Quando devo iniciar os alimentos com o meu filho? Devo dar frutas? Papinhas salgadas? Posso dar qualquer alimento? Essas são algumas perguntas feitas pelos pais antes da tão esperada INTRODUÇÃO ALIMENTAR.

Muitas dúvidas surgem! É super normal! Além disso, como sabemos, os hábitos saudáveis na infância são levados por toda a vida. Então, é muito importante que os pais saibam o que fazer e como fazer.

Já alerto que essa é uma fase diferente para a criança. Digo diferente e não difícil porque muitas se adaptam super bem, outras nem tanto. O ato de comer vai muito além da mastigação; ele passa pelo visual, sensorial, emocional… O Canal Infantil falou sobre isso (confiram).

Mas, para entendermos sobre a introdução alimentar, conversei com a nutricionista, especialista em APLV, Raquel Righi (Belo Horizonte, MG).

Em primeiro lugar, é importante ressaltar que “a introdução alimentar deve ser feita a partir dos seis meses de idade, tanto para bebês que estão em amamentação de leite materno exclusivamente, quanto para bebês que tomam fórmulas”, afirma Raquel. Porém, cada criança é uma! Então, “não existe uma idade certinha. É importante que a mãe consiga perceber os sinais que são dados pelo bebê, mostrando que ele está pronto para receber alimentos. Afinal, estes serão metabolizados de forma diferente, pois possuem outros componentes, moléculas. O ato de assentar, por exemplo, é um dos sinais do corpo que mostra que o bebê está preparado para receber outros alimentos além do leite”, destaca Raquel.

Sobre como iniciar a alimentação, a nutricionista afirma que, “atualmente, começa-se a alimentação dos bebês saudáveis por meio das frutas. Não é preciso dar uma fruta a cada três dias para bebês saudáveis, pode sim misturá-las. Depois, começam as papinhas salgadas. É importante dizer que cada bebê tem o seu tempo; cada bebê vai agir de uma forma. Mas, normalmente, começa uma semana com uma fruta de manhã e na segunda semana com a papinha salgada ou BLW, de acordo com que a mãe desejar, na hora do almoço”.

Para quem não conhece, Raquel explica que “o método BLW é uma alimentação que dá mais autonomia para a criança, pois são oferecidos os pedaços, a criança pega tudo com as próprias mãos e, sozinha, coloca-os na boca”.

Cabe destacar que fruta é diferente de suco! Como assim? “A Sociedade Brasileira de Pediatria preconiza, hoje, que não se dê suco para crianças menores de um ano, devido ao excesso de frutose que vai para o corpo do bebê. O que pode até aumentar a chance de problemas futuros, na idade adulta”, diz Raquel.

“É importantíssimo deixar a criança pegar os alimentos, sentir as texturas! Assim, ela está ‘lendo’ o alimento com as mãos, conhecendo-o. Isso para o desenvolvimento dela e para o bom relacionamento com o alimento na vida futura é fundamental. Deixe a criança pegar a comida, sujar-se, passar no rosto. Lembre-se de que ela está conhecendo; ela não sabe o que é um alimento. Para ela é uma brincadeira. Deixe-a brincar sim com o alimento, na introdução alimentar! Ela precisa disso para reconhecer aquela comida”, alerta Raquel.

Um alerta para os pais! Muitas crianças apresentam alergias, sendo algumas severas. Como mãe de um bebê alérgico, inclusive a traços e a contato (falamos sobre isso aqui), Raquel destaca a importância de uma atenção especial na hora de se fazer a introdução alimentar de bebês com alergia.

“É necessário o acompanhamento de um profissional porque a introdução alimentar é diferente, nesses casos. Deve-se ter cuidado para que os bebês não tenham sensibilidade com novos alimentos”, afirma.

O primeiro ano da criança é muito especial! Além de ela apresentar vários marcos de desenvolvimento como assentar, andar, falar etc.; ela aprende a comer! Sim, comer é ensinado! Por isso, quando os pais iniciam a alimentação, é essencial apresentar vários tipos de alimentos.

Raquel destaca que, “nesse primeiro ano de vida, a criança precisa ser apresentada ao maior número de sabores diferentes. É importante que a mãe não dê para o bebê somente o que ela costuma comer, e sim todos os alimentos. É natural darmos o que gostamos, mas ele precisa conhecer todos os sabores. Um exemplo que sempre falo com as mães é: ‘pode ser que você não goste de jiló, mas o seu filho adore’”.

Para uma melhor e mais saudável alimentação, a nutricionista recomenda que a “papinha salgada contenha um alimento de cada grupo. Deve ter um carboidrato, uma leguminosa, um vegetal, uma proteína. Não é aconselhável que essa papinha seja peneirada ou liquidificada, mas, sim, amassada em forma de purê. No início, pode-se amassar bem, caso a mãe se sinta mais segura dessa forma. Aos poucos, recomendo que vá evoluindo a consistência dessa papinha para pedacinhos”.

