Para fechar a semana da Síndrome de Down, o Canal Infantil resolveu publicar mais uma matéria sobre o assunto. Quem acompanhou o blog esta semana viu que tanto a matéria de segunda-feira, com o neuropediatra Dr. Márcio Moreira Mendonça, como a do dia 21 de março, com a Mariana Fernandes, mãe do Antônio, falaram sobre a importância das terapias na vida de uma criança com Síndrome de Down. Mariana, inclusive, relata como é o dia a dia de terapias do Antônio.

Por isso, entrevistei três profissionais: Raquel Leite Godoy (terapeuta ocupacional), Renata Lerman (fonoaudióloga) e Isabela Campos (fisioterapeuta), que são sócias fundadoras da Clínica Sentidos, em Belo Horizonte. O objetivo desta matéria é mostrar para vocês um pouquinho dessas terapias e como elas atuam na vida dessas crianças.

TERAPIA OCUPACIONAL

A terapia ocupacional, como explica Raquel, “tem o objetivo de estimular todos os aspectos: visuais, auditivos, motores, cognitivos, sensoriais e pedagógicos por meio do brincar e das vivências relacionadas com o dia a dia (atividades de vida diária e vida pratica). Ela visa favorecer a funcionalidade, independência e autonomia da criança no contexto escolar, social, lazer e outros espaços”.

É muito importante que o terapeuta ocupacional “esteja familiarizado com as etapas do desenvolvimento humano, suas sequências, funções e habilidades e, assim, possa relacionar com as necessidades da criança no contexto saúde e disfunção”, ressalta Raquel.

“A intervenção pode se dar por meio de atividades lúdicas, com o objetivo de favorecer habilidades motoras fina (preensão e pega no lápis, uso da tesoura e cola, colorir e desenhar), postura adequada, compreensão e raciocínio, atenção, memória, organização tempo/espaço, esquema corporal, coordenação viso motora (cópia de quadro), lateralidade, autonomia, compreensão de regras e limites, solução de problemas  e socialização”, relata  Raquel.

Segundo a terapeuta ocupacional, “na maioria dos casos, as crianças com Síndrome de Down apresentam dificuldades de brincar. Devemos, então, fornecer e/ou manter o auxílio da postura; promover estratégias que facilitem a participação; criar situações que a criança possa experimentar, planejar, agir, brincar”. Sendo assim, utilizar-se da forma lúdica durante as sessões é fundamental! A terapeuta ocupacional explica que “o brincar é de suma importância, pois é a partir daí que a criança irá desenvolver suas capacidades motora, verbal e cognitiva. O brincar permite que a criança aja sobre o mundo e possa modificá-lo, experimentar novos desafios, solucionar problemas, interagir com o outro, aprender e executar funções”.

Como qualquer terapia, “o tratamento precoce com a terapia ocupacional (primeiros meses de vida) é indicado como uma maneira de ampliar a interação da criança com o ambiente, obtendo respostas motoras e sociais significativas. Quanto mais cedo a criança iniciar a terapia, maior será o seu desenvolvimento. Além disso, o terapeuta ocupacional tem o papel fundamental de facilitador e deve desempenhar a função de auxiliar a família a encontrar possibilidades de cuidar, manusear e estimular o filho adequadamente”, afirma Raquel.

Vale lembrar que a família precisa caminhar junto para ajudar a criança! De nada adianta ter sessões de terapia se os estímulos não continuarem fora das sessões. E mais, Raquel destaca que “a família desempenha um papel importantíssimo no desenvolvimento das crianças com Síndrome de Down. Quanto mais informações atualizadas a família possuir, mais a criança terá suas potencialidades aproveitadas. A família é nossa parceira no processo terapêutico”. A transparência entre família e profissionais é essencial!

