O retorno às aulas é um momento de muita alegria, mas também de muitas dúvidas e preocupações. Será que meu filho vai se adaptar? Qual escola escolher? Será que vão cuidar bem do meu filho? E muitas outras questões.

Publicamos, no último dia 29, algumas dicas para ajudar os pais a escolherem a melhor escola para os filhos (confiram aqui).

Se para alguns pais é fácil escolher uma escola, para outros, pode ser muito trabalhoso. Se o seu filho possui algum tipo de limitação, a dificuldade em encontrar escolas aumenta. Mas, como assim? A educação não é um direito de todos?

Este é um assunto muito importante e sobre o qual recebemos várias perguntas: EDUCAÇÃO INCLUSIVA. O Canal Infantil já publicou uma matéria sobre Educação Especial, para a qual entrevistamos a pedagoga, especialista em educação especial, Chirstianne Mukai. Com o retorno das aulas, decidimos fazer uma nova matéria sobre este tema e entrevistamos a Terapeuta Ocupacional Bárbara Moura (Belo Horizonte, MG).

Em primeiro lugar, a educação inclusiva deve ser vista, como explica Bárbara, “acima de tudo, como uma mudança de paradigma, uma forma de repensar a escola, a sociedade e os espaços, ou seja, educação inclusiva é dar oportunidade de toda e qualquer criança exercer seu direito à escola, inclusive, podendo a família escolher aquela que mais condiz com suas crenças”.

Falar pode parecer fácil, mas vivemos em uma sociedade em que a exclusão é cada vez mais frequente, o preconceito contamina as pessoas. Ter uma educação inclusiva é fundamental para uma sociedade mais igualitária. Como eu sempre digo, todas as crianças são especiais e tem suas qualidades! Uma limitação não pode rotular uma criança.

“Ter uma educação inclusiva de qualidade é o primeiro passo para alcançarmos uma sociedade inclusiva de qualidade. Quando é oportunizado às crianças e adolescentes o convívio com a diversidade, sendo essa de religião, de cor de pele, de classe social, de deficiências, dentre outras, é possível que se tornem adultos mais tolerantes, que respeitam as diferenças, que possam compreender o outro. Com isso, teremos engenheiros que pensam em construções acessíveis, prestadores de serviços que tenham mais presteza com um surdo, um cego, uma pessoa que utiliza dispositivos de mobilidade, um idoso, um autista. Teremos professores que oferecem uma educação mais individualizada, sem medo de lidar com aquele que tem mais dificuldade ou compreender que cada um aprende de uma forma e até certo ponto. Aprender e vivenciar as diversidades desde a infância constrói uma sociedade inclusiva e não só escolas inclusivas”, ressalta Bárbara.

Engana-se quem pensa que educação inclusiva é apenas para crianças com alguma deficiência física, síndrome etc. Como explica a terapeuta ocupacional, “ela é dinâmica, pois todos os dias um aluno necessita ser incluído de alguma forma. É uma criança que chega triste porque os pais estão se separando, então esse professor deverá agir de forma diferente com essa criança; é uma outra que está doente, com uma gripe, ou ainda uma que machucou o pé e tem aula de educação física. Então, essas crianças terão que ser abordadas de formas diferentes e as atividades deverão ser repensadas pelo professor, para que todos participem da melhor forma”.

Vale ressaltar que, “há crianças que precisam de auxílios constantes e mais estruturados para terem condições de dar respostas exigidas para a formação. Pelo Decreto Nº 7.611, de 17 de novembro de 2011, o público alvo da educação inclusiva são pessoas com deficiência (neurológicas, síndromes, malformações, deficiências físicas e sensoriais, etc.); com transtornos globais do desenvolvimento (Autismo Infantil, Síndrome de Asperger, Síndrome de Rett e Transtorno Desintegrativo da Infância); e com altas habilidades ou superdotação”, destaca Bárbara.

O mais importante é o aluno se sentir acolhido e respeitado em suas diferenças. Jamais se deve permitir a exclusão ou falta de atenção no que a criança precisa. Bárbara alerta que “a educação deve ser voltada para o estudante em sua singularidade, ou seja, identificar qual o nível de aprendizagem desse estudante para o professor avançar ou não com os conteúdos, quais as lacunas do aprendizado não foram preenchidas para continuar com a formação”.

Para Bárbara, “as estruturas das salas de aulas não colaboram para uma educação singular, pois são iguais às do século XVIII (o professor à frente, com as mesas enfileiradas), mas vivemos em uma sociedade do século XXI (dinâmica, globalizada, com recursos de tecnologias avançados)”.

Cabe ainda ressaltar que, “nas salas de aulas, temos alunos diversos pois, atualmente, as crianças com algum tipo de deficiência estão ocupando seus lugares na escola. Para isso, temos que ter um ambiente acessível, de todas as formas, arquitetonicamente, atitudinal, instrumental, comunicacional, metodológica e programaticamente; essas crianças precisam de uma escola capacitada para recebê-las. Quando a escola se torna acessível em todas as modalidades, fica mais fácil obter uma educação com mais qualidade e inclusiva. Crianças com diagnósticos semelhantes podem usufruir e se beneficiar de adaptações semelhantes”, explica a terapeuta ocupacional.