O que muitos não sabem é que, por volta dos sete meses de idade, “a criança tem a chamada ‘janela imunológica’ (é como se o sistema imune dela ficasse um pouquinho mais devagar). Então, esse é um momento interessante para se apresentar alimentos potencialmente alergênicos, como ovo e peixe, para o bebê. É como se ele não fosse desenvolver a sensibilidade àquele alimento, neste momento, na maioria dos casos”, afirma Raquel.

A variedade é fundamental quando se fala em alimentação. Porém, alguns alimentos não devem ser dados logo no início. Raquel explica por quê!

MEL – A Organização Mundial da Saúde preconiza que o mel não deve ser dado para o bebê. Motivo: pode conter esporos de botulismo e o intestino do bebê ainda é muito imaturo. Esses esporos podem cair na corrente sanguínea causando problemas sérios. Então, é importante que o mel não seja oferecido.

AÇÚCAR –A Sociedade Brasileira de Pediatria não recomenda o oferecimento de açúcar até os dois anos de idade. Cabe lembrar que a criança não sabe lidar bem com esses paladares, podendo, inclusive, viciar no açúcar. Como o Brasil está virando um país de obesos, precisamos cuidar da saúde desses bebês.

SAL – não deve ser oferecido para criança menor de um ano. A quantidade de sódio que o bebê precisa até um ano, ele já consegue só nos alimentos sem sal. Dar sal antes de um ano, pode aumentar o risco do bebê se tornar um adulto hipertenso, pela sobrecarga renal.

ALIMENTOS PROCESSADOS – Alimentos ultraprocessados, industrializados não devem ser ofertados para o bebê. Inclusive, na fase adulta, também devem ser evitados.

Uma dúvida muito comum é sobre dar ou não ovo para o bebê, afinal, é um alimento que causa muita alergia. A nutricionista explica que “o ovo deve ser dado sim, após os seis meses. E deve ser dado inteiro! Se a mãe estiver com medo ou suspeitar de alergia, aconselho procurar um profissional antes disso. É importante! Tem estudos que mostram que retardar ou não dar o alimento por medo de gerar alergia, aumenta o risco da criança ser alérgica. É importante que a criança tenha contato com os alimentos”.

Raquel alerta que, “os primeiros 1.000 dias de vida do bebê, que vai da gestação aos dois anos, têm uma importância muito grande, pois vão programar ou não geneticamente, de acordo com o que for oferecido para a criança, a possibilidade de ela ter ou não doenças lá na frente. É o que se chama de epigenética, que é a alteração dos genes de acordo com o meio. Isso vai ser dado de acordo com a alimentação da criança”.

Então, papais, vale a pena investir na qualidade da alimentação. “A criança precisar ter uma alimentação saudável com frutas, verduras, legumes, carnes (todos os tipos) de boa qualidade”, afirma Raquel.

Outro cuidado que os pais devem ter é oferecer água ao bebê! A partir da introdução alimentar, a nutricionista explica que é necessário criar o hábito de beber água.

RECUSA ALIMENTAR

Motivo de estresse para os pais é quando a criança para de comer! Não é necessário o desespero! Todas as fases são passageiras. Umas levam mais tempo do que outras, mas todas passam. Porém, se vocês trabalharem com a criança desde cedo, a chance de passar por uma fase difícil de forma tranquila é grande!

Raquel explica que, após um ano, “a criança diminui a quantidade de alimentos que aceita comer. Se a mãe oferece para essa criança uma variedade grande, até um ano, e ela está acostumada a esses sabores, quando diminuir a ingestão, não fará tanta diferença. Agora, se essa criança come três ou quatro alimentos e, de repente, passa a comer apenas um, isso vai fazer diferença na qualidade da alimentação dela, no desenvolvimento. Por isso, é muito importante que a mãe tenha paciência, amor, carinho e dedicação na hora de fazer a introdução alimentar do bebê.

É fundamental saber que aquele tempo é do bebê; é ele quem vai dizer a quantidade que quer comer. É preciso respeitar esse momento. A introdução alimentar não é para nutrir; é para o bebê conhecer os alimentos, conhecer o que é comer. Ele ainda não sabe, está aprendendo! Ele precisa descobrir que comer é bom, é gostoso, é prazeroso.

Um momento tranquilo entre a mãe ou quem for dar esse alimento para o bebê, um ambiente saudável para que o bebê sinta esse aconchego, esse apoio, esse amor é essencial! E, com isso, ele vai desenvolver uma relação saudável com o alimento, podendo ser refletida na vida adulta. Tudo deve ser feito com carinho e amor, desde a escolha dos alimentos, passando pela higienização, até a hora de servir ao bebê”.

Papais e mamães, sei que a introdução alimentar, muitas vezes, causa desespero, estresse, mas é necessário entender que o seu filho está aprendendo a comer! Tenha calma, respire fundo e faça do momento da comida, uma verdadeira diversão e alegria!

Tem dúvidas sobre alimentação? Escreva para: carolina.canalinfantil@gmail.com

Compartilhe nossas matérias e siga o Canal Infantil nas redes sociais Instagram (@canalinfantil) e Facebook (@canalinfantiloficial).