso de uma forma que impressiona. Ele destaca que “acima de tudo é preciso ter ética e buscar, no ambiente da sala de aula, entender as dinâmicas dos valores que são vividos pelos elementos formadores do grupo. A própria discussão do que seja caminho errado ou certo, do ponto de vista do relacionamento social, tem que ser balizada nas várias formas de pensar que compõem o tecido social representado pelos alunos e seus familiares, além de professores, pessoal técnico administrativo; sabendo, com isso, que o aceito em um grupo, ou a sua intrínseca forma de se manifestar, pertence às idiossincrasias sociais daquele grupo e não em valores culturais da capital ou do grande centro urbano, todos influenciam todos”.
Um ponto importante a ser destacado é que se fala muito que os valores estão distorcidos no ambiente escolar. Já não se respeita tanto o professor, como antigamente! Isso é um fato! Porém, Marcelo apresenta uma outra forma de olhar a mesma questão: “não sei dizer se os valores estão distorcidos ou se há apenas uma exposição maior desses valores em detrimento dos valores tradicionais. Acredito que o professor tem que ter em mente que há um projeto maior de educação, no qual temos como objetivo estimular e perceber o surgimento de um cidadão que saiba diferenciar os limites de seus direitos e as ações recorrentes em função de suas responsabilidades”.
“Penso que devemos agir como jardineiros! Quando se observa que uma planta pode ficar mais torta, coloca um apoio para que ela envergue pouco, cuida de mais água, mais sombra, sabe fazer o manejo sustentável, observa a flor e sabe que o fruto veio da flor, independente dele, com as características que lhes sejam próprias”, ensina o professor.
Eu fico emocionada de ver que ainda existem professores que lutam por um futuro diferente para os seus alunos! “Parafraseando a ideia de Frejat, desejo que os alunos possam ter desejos, espero e torço para que sejam felizes e que sejam coerentes, espero que cheguem vivos e sejam agentes de mudança, que não aceitem o futuro que seja escolhido para eles por outras pessoas que não os conheçam e que não tenham por eles um olhar esperançoso”, emociona-se Marcelo.
É tão maravilhoso quando encontramos professores dispostos a ajudar, cuidar e com vontade de mudar o mundo! Eu realmente sonho encontrar um professor assim quando meu filho estiver na adolescência.
A educação precisa melhorar, mas não podemos nos esquecer de que muitos professores já são exemplos de que estamos no caminho certo! A professora do meu filho (que está no primeiro período ainda), a Val, como já falei aqui no blog, é um ser maravilhoso e especial! Nunca vi tanto amor pela profissão e por seus alunos. E ela vai muito além, ajudando a criança a dar seus primeiros passos, a se tornar independente, a seguir em frente, acolhendo-a em cada sentimento de medo e buscando sempre o melhor para cada uma!
Termino esta matéria com um depoimento lindo do Marcelo: “eu espero para o futuro o que eu desejei no meu passado quando pensava no futuro ora presente. Em uma noite quando comecei a lecionar, ainda como estagiário, na Escola de Ensino Supletivo Delfim Moreira, no bairro do Jacarezinho, subúrbio do Rio, eu quis muito continuar aquele ofício para mostrar para aquelas pessoas em condições de vulnerabilidade, em riscos de violência, que elas podiam mudar o seu futuro e não aceitar o que lhes era imposto. O que eu ainda espero é que haja espaço para indignação, que haja espaço para que esses jovens sejam atores de seus futuros e não aceitem os presentes tortos que os levarão para um futuro mais torto ainda; espero que haja espaço para sonho. Naquela mesma noite, quando cheguei em casa e fui tomar banho e o pó de giz branco estava grudado na minha roupa, percebi que o magistério tinha me escolhido! Eu desejo que a educação crie asas para outros sonhadores, para outros colhedores de gente e que sejamos fecundos em as deixar brotar”.
E eu desejo que existam mais Marcelos por todo o mundo!