O tratamento é indispensável! Porém, muitos pais ficam aflitos para saber quanto tempo o filho fará terapias. “Levando em consideração as diferenças individuais, tais como experiências pessoais da criança e os fatores genéticos, o tempo de tratamento e os objetivos variam para cada individuo. Como a terapia ocupacional trabalha com demandas específicas de cada indivíduo e do cotidiano, podemos acompanhar até a vida adulta”.

Como Raquel alertou, é importante que a criança tenha os estímulos em todos os ambientes. Para isso, “no ambiente escolar, a terapia ocupacional tem função importantíssima como facilitadora e mediadora, favorecendo um melhor desenvolvimento cognitivo da criança com Síndrome de Down”, explica a terapeuta.

“Compreende-se que, a partir do momento que a criança tem autonomia, independência, compreende regras, verbaliza, tem noções de conceitos básicos, ela se sente muito mais segura e, consequentemente, mais inserida na sociedade. A terapia ocupacional tem essa importante e feliz missão a cumprir com as crianças e futuros adultos com Síndrome de Down”, destaca Raquel.

As profissionais Renata, Isabela e Raquel com uma de suas pacientes.

FONOAUDIOLOGIA

É comum o atraso no desenvolvimento da fala em crianças com Síndrome de Down, por isso sessões com fonoaudiólogo são essenciais. Renata destaca que, “o atraso da fala, na maioria das vezes, deve-se a vários fatores sensoriais e motores fundamentais para o desenvolvimento dessa habilidade, como, por exemplo, a hipotonia muscular, a dificuldade articulatória e respiratória, entre outros. Esse desenvolvimento gera bastante ansiedade nas famílias, pois a comunicação fica prejudicada uma vez que eles costumam compreender muito mais do que conseguem articular”.

É importante ressaltar, como afirma Renata, “que cada criança é uma e que o desenvolvimento e prognósticos são únicos! Assim, devem ser avaliados e tratados por equipe multidisciplinar desde o nascimento. A Síndrome de Down pode ocorrer associada ou não a outros diagnósticos, o que também vai influenciar no desenvolvimento do indivíduo”.

O trabalho do fonoaudiólogo é bem completo. Renata explica que, “na fonoaudiologia, na minha opinião, deve ser trabalhado fortalecimento e posicionamento da musculatura orofacial, funções estomatognáticas como sucção,  respiração, deglutição, mastigação, articulação, fala em seus aspectos sensoriais e motores e de acordo com o desenvolvimento da criança”.

Além disso, “a linguagem também deve ser estimulada desde bebê, já que esperamos que o bebê, desde o nascimento, mesmo sem entender muito sobre o mundo, já faça conexões com a família. E estas são fundamentais para o seu desenvolvimento”, diz Renata.

Outros pontos também podem ser trabalhados. Renata cita “a comunicação, de forma geral; coordenação motora; coordenação olho/mão/boca; sincronia sucção/respiração/deglutição; atenção; postura; memória; processamento sensorial; organização temporal; fonética e fonologia; dentre muitos outros”.

O que muitos pais não sabem é que o fonoaudiólogo também “participa da introdução alimentar e desenvolvimento da função, orientando e oferecendo estímulos e adaptações necessárias para um melhor desempenho como, por exemplo, escolha e uso adequado de utensílios: colheres, canudos, copos”, explica Renata.

O tempo de duração do tratamento é imprevisível! Renata afirma que “algumas crianças apresentam também dificuldades de aprendizagem, alfabetização e socialização, que devem ser trabalhadas adequadamente por profissionais capacitados em parceria com a família. Portanto, não existe um tempo específico que essas crianças ficam em terapia, depende muito de cada caso. Normalmente, os tratamentos são longos e podem se estender até a vida adulta, dependendo do caso”.

Mas, o mais importante é que “a medida que as crianças vão crescendo, as exigências aumentam, os exercícios, as orientações e as terapias também, porém, sempre pensando no desenvolvimento e na qualidade de vida daquela criança”, ressalta a fonoaudióloga!

