Um assunto que muito preocupa os pais é a alergia à proteína do leite de vaca, também conhecida como APLV. Essa alergia é muito séria e deve ser tratada com cuidado e atenção! Muitas pessoas acham que APLