A gagueira é um tema que causa muita preocupação. Conversamos com a fonoaudióloga Érika Queiroga, que trabalha com distúrbios da fala, inclusive gagueira, que nos explicou tudo sobre este assunto. E, pasmem, segundo Érika, a incidência de gagueira é de 1% da população mundial (são as pessoas que levam a gagueira por toda a sua vida); sendo a prevalência (quantas pessoas já gaguejaram uma vez na vida e depois isso desapareceu) de 4 a 5%.

Afinal, o que é a gagueira? Segundo a fonoaudióloga, é uma das alterações mais conhecidas da fluência da fala. “A fala é um ato motor, a gagueira é uma alteração do ato motor; a programação dos movimentos motores articulatórios da fala e o tempo estão alterados. Ela não está relacionada à falta de conhecimento do assunto, ao intelecto ou à ansiedade  (o gago pode até ser ansioso, mas a gagueira não é causada por ansiedade). Considera-se fluente o indivíduo que possui uma fala contínua, que as pessoas entendem, que fala em velocidade adequada ao ambiente, com vocabulário adequado ao assunto”, explica Érika. Importante dizer que não é fluente também a pessoa que fala muito rápido, embola as palavras e não se faz entender pelo outro; e, no entanto, não é uma pessoa gaga.

Para ser considerada gaga, a pessoa precisa apresentar uma dificuldade na menor unidade da língua, que é o fonema. Como ressalta Érika, é necessário que o indivíduo apresente pelo menos uma destas características:

– alterações na menor unidade da língua, no fonema (som), ou seja, a pessoa “agarra” (bloqueia) em uma letra;

– repetição do fonema;

– prolongamento do fonema.

A esses, somam-se outros sintomas e características de fala, incoordenação pneumofonoarticulatória, por exemplo.

Vale lembrar que o diagnóstico de gagueira é fonoaudiológico e muito mais fácil no adolescente e no adulto! “No caso de criança pequena é mais difícil porque, quando ela começa a desenvolver fala e linguagem é normal que ocorram repetições ou até prolongamentos, ou seja, apresentam disfluências, mas essas características não necessariamente a classificam como uma criança gaga”, explica a fonoaudióloga. Além disso, não existe uma idade para se realizar o diagnóstico. Como afirma Érika, “cada criança tem o seu tempo de começar a falar. Hoje temos crianças que com dois anos já falam tudo e temos as que com quatro ainda não começaram a falar (o que indica um atraso na aquisição e desenvolvimento da linguagem, que também deve ser tratado). E a disfluência só vai aparecer quando elas começarem a formar frases. No entanto, logo após o início dos sintomas, o esperado é que eles só permaneçam por até seis meses. Além disso, o fato de haver histórico familiar também é um importante marcador diagnóstico”.

Muitas pessoas perguntam se a gagueira tem cura! Mas, como afirma a fonoaudióloga, “não se pode falar em cura quando não se sabe a causa. E a gagueira não tem causa definida. Hoje ela é considerada um distúrbio neurogenético funcional. Além da história familiar e da genética, a cada dia descobrem-se mais áreas cerebrais com função e/ou morfologia alteradas relacionadas à gagueira.

 

 TRATAMENTO

O tratamento depende muito da faixa etária. Como estamos falando de crianças, o ideal é que, a partir do momento em que a fala da criança apresenta alguma alteração e isto está incomodando ou chamando atenção da família, deve-se procurar um fonoaudiólogo para fazer uma avaliação e também orientar a família.

Não esperem! Busquem ajuda o quanto antes! Érika lembra que “somente o fonoaudiólogo saberá informar se a criança pode ou não esperar, pois os tipos de disfluências são de domínio de conhecimento deste profissional” e afirma que “não necessariamente a criança precisa fazer um tratamento. O profissional vai avaliar e, em um primeiro momento, é muito provável que faça um acompanhamento indireto, ou seja, acompanhar a família, orientá-la e ver se a criança desenvolve ou não”.

“Se a criança, mesmo pequena, já apresenta características da fala que levam a pensar que ela pode ser um adulto gago, tem histórico familiar e o meio ambiente em que vive tem mais ou menos estímulos, deve-se começar um tratamento”, afirma Érika. A grande vantagem é que quando a criança é pequena, seu cérebro ainda está em pleno desenvolvimento e, assim, o profissional poderá “ensinar”, treinar a criança a falar de uma forma diferente, fazendo com que ela se desenvolva com uma qualidade de fala mais fluente. “O que pode ajudá-la a não se tornar um adulto gago ou pelo menos ter uma gagueira  leve ou muito leve, por exemplo”, destaca a fonoaudióloga.

Érika ressalta que a fase mais difícil para se trabalhar com a gagueira é em crianças entre nove e treze anos. “A criança já tem uma gagueira mais estabelecida e não está incomodada com isso; mas os pais sim! E, um dos requisitos básicos, independente da idade, é que a pessoa queira fazer o tratamento e, nessa faixa etária, é muito frequente, a criança não querer”. Neste caso, como a gagueira já está estabelecida, o tratamento vai ajudar a pessoa a falar, por meio de técnicas, de uma forma mais fluente. No entanto, tudo vai depender da vontade desse adolescente ou adulto de usar as técnicas e mudar o seu jeito de falar.

Infelizmente, dentre os distúrbios da fala, a gagueira é um dos que mais chama atenção na sociedade. Para evitar o sofrimento, Érika ressalta que, “em primeiro lugar, a pessoa deve aceitar que possui uma alteração de fala,que se chama gagueira (em alguns casos é necessário também um acompanhamento psicológico) e, em cima da aceitação, vamos trabalhar o resto, ensinar a falar de uma outra forma, por exemplo”.

O apoio à criança gaga é fundamental!!! Todos os envolvidos (família, escola, profissionais) devem ajudar e conversar com a criança de forma a reforçar o seu novo padrão de fala. De nada adianta ela ficar uma hora por semana em terapia com o profissional e nos outros ambientes não realizar as técnicas necessárias. “Por exemplo, na escola, eu não tenho como mudar a fala dos colegas, mas eu posso orientar a professora como ela deve agir durante o momento da disfluência da criança. Lembrando que cada criança é única. Para cada uma vamos trabalhar de uma forma”.

Se você tem dúvidas sobre o seu filho, procure, imediatamente, um fonoaudiólogo que possa avaliá-lo. E, caso constate a gagueira, comece o tratamento o quanto antes!

 

DICA DE FILME

Para quem gosta de filmes, indico “O Discurso do Rei”, que, em 2011, foi indicado ao Oscar em 12 categorias e venceu em quatro (melhor filme, melhor ator, melhor diretor e melhor roteiro original). Ele conta a história do Príncipe Albert, da Inglaterra, que deve ascender ao trono como Rei George VI, mas ele tem um problema de fala. Sabendo que o país precisa que seu marido seja capaz de se comunicar perfeitamente, Elizabeth contrata Lionel Logue, um ator australiano e fonoaudiólogo, para ajudar o Príncipe a superar a gagueira. Uma extraordinária amizade desenvolve-se entre os dois homens, e Logue usa meios não convencionais para ensinar o monarca a falar com segurança.

Imperdível!!!

 

Esse é um tema muito extenso, então, se você quer saber algo específico, escreva para nós que responderemos: carolina.canalinfantil@gmail.com

 

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