Na matéria de hoje vamos falar sobre a importância da higiene bucal durante a gestação. Quando engravidamos, a maior preocupação é com o bebê que vai nascer! Lembramos-nos de tudo um pouco. Mas, e da nossa boca? Será que ela é importante neste momento?

A odontopediatra Dra. Maria Luiza da Matta Felisberto Fernandes (Mestre e Doutora em Odontopediatria pela UFMG e Harvard University, que atualmente é professora do Curso de Odontologia do Centro Universitário Newton Paiva) conversou com o Canal Infantil e explicou tudo sobre a saúde bucal na gestação.

Para começar, é muito importante lembrar que “a gestação é o período ideal para se iniciar a prevenção e educação visando atitudes favoráveis e hábitos saudáveis à saúde bucal tanto dos pais quanto dos filhos. Nesta fase, a mulher apresenta-se mais receptiva a conhecimentos e incorporação de novos hábitos. Os pais, mas ainda nos dias atuais, na maioria dos casos, as mães exercem o papel fundamental como educadora e formadora de hábitos e atitudes dos filhos, além de representar a primeira e principal fonte no estabelecimento da microflora bacteriana da cavidade bucal do bebê. O padrão de comportamento familiar é o fator preponderante na determinação do estado de saúde ou doença bucal na família, pois interfere no estabelecimento de costumes ou hábitos. A herança biológica também é citada, através da literatura, na transmissibilidade do padrão de saúde bucal de pais para filhos, contudo, as características de saúde bucal das crianças são mais relacionadas às características e costumes familiares”, destaca a Dra. Maria Luiza.

A periodicidade das idas ao dentista pode variar muito. Conforme nos explica a odontopediatra, “a gravidez induz um aumento da resposta tecidual aos fatores irritantes gengivais, tais como placa e tártaro, por meio da alteração do metabolismo tecidual. Estudos também mostram que a concentração de algumas proteínas salivares, que exercem papel de proteção dos tecidos bucais e dentários, diminuem no segundo e terceiro trimestres da gravidez. Assim, para aquelas gestantes que estão com a saúde bucal em dia, aconselha-se uma visita ao dentista durante a gravidez, geralmente no segundo trimestre. Para aquelas que apresentam alterações bucais, a gravidez pode exacerbar o quadro, então, a gestante deve realizar o tratamento necessário”.  Importante dizer que este tratamento não é contraindicado durante a gravidez.

Algumas alterações das condições bucais são mais comuns durante a gestação. Como destaca a Dra. Maria Luiza, “observa-se que o pH salivar e a capacidade tampão da saliva (propriedade da saliva de remineralização das pequenas e imperceptíveis desmineralizações que acontecem no meio bucal todos os dias) diminuem um pouco durante a gravidez, principalmente no último trimestre da gestação, aumentando então o risco da cárie dental em gestantes, quando considerado o fator salivar dentro da multicausalidade da doença cárie (cárie não é causada por um só fator. É necessário a interação de outros  fatores como dieta contendo açúcar e placa bacteriana aderida ao dente)”. No entanto, é muito “importante ressaltar que as alterações na cavidade bucal podem não ser necessariamente o resultado da ação hormonal da gravidez direta no tecido. Talvez seja melhor explicada pelos efeitos de irritantes locais como a placa bacteriana, então tem-se uma resposta tecidual exacerbada pela atividade hormonal. As condições em que a maioria das mulheres chega à gravidez, com limitados conhecimentos sobre as técnicas de higiene bucal, são causa das patologias bucais de maior frequência, ou seja, a cárie e doença periodontal (referente ao osso e tecidos moles que estão em volta do dente)”.

É comum observar também, segundo a Dra. Maria Luiza, “uma maior mobilidade dental na paciente grávida, regredindo após o término da gestação”.

