Na última sexta-feira, dia 06/10, fui convidada pela Clínica Sentidos (Belo Horizonte, MG) para assistir a uma palestra sobre psicologia comportamental infantil e a importância da reabilitação na terapia de pais de crianças com necessidades especiais, ministrada pela psicóloga e especialista em Terapia Comportamental Pollyanna Abreu.

Isabela Campos, Raquel Leite, Pollyanna Abreu e Renata Lerman (fundadoras da Clínica Sentidos com a psicóloga)

Para começar, é importante entender o que é psicoterapia. Segundo o “pai” da psicologia comportamental, B. F. Skinner, é um processo de aumento do autoconhecimento, ou seja, promove um maior desenvolvimento da percepção que o indivíduo tem de si mesmo, de seus comportamentos, pensamentos e sentimentos. Como explica Pollyanna, todo sentimento, ação, pensamento, comportamento é parte do comportamento humano.

É fundamental ter em mente que, para que haja sucesso na terapia infantil, quase sempre, é necessário envolver os pais no processo terapêutico das crianças, pois são eles que percebem as principais queixas, observam os acontecimentos. A escola também é importante nesse processo.  Pollyanna afirma que “o comportamento infantil adequado ou não é resultado das interseções do organismo infantil com variáveis históricas e ambientais, sendo que as contingências ambientais familiares são responsáveis pela manutenção dessas interseções”. O contexto social em que se vive é muito importante! Muitas vezes, a questão maior do problema pode estar com os próprios pais; no entanto, se eles são parte do obstáculo, também podem fazer parte da solução!

Destaca-se que, entre os objetivos da terapia comportamental infantil estão “ajudar a criança a reconhecer seu comportamento, levar a criança a lidar com variáveis que afetam seu comportamento e aumentar a probabilidade de ocorrência de comportamentos que garantam à criança maior número de reforços positivos”, afirma a psicóloga. Muitas vezes, isso pode não ser possível, pois a criança é muito pequena ou tem algum déficit, por exemplo.

Como falado, os pais têm papel fundamental na vida dos filhos. Pollyanna ressalta que, para se realizar a reabilitação na terapia de pais é importante que o profissional leve em conta inúmeros detalhes, entre eles: o estresse e sobrecarga (principalmente da mãe), a culpa excessiva (é preciso olhar para a mãe com carinho), a relação conjugal, a história de vida da família, entre outros. “Vale lembrar que, os pais de um filho com deficiência têm uma sobrecarga muito maior”, afirma.

Porém, muitas vezes, os pais não sabem como enfrentar a situação diante de um filho com uma deficiência ou não estão abertos para um diálogo sobre o assunto. Pollyanna destaca que os principais obstáculos encontrados pelo terapeuta são:

– ter uma equipe desalinhada (como todo e qualquer trabalho, a reabilitação precisa ser feita em equipe, ou seja, todos os profissionais envolvidos precisam se comunicar);

– o anúncio da situação da saúde da criança não foi realizado conforme as necessidades da família (muitos médicos falam com os pais de forma inadequada, sem carinho);

– a incompreensão do estado de saúde da criança dificulta o cuidado que deve ser prestado a ela pela família (em alguns casos, o filho evolui bem, mas os pais não conseguem elogiá-lo; em outros, a família não olha para a criança e enxerga como ela realmente é);

– as famílias desconhecem os direitos das crianças com necessidades especiais;

– mecanismos de defesa e resistência de alguns integrantes da família (a aceitação é importante);

– modificação intensa de hábitos (os pais passam a deixar de fazer muitas coisas);

– falta de uma rede de apoio aos pais;

– a sobrecarga e o estresse que atingem os pais;

– e o mais difícil de trabalhar, destaca Pollyana, é quando a criança não condiz com o filho que foi idealizado.

Infelizmente, muitos pais, sonham com o filho perfeito! Mas, temos que lembrar sempre que ninguém é perfeito e nem uma criança é igual à outra! Não estou falando que é fácil cuidar de uma criança com alguma limitação ou com várias limitações, mas amar e aceitar o seu filho é fundamental para que ele se desenvolva. Muitas vezes, o desenvolvimento é pequeno, muito pequeno, mas deve ser comemorado como uma grande vitória!

Pollyanna afirmou ainda que, “o tratamento dos pais é importante. Os pais de crianças com paralisia cerebral, por exemplo, apresentam níveis de estresse maiores do que os de crianças sem deficiência. Os problemas de comportamento, os distúrbios psicológicos e emocionais das crianças são os fatores mais comuns associados aos maiores níveis de estresse. Outro fator agravante é o comportamento inadequado da criança, como desobediência, agressividade, baixa interação social”.

Para que se consiga reduzir os níveis de estresse parenteral é importante a terapia individual do adulto (pai e mãe) e a terapia infantil com orientação e treinamento dos pais. Ressalta a psicóloga que “a terapia do adulto tem como principais objetivos reduzir as dificuldades emocionais dos pais e, indiretamente, o comportamento da criança; além de trazer satisfação com o papel de pai/mãe; o bom funcionamento familiar; o vínculo afetivo entre pai/mãe/filho. Já a infantil, busca, por meio da intervenção nas formas de relacionamento entre os pais e os filhos, proporcionar interações positivas, evitar o uso de punições e desgaste emocional”.

Os resultados esperados das terapias, segundo Pollyanna, são a mudança de comportamento dos pais (o que afeta positivamente o comportamento da criança), modificação no estado emocional da mãe (redução do estresse) e aumento da qualidade de vida. “Afinal, os pais participam mais da vida dos filhos, desenvolvem uma atitude compreensiva e um estilo de comunicação mais eficiente”, ressalta.

Foto do evento

Quer saber mais: carolina.canalinfantil@gmail.com