Quando uma criança apresenta alergia alimentar, toda a família sofre! A criança, é claro, é a mais afetada; porém, os familiares mais próximos (pai, mãe, irmãos), principalmente, precisam se adaptar a uma nova rotina. E isso pode ser muito difícil! Mas não é impossível!
Conversei com a Luciana Morais, que participou do Fórum Nacional Semana da Criança Alérgica ao Leite, coordenado pela nutricionista Raquel Righi. Luciana é enfermeira, pós-graduanda em Saúde Materno Infantil com ênfase em Aleitamento Materno, dona da Cheiro de Mãe, Consultora em Aleitamento Materno e mãe do Arthur, da Alice e da Joana. Por ser mãe de uma criança alérgica, ela precisou mudar toda a sua estrutura em casa.
Em primeiro lugar, quando se descobre uma alergia, é muito importante que os pais busquem ajuda o quanto antes. Alergia é coisa séria; não é frescura! “O principal motivo de se iniciar os cuidados o mais rápido possível é garantir qualidade aos pequenos, com o alivio dos sintomas e incômodos. Muitas vezes o que achamos que é choro normal de bebê esconde um incômodo bem maior, que causa sofrimento a quem ainda é incapaz de se expressar e explicar. Além disso, quanto antes se iniciam os cuidados, menores os riscos da criança apresentar um quadro mais grave sem estar sob acompanhamento. Além disso, é possível se estabelecer melhor quais os alimentos que levam a reações”, explica Luciana.
Depois de um diagnóstico, vem a mudança! Toda a família precisa estar unida para a saúde da criança alérgica. Dependendo do grau da alergia, caso a criança reaja a contato ou a traços, o cuidado deve ser redobrado. Além disso, é preciso focar em uma nova alimentação não só para a criança, mas para toda a casa. “Eu tinha uma alimentação a base de muito leite e derivados, então foi preciso mudar toda minha alimentação, pois não pretendo desmamar a bebê tão cedo. Foi preciso me reinventar na cozinha do dia a dia, nos lanches, nas possibilidades, nas substituições… Além de aprender a conhecer os alimentos, marcas, rótulos… Virei a doida do rótulo! Aprendi a comer novos alimentos e a manter uma alimentação, inclusive, ainda mais saudável. Desde o diagnóstico, diminui muito as saídas, encontros com amigos, pois sempre é em volta de comidas, e por mais adaptada que esteja, nem sempre é fácil estar ali naquele meio. Optamos sempre por fazer algo em casa mesmo, só com os meninos, com coisas caseiras”, relata Luciana.
Essa mudança de hábito é muito importante! Os pais precisam entender a necessidade da criança. E mais, todas as pessoas precisam respeitar essa família. Infelizmente, ouvimos alguns dizerem que alergia é frescura, que só um pedacinho não fará mal. Faz mal sim! Inclusive, existe o risco de a criança vir a óbito, dependendo da situação! Jamais ofereça alimentos sem o conhecimento dos pais!
Se a criança ainda amamenta, a mãe precisa estar atenta ao que consome. Luciana explica que “é importante que toda a família altere sua alimentação, principalmente, se é uma família com costume de consumir muitos produtos com os alérgenos. A mãe, em especial, pois precisa seguir a mesma dieta da criança, quando esta é amamentada, para evitar reações pelas proteínas que podem passar pelo leite materno. E toda a família deve se adequar a nova realidade, para que não seja necessário trabalho em dobro, preparo de comidas separadas, etc”.
Outro ponto que deve ser destacado é que “também pode acontecer de a criança alérgica se deparar com farelos, pedaços de alimentos e comer, ou mesmo querer comer o mesmo que os pais, irmãos. Aqui em casa, como temos mais duas crianças não alérgicas, tivemos a possibilidade de improvisar uma ‘cozinha do leite’ fora, para que alimentos ‘contaminados’ possam ser consumidos pelos meninos sem riscos para a pequena. Eles demoraram um pouco a se adaptar às restrições, mas hoje são super cuidadosos e ajudam a cuidar e vigiar. Mas uma das maiores dificuldades que tivemos foi nesse processo de adaptação, pois eles ainda não entendiam direito e acabavam trazendo para dentro de casa alimentos proibidos”, ressalta Luciana.
É essencial que os pais estejam dispostos a mudar e encarar as dificuldades de frente. Luciana conta que não foi nada fácil em sua casa, mas hoje ela consegue administrar bem a situação. “As maiores dificuldades foram no começo, até conseguirmos definir quais alimentos causavam reações, aprender a lidar com traços… Foi difícil ter que pedir a família para evitar pegar a bebê no colo, se tivessem comido algo, pois ela reagia ao contato. Até hoje, eles têm medo de dar um beijo. A compreensão e o entendimento da família foi difícil. Apesar de sempre respeitarem e nunca forçarem nada, entender como funciona a alergia, entender que aqueles cuidados não são exagero, demora um pouco. E o afastamento também, pois acabamos deixando de participar de encontros, principalmente agora que ela já entende e pede as coisas, acaba chamando atenção a comida. Não poder sair um final de semana à noite com o marido também é chato, pois tínhamos esse costume. Enfim… são dificuldades de adaptação que vamos vivendo e vencendo a cada dia. Ter que levar a própria comida para todo lugar, festas, não é fácil, mas a gente aprende e acostuma”, conta Luciana.
E é isso mesmo! É preciso uma adaptação ao novo mundo que estão vivendo. Os pais são os responsáveis pela criança e devem zelar pelo cuidado. É difícil, trabalhoso, às vezes até ruim mesmo; mas faz parte e é preciso aceitar! Ninguém melhor para cuidar de um filho do que os pais!
Destaco aqui a importância de aceitar a situação e trabalhar para que tudo flua da melhor maneira possível! É fundamental que todos os parentes, amigos, pessoas que convivam com a criança respeitem a família e busquem conhecer sobre a alergia.
Para as famílias de crianças alérgicas, Luciana deixa uma mensagem: “Paciência, sempre! Confiar que vai passar. Não precisa ser forte sempre, revoltar é normal. Mas sempre que estiver difícil, respirar e lembrar o porquê desse esforço: pela saúde dos pequenos. E que passa. Que um dia a vitória chega e olharemos com orgulho para esse tempo. E se mesmo assim estiver muito difícil, busque ajuda”.
É isso, mamães e papais! Não se desesperem! Para tudo tem jeito! E não deixem de procurar ajuda, se preciso! Façam tudo o que estiver ao alcance de vocês!