E Renata faz um alerta para os pais: “invistam na criança e nunca subestimem ou desacreditem dela! Vocês vão se surpreender! Porque, apesar das diferenças, elas são capazes de sentir, amar, aprender, divertir, trabalhar e serem únicas, construindo a sua história de forma pura e feliz”!

Renata ainda destaca um texto que a acompanha na busca profissional diária: “li um texto maravilhoso em um livro do Dr. Zan, que fala que a descoberta é como uma viagem que você está planejando para um lugar e, de repente, você chega em outro, assim, sem mais nem menos. E isso não é ruim, é apenas diferente… Você precisa replanejar e redescobrir esse lugar e, muitas vezes, dedicar-se e empenhar-se para que a sua viagem seja maravilhosa”!

As profissionais Isabela, Renata e Raquel com uma de suas pacientes.

FISIOTERAPIA

Muitos pais, desde o nascimento do bebê com Síndrome de Down, observam uma fraqueza na musculatura da criança. Isabela afirma que “crianças com Síndrome de Down apresentam, como uma de suas características principais, a hipotonia muscular e a frouxidão ligamentar. A hipotonia é uma diminuição do tônus muscular associado a uma fraqueza da musculatura, isso faz com que a criança seja mais ‘molinha’. Com isso, os bebês com Síndrome de Down tendem a se movimentar menos e apresentar posturas mais relaxadas e com grandes amplitudes”.

Como uma das principais terapias para crianças com Síndrome de Down, “a fisioterapia auxilia o desenvolvimento motor da criança, melhora a força muscular, facilita a realização dos movimentos em posturas mais adequadas, aprimora o condicionamento físico, auxilia no planejamento motor e acelera na aquisição dos marcos motores do desenvolvimento”, explica Isabela.

É importante que, desde o nascimento, o bebê seja avaliado e comece as sessões de fisioterapia. Segundo Isabela, “a fisioterapia pediátrica é fundamental durante toda a fase de desenvolvimento da criança e o acompanhamento deve acontecer até que ela adquira todas as habilidades do desenvolvimento motor com qualidade”. Além disso, “com os exercícios e o estímulo adequados desde o início, ajuda muito para que a criança consiga realizar todas as habilidades motoras de forma mais rápida e com maior qualidade (ex: sustentar o pescoço, rolar, sentar-se, arrastar-se, engatinhar, ficar em pé e andar), minimizando os efeitos motores da Síndrome de Down”, ressalta a fisioterapeuta.

Como se trata de crianças, “o trabalho terapêutico nas sessões deve ser lúdico, estimulando que a criança realize, com a maior autonomia possível, todas as habilidades. Nas sessões são realizados exercícios compatíveis com cada etapa do desenvolvimento, visando sempre o ganho de força, o alinhamento, a coordenação motora e a independência. A atividade será realizada várias vezes para facilitar o processo de aprendizado”, explica Isabela.

Um conselho muito importante que Isabela dá para os papais que acabaram de descobrir que os filhos têm Síndrome de Down é: “busquem informações, estimulem e, acima de tudo, acreditem no potencial de seus filhos. Vocês irão se surpreender diariamente com seus pequenos! É importante ressaltar que a criança com trissomia 21 conseguirá exercer todas as atividades normalmente, mas exigirá um maior incentivo por parte dos pais e também de profissionais. Lembrando sempre que cada criança é única e que o tempo de resposta pode variar e deve ser respeitado. Quanto mais cedo os pais procurarem o auxílio terapêutico, melhor será a evolução da criança e mais rápido o seu desenvolvimento”.

É isso, papais e mamães! Ter um filho com Síndrome de Down requer alguns estímulos a mais, um pouco mais de trabalho, mas é uma criança como outra qualquer! Que chora, ri, tem sentimentos, vontades, faz manha, brinca… É uma criança normal, apenas diferente em alguns pontos, como qualquer um de nós! Somos todos diferentes!

*As fotos foram cedidas e autorizadas pelas profissionais entrevistadas.

Dúvidas ou sugestão de matérias, escreva para: carolina.canalinfantil@gmail.com

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