Para que os pais possam entender melhor como acontece, Bárbara cita alguns exemplos muito comuns na sociedade:

– Crianças com TEA (transtorno do espectro autista) conseguem oferecer melhores respostas quando é oferecida uma rotina mais estruturada, com antecipação de tarefas, com fotos e/ou ilustrações. Algumas irão precisar de um professor de apoio para ler uma tarefa, repetir um comando, pois a grande maioria apresenta dificuldade com comandos coletivos.

– Crianças com desordens neuromotoras, dependendo do comprometimento, necessitam de rampas de acesso, barras, mesas, cadeiras, instrumentos escolares (lápis, borracha, caneta, apontador etc.) adaptados; algumas também irão precisar de professor de apoio.

– Estudantes com deficiência intelectual precisam de nova estruturação de currículo, alguns vão precisar de reforço escolar, professor de apoio, redução dos conteúdos.

– Quando há transtornos de aprendizados, TDAH, dentre outros, também são necessários recursos diferenciados, com ledores, aumento do tempo de prova, realização da prova fora da sala de aula, permissão de sair mais vezes da sala de aula, dentre outras necessidades.

“O importante é conhecer o estudante, identificar suas habilidades e dificuldades, e não esperar por laudos para que algo seja feito, modificado, facilitado. Seja professor e eduque seu aluno com aquilo que ele é capaz de aprender, e tome cuidado para não duvidar das capacidades desse aluno”, alerta a terapeuta ocupacional.

Estudar é direito da criança! E não só pelo aprendizado, mas também pela socialização. Bárbara destaca que “é importante a criança estar na escola! Primeiro porque é direito dela ocupar esse espaço; além de ser um papel ocupacional fundamental para a criança ser estudante. E não é por ela ter uma limitação que deixará de exercer sua função. A escola é o lugar onde a criança irá exercer a cidadania aprendida em casa. É nesse espaço que se criam laços de amizade, regras, consegue-se criar uma identidade, aprender conteúdos, os quais serão fundamentais para ingresso no mercado de trabalho; aprende rotinas, tem compromissos, socializa e uma infinidades de aprendizados. Então, toda e qualquer criança deve frequentar a escola! Não devemos pensar nesse espaço apenas como detentor de saber, caminho para passar no vestibular, entrar na faculdade, obviamente, é fundamental para tal; mas, sim, um espaço no qual criam-se cidadãos pensantes, éticos, morais e emocionais”.

Dentre os e-mails que recebi, de mães falando sobre a dificuldade de matricular o filho em alguma escola, pude perceber que muitas instituições não aceitam ou dificultam a entrada de alunos com alguma limitação por total falta de preparo em atender aquela criança. Isso é muito triste! As pessoas querem crianças iguais e sem dificuldades. Quanto mais tranquilo, melhor! Mas a vida não é assim!

Para Bárbara, “o desconhecido, normalmente, gera medo, insegurança, fuga; faz com que a nossa imaginação crie o que quiser e, frequentemente, transformamos o desconhecido em grandes monstros. Assim eu vejo a educação inclusiva para as escolas que dificultam tanto o processo. Quando nos abrimos ao desconhecido, capacitamos-nos e o enfrentamos, descobrimos que a educação inclusiva é apaixonante. E percebemos que a educação, para ser de qualidade e oferecer tudo o que a escola é capaz, deve ser inclusiva, pois a escola cria cidadãos. Capacitar, conhecer, aprender é o caminho”.

Para concluir, Bárbara faz um importante alerta: “sempre questiono os pais o seguinte: se o seu filho não tivesse essa dificuldade, em qual escola você queria que ele estudasse? Pois, independente do diagnóstico, é direito da família escolher a escola que quer que a criança estude, e não o contrário, como vemos acontecer. Dependendo da disposição da família, enfrento juntamente com ela, que sua criança frequente a escola de decisão da família. Mas, se esta família não está disposta, eu aconselho ir às escolas, conhecer os espaços, a coordenadora, a provável professora, entender como a escola se prepara para acolher todas as crianças, independentemente de diagnósticos. Conhecer sua criança e refletir qual escola ela se identificará melhor, se já tem algum conhecido na escola. A família também deve se ouvir e perceber o que sente com essa escola, com a equipe, se sentiram-se acolhidos ou não, e testar escolas públicas, particulares (se tiver condições), e, se não der certo, muda e começa de novo, pois a escolha da escola não é definitiva”.

Mamães e papais, sei que não é fácil e, muitas vezes, existe uma falta de vontade por parte das escolas. Mas, jamais desistam! Seu filho é o seu maior bem!

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