Desde o nascimento do bebê, os pais começam a contar os dias para o bebê começar a rolar, assentar, balbuciar as primeiras palavras, andar etc. Os marcos do desenvolvimento são vários, porém, é muito importante lembrar que cada criança é única! O desenvolvimento de uma criança é diferente do da outra. Não se pode comparar! Umas andam mais rápido, outras falam mais rápido… E isso é super normal!

Conversei com o neuropediatra, Dr. Márcio Moreira Mendonça (Belo Horizonte, MG), que explicou tudo sobre o desenvolvimento infantil!

“Primeiramente, é preciso ter em mente que existe uma variação normal das etapas de aquisições motoras, cognitivas, de linguagem e na interação social e afetiva das crianças. O desenvolvimento e as mudanças ocorrem mais rapidamente no primeiro ano de vida, quando o bebê passa da posição horizontal para a vertical. A velocidade e a qualidade do desenvolvimento dependem de fatores genéticos e do ambiente, podendo haver comprometimento por carência de estímulos, de afeto, desnutrição e doenças em geral. O atraso maior em algumas etapas ou em várias etapas, além de sinais ou sintomas anormais, podem indicar a presença de alguma doença neurológica”, explica Dr. Márcio.

Segundo o neuropediatra, o desenvolvimento ocorre da seguinte forma:

– PRIMEIRO TRIMESTRE DE VIDA – o lactente ainda apresenta uma hipotonia fisiológica do tronco e do pescoço (mais molinho) e uma hipertonia dos membros (mais flexionados).

– A PARTIR DO TERCEIRO MÊS – o tônus do tronco e do pescoço aumenta e os membros já estarão mais estendidos. A criança começa a levar as mãos à boca, encontrar uma mão com a outra e mais tarde pegar objetos, levando-os à boca. Com melhor controle da cabeça/pescoço, o bebê acompanha melhor com o olhar, sorri, ‘conversa’ (lalação) e reage a sons.

– SEGUNDO TRIMESTRE – a criança já estará virando de lado, rolando depois do quarto mês; com cinco meses fica sentada com apoio, começa a gargalhar e com seis meses leva os pés à boca e começa a ficar sentada sem apoio.

– TERCEIRO TRIMESTRE – a criança passará para a posição de ‘gato’ e as reações de proteção para os lados e para frente já devem estar presentes no nono mês. Também a partir do nono mês, o lactente já estará começando a engatinhar, ficar de joelhos  e, depois do décimo mês, passará da posição ajoelhada para a de pé, ficando em pé com apoio.

– EM TORNO DE UM ANO – a criança começa a andar sem apoio. Mas existe uma grande variação individual, com algumas crianças andando com 9 meses e outras com 15 meses, o que é considerado normal, dependendo do caso.

Em relação à fala, a variação é ainda maior. Algumas crianças falam as primeiras palavras com menos de um ano de idade e aumentam rapidamente o vocabulário; outras falam mais tardiamente, depois dos dois anos de idade, com progressos mais lentos. Em relação à linguagem, é necessário levar em consideração os fatores constitucionais, sendo necessário verificar o comportamento afetivo, a inteligência e a compreensão das palavras, além do desenvolvimento global”.

Existem muitos atrasos que são considerados normais. Dr. Márcio ressalta que “um atraso leve no desenvolvimento motor pode ser considerado normal ou uma variação da normalidade, caso não exista relato de problemas na gestação e período perinatal e neonatal, nem histórico de doenças. Uma criança pode ser mais hipotônica (molinha), principalmente os membros inferiores, sem significar uma patologia. Crianças com hipotonia benigna têm atraso motor, mas são inteligentes, sem outros sinais de comprometimento neurológico. Mesmo assim se beneficiam de tratamento fisioterápico. Em relação à fala, são muito comuns os atrasos, na maioria das vezes constitucionais, sem necessidade de tratamento, quase sempre melhorando com a escolarização mais precoce”.