Quando falamos em saúde periodontal é importante explicar que a alteração mais comum é a inflamação da gengiva (gengivite). Como afirma a odontopediatra, “mais comum também a partir do segundo mês de gravidez, alcançando seu pico no oitavo mês gestacional. Estas alterações são também mais comuns na região anterior que nas áreas posteriores da cavidade bucal”. Ela explica ainda que, “as perturbações da saúde bucal durante a gravidez por si só não desencadeiam as periodontites (doenças gengivais mais graves), mas as concentrações hormonais que as mulheres podem apresentar acentuam o quadro clínico da inflamação gengival já instalada. Altas taxas de progesterona também podem provocar alterações nos tecidos bucais e na resposta inflamatória bucal, levando a crescimentos tumorais, geralmente nas papilas interdentais ou outras áreas de frequente irritação. Esses crescimentos tumorais são denominados tumores gravídicos, epúlide gravídica ou granuloma gravídico. Eles desaparecem ao término da gravidez e, alguns casos, se muito exacerbados, poderão requerer intervenção odontológica”.

Para finalizar, é necessário que a gestante saiba da importância de ir ao dentista e realizar os procedimentos necessários. Como bem coloca a Dra. Maria Luiza, “não existe procedimento que não pode ser realizado durante a gestação. Se a gestante precisar de alguma intervenção odontológica, ela deve fazer. Qualquer que seja! Dores e desconfortos bucais podem liberar adrenalina prejudiciais ao feto.  Anestésicos locais odontológicos e até raio X odontológico com proteção, podem ser utilizados nos casos urgentes. A saúde bucal materna não só interfere na transmissão, ao filho, de características da flora bacteriana (patogênica ou não), como a doença periodontal em gestantes pode ser um fator de risco para o nascimento de crianças de baixo peso. Considerando-se procedimentos odontológicos eletivos, opta-se por fazê-los após a gravidez pelos desconfortos inerentes à gestação”.

Então, jamais deixem de consultar seu dentista na gravidez! Estejam atentas a todos os cuidados necessários! Uma boca saudável é também um bebê saudável!

Apenas uma curiosidade:

é muito comum se ouvir dizer que, durante a gestação, as mulheres perdem dentes! Mas será verdade? A Dra. Maria Luiza nos explica de onde surgiu essa história. “Esta crença, de que cada gravidez é um dente perdido, tem raiz histórica. No ano de 636, Paulo de Egina considerava a ação ácida do vômito na gravidez um elemento prejudicial para os dentes. Na década de 70, estudos clássicos publicados em respeitadas revistas científicas britânicas, verificaram uma melhor saúde bucal entre os homens residentes na Escócia, Inglaterra e País de Gales, que nas mulheres da mesma idade. Outros observaram que o comprometimento da saúde bucal manifestava-se no período da gravidez e que um programa de prevenção se fazia necessário nessa fase. Outros autores, ainda na década de 70, realizaram uma pesquisa sobre a saúde bucal em mulheres na Nova Zelândia e observaram um número duas vezes maior de dentes perdidos em relação a homens de mesma idade. Esta diferença foi mais marcante nos grupos de 25 a 29 anos e 30 a 35 anos, correspondendo às idades de maior possibilidade de gravidez. Todos estes estudos consideraram que a explicação mais frequente para a perda dos dentes pudesse ser a gravidez. Estava levantada a questão de a gravidez interferir na saúde bucal das mulheres. Por outro lado, estes trabalhos incentivaram o desenvolvimento de pesquisas relacionando gravidez e saúde bucal. Assim, ainda na década de 70, respeitados pesquisadores enumeraram diversos registros datados de 1898 a 1954, que demonstravam não haver diferenças significativas na condição de saúde bucal de mulheres com filhos ou sem filhos. A ciência mostrou que a gravidez, por si só, altera muito pouco o pH da saliva, tornando-a levemente mais ácida, não sendo suficiente para causar destruições dentais. O problema da gravidez parece estar ligado à uma maior acidez do meio bucal das gestantes que sofrem problema de regurgitação. A literatura também não descreve que durante a gravidez sejam retiradas quantidades significativas de cálcio (Ca) da dentição materna para suprir necessidades do feto. O cálcio presente no dente é estável, sob a forma de cristais. Portanto não está disponível na corrente circulatória sistêmica para suprir a necessidade fetal. Esta necessidade é suprida através dos ossos maternos. Sendo assim, hoje é bem estabelecido pela ciência que gravidez não aumenta a incidência de lesões cariosas ou da microflora patogênica. A gravidez leva a uma alteração hormonal, mas não é iniciadora de doenças. As características da gravidez apontam, portanto, para a necessidade de investimento na educação preventiva em saúde bucal”.

 

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