Que tal uma dica de livro para os adolescentes? Como aprender Física e ainda se divertir muito? Hoje vou falar sobre o livro “Como enlouquecer seu professor de Física”, da Editora do Brasil.
Escrito por Elika Takimoto e ilustrado por Ana Matsusaki, o livro conta a história de Inácio, um professor comum que dava aula de Física, e Hideo, um aluno inteligente que começou a enrolar o professor para que ele não passasse o conteúdo das aulas. Porém, esse encontro vai gerar uma reviravolta na Física ensinada por Inácio! É impossível ler o livro e continuar com aquela visão da Física ensinada nas escolas.
Elika, além de escritora, é professora de Física do Cefet-RJ, doutora em Filosofia, mestre em História das Ciências e Técnicas e Epistemologia pela UFRJ e vencedora do Prêmio Saraiva Literatura na categoria juvenil (crônica). Conversei com a autora para entender como surgiu a ideia do “Como enlouquecer seu professor de Física”.
“Fiz um curso de física de partículas do CERN, o maior laboratório de física do mundo, que fica na fronteira entre França e Suíça. Quando voltei, meu filho caçula, que na época tinha oito anos, me bombardeou de perguntas. O que você foi fazer lá? Por que para estudar algo tão pequeno precisa de um laboratório tão grande? Você viu a menor partícula? Se não conseguimos ver as nossas menores partes como é que ficamos visíveis? Se um grão de areia nada pesa, a partir de qual grão um saco de areia começa a ficar pesado?… perguntinhas como essas. Percebi que em grande parte as perguntas que Yuki me fazia eram as mesmas que os cientistas do CERN estavam pesquisando. Procurei livros sobre o tema para ele. Nada encontrei. E a conversa com Yuki foi tão bacana que havia registrado nossos diálogos. Daí, resolvi usar essas anotações e fazer Isaac no Mundo das Partículas”, explica Elika.
Durante toda a nossa vida, temos a presença da Física, porém não a percebemos. Física é uma matéria que pode ser ensinada para qualquer criança. A partir do momento que ela começa a questionar, os pais já conseguem abordar alguns temas.
Quando a Física começa a ser trabalhada nas escolas, uma grande parte dos alunos, consideram-na uma matéria chata e difícil. Mas, segundo Elika, ela pode ser uma das mais interessantes de se estudar. “A Física ensinada nas escolas, em sua grande maioria, é uma Física desconectada da realidade, com o enfoque na resolução de problemas. Não se contextualiza as teorias. Tudo o que foi descoberto foi fruto de um contexto histórico e esse contexto, nem de longe, é mencionado nas aulas. Fora isso, não existe física sem filosofia. O que é massa? O que é tempo? O que é força? O que é matéria? De onde surgiu a propriedade da inércia? Todas essas perguntas e outras do mesmo nível e até mais profundas são muito debatidas até hoje por grandes filósofos da ciência e foram pensadas por quem elaborou as teorias. Por que isso não é levado para a sala de aula? Por que só ensinamos os alunos e as alunas a darem respostas prontas e não a debater esses temas? Quando a gente dá uma aula com um enfoque histórico-filosófico, a ciência passa a ter uma outra dimensão na cabeça do aluno e da aluna. Não é algo distante. É algo que está dentro da nossa cabeça. O problemas está na metodologia usada e no enfoque que é priorizado pelas escolas”, destaca a autora.
Viram? A Física pode se tornar algo encantador, basta apenas mudar a forma de enxergá-la! Como destaca Elika, “a parte mais legal de se entender Física é saber que se trata de um conhecimento tão criativo quanto a arte. Não existe diferença entre ciências humanas e exatas. Todas as ciências são humanas e nascem de um processo criativo”.
Explicar Física em uma sala de aula de adolescentes pode não ser tão simples! Dar aula é um desafio, um aprendizado. Mas Elika consegue transformar uma simples aula em um momento prazeroso e de muito conhecimento: ela faz os alunos pensarem! “O maior desafio de dar aula para adolescentes é fazê-los perguntar. Nas minhas aulas, nas minhas provas, o uso do celular é permitido, por exemplo. Uma coisa é ter informação. Isso obtemos nos sites de busca. Outra é saber pensar em cima do que está sendo informado. O modelo que temos de ensino adestra a mente para resolver aquele determinado tipo de exercício. Quando peço para o aluno fazer perguntas e não dar respostas, eles estranham. Têm medo. Já foram moldados para caber numa caixa. O meu maior desafio é mostrar para eles e para elas que cabemos em caixas de infinitos formatos”, ensina Elika.
Para ela, a melhor forma de envolver os alunos em uma aula “é fazendo-os elaborar perguntas. Responder é mole. Decora a resposta e escreve o que está sendo perguntado. Isso não quer dizer que se aprendeu algo. Quando falamos algo com alguém e esse faz uma pergunta na qual não havíamos pensado, essa é a prova de que a pessoa está prestando atenção no que está sendo falado. O protagonismo da sala de aula não pode estar em quem detém o conteúdo e sim em quem precisa adquiri-lo. Por isso, quanto mais o aluno ou a aluna falar, mais nós, professores e professoras, conseguimos estimular o caminho da resposta que tem que ser encontrada por quem está aprendendo”.
Elika é um exemplo de professora e também ensina muito por meio de seus livros. “Como enlouquecer seu professor de Física” traz vários conceitos que considerados difíceis para dentro do nosso dia a dia. Nunca foi tão fácil aprender Física e gostar da matéria! Indico para todos os adolescentes e papais!
Elika acredita que o livro vai dar uma outra visão do que venha a ser Física. “Ele não se propõe a dar respostas e sim estimular a curiosidade sobre o tema. Tenho tido um retorno excelente nesse sentido. Pessoas que leram ‘Isaac no Mundo das Partículas’, me disseram que se encheram de perguntas e foram pesquisar para tentar respondê-las. Objetivo alcançado”.
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