Os pais, ansiosos que são, querem que os filhos façam tudo rapidamente. Infelizmente, vivemos em uma sociedade onde a comparação é feita quase que diariamente. Compara-se o filho com qualquer outra criança da mesma idade. Se o seu filho ainda não anda, mas o da sua amiga, que tem a mesma idade, já está andando, vira um problema. E aí é que os pais cometem erros! Querem estimular, muitas vezes, além da conta.

Dr. Márcio alerta para os cuidados na hora de realizar estímulos no bebê: “devemos levar em consideração a idade cronológica, respeitando as etapas do desenvolvimento sensório-motor. A criança pode ser estimulada com o objetivo de facilitar as aquisições subsequentes, havendo a necessidade de que ela já tenha vencido etapas anteriores. Deve ser respeitado o ritmo de cada criança, sem causar estresse. Os bebês precisam de bom sono, descanso; evitando excesso de estímulo e excitação. O mais importante é não superproteger, deixar a criança mais livre, deixar que ela explore os objetos e o ambiente e, principalmente, que ela brinque bastante”.

Como já falei aqui no Canal Infantil, o brincar é essencial para o desenvolvimento! “As crianças adquirem várias habilidades ao brincar, seja com os pais e familiares, seja com outras crianças ou sozinhas com objetos simples. Ao brincar, elas aprendem explorando o ambiente, por meio do tato, da visão e dos outros sentidos. Ao mesmo tempo, a criança trabalha as relações socioafetivas, as regras de jogos e de convivência, estimulam a imaginação e a criatividade. O brincar também pode ser um momento de prazer para a criança e seus familiares, ajudando no estabelecimento de vínculos afetivos e na boa formação do caráter e da personalidade”, ressalta o neuropediatra.

E fiquem atentos, papais e mamães, “nos primeiros cinco anos de vida e antes dos dois anos, principalmente, ocorre um maior crescimento do número de células (neurônios), das conexões, das estruturas e dos circuitos cerebrais. As conexões entre os neurônios (sinapses), feitas por meio de impulsos elétricos, desenvolvem-se rapidamente e em grande quantidade no primeiro e no segundo ano de vida.

O cérebro amadurece, é o fenômeno chamado de mielinização. E essas modificações que ocorrem no cérebro são influenciadas pelas experiências (estímulos). Daí a importância do incentivo no processo de aprendizagem nesse período da vida da criança, pois o cérebro estará mais ‘sensível’ à estimulação”, alerta Dr. Márcio.

Então, papais e mamães, caso haja qualquer atraso no seu filho, mesmo que você não tenha certeza se há ou não uma questão neurológica envolvida, procure um neuropediatra o quanto antes. O Dr. Márcio explica que “quanto antes iniciar um tratamento, melhor será o resultado. Se a criança tem histórico de problemas importantes no período neonatal, se o parto foi prematuro, se houve sofrimento neurológico e se já existe um déficit neurológico diagnosticado, a intervenção deve ser feita o mais precocemente possível, às vezes, até mesmo antes de ser observada alguma alteração no exame físico. O cérebro da criança responderá com recuperação na mesma medida em que for estimulado.

Havendo lesão, as áreas normais do cérebro podem assumir a função de áreas comprometidas. Além disso, o cérebro da criança tem uma grande capacidade de recuperação (plasticidade), que é maior nos primeiros anos de vidas”.

Independente de diagnósticos, o mais importante de tudo na hora de estimular a criança, segundo Dr. Márcio, “é, primeiramente, amar muito os filhos! Ter bastante carinho e atenção! Brincar bastante com os filhos, não superproteger, dar liberdade, com vigilância. Atender quando estiver chorando, colocar limites, dizer não sempre que necessário e sim sempre que possível. Estar presente em todos os momentos importantes. O resto fica por conta da mãe natureza”.

 

Quer saber mais sobre o desenvolvimento do bebê? Escreva para: carolina.canalinfantil@gmail.com

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