É muito comum ouvirmos frases como estas: meu filho é muito inteligente; minha filha é super calma; meu filho é muito nervoso; minha filha é muito chorona e por aí vai! E, para piorar, não são apenas os pais que falam isso, mas familiares, amigos e até a escola! O que muitos não sabem é que um simples apelido ou característica repetida várias vezes pode criar os tão perigosos rótulos!

Conversei com a Tamira Viana (da Entre Nós mães e pais, São Paulo), psicóloga, coach de mães e pais e educadora em Disciplina Positiva, certificada pela Positive Discipline Association, que explicou tudo sobre rótulos na infância!

Tamira Viana

Cabe destacar que rótulos “são estereótipos, características que são tomadas como verdade pelos pais ou principais cuidadores da criança e, consequentemente, são tomadas como verdade também pela criança, impactando em seu desenvolvimento e na construção da sua autoimagem”, afirma Tamira.

Muitos pais acham que rotular a criança pode trazer benefícios. Mas Tamira explica que não é bem assim! “Muitos pais acreditam que se disserem, repetidas vezes, que as crianças são boazinhas, inteligentes ou calmas, isso fará com que sejam; o que num primeiro momento pode parecer positivo. Porém, todos nós, inclusive as crianças, podemos ser muitas coisas, e quando a criança recebe o rótulo, qualquer que seja, isso faz com que ela entenda que só pode responder daquela forma às situações do mundo, mesmo quando a situação pede outras ações. Então, a criança acaba ficando aprisionada e sofrendo a pressão de ser sempre boazinha, calma ou inteligente. Muitos adultos acabam gastando muita energia para conseguir se posicionar diferente e mostrar para si mesmos e para o mundo que também são nervosos ou agitados, por exemplo, e que isso não é necessariamente um problema”, alerta a psicóloga.

É muito importante os pais estarem atentos aos riscos de se rotular uma criança! “Quando os pais ou professores rotulam, eles podem se tornar ‘surdos’ ou ‘cegos’ para algumas necessidades das crianças. Por exemplo, se uma criança é rotulada como ‘chorona’, qualquer choro poderá ser desconsiderado ou não levado a sério. Então, não se olha verdadeiramente para essa criança que chora”, destaca Tamira.

E mais, papais e mamães, rótulos colocados na infância podem nos acompanhar por toda a vida! Como afirma Tamira, “irá exigir um grande esforço para nos libertarmos deles”.

Para uma infância saudável e equilibrada, os pais devem sempre focar na ação da criança e não na criança em si. Como ressalta Tamira, “o cuidado principal é tentar descrever as situações ou os comportamentos ao invés de rotular a criança. Alguns exemplos que podem ser aplicados: é muito melhor dizer ‘tem muitos brinquedos espalhados pelo chão’ do que ‘você é muito bagunceiro’. Percebem a diferença? Em um estamos descrevendo o fato, no outro estamos determinando que a criança é bagunceira”.

Não basta evitar os rótulos somente dentro de casa. Na escola, local em que a criança passa boa parte do tempo, eles também não devem acontecer! Tamira explica que “o que podemos fazer é explicar para os professores sobre os perigos dos rótulos e compartilhar isso também com os alunos. Dentro de casa, podemos conversar sempre com as crianças, explicando que ela não é somente aquilo que estão dizendo que ela é e demonstrar, com exemplos, como ela também pode ser diferente daquilo”.

Um alerta: se a criança já possui um rótulo “e isso está atrapalhando a vida dela, seu desenvolvimento e suas relações, pode ser importante procurar uma ajuda profissional”! Os pais devem estar atentos a qualquer mudança de comportamento. Muitas vezes, a criança se torna introspectiva, nervosa e pode até desenvolver uma depressão! Não hesitem em procurar ajuda o quanto antes!

Uma dica que a Tamira dá para todos os pais (e para qualquer pessoa) é “NÃO ROTULAR! É importante observar que os rótulos também são interpretações dos adultos para as situações. Uma criança teimosa em uma família, pode ser considerada determinada em outra, por exemplo. Então, além do rótulo ser prejudicial para a criança, ele realmente não reflete a ‘verdade’ sobre aquela criança, mas apenas o ponto de vista daquele adulto”.

É isso, papais e mamães! Esqueçam os rótulos! Tratem seus filhos como crianças! Elogiem, ponham limites, mas sempre focando na situação e não na criança! Crescer de forma saudável é fundamental para uma vida adulta feliz!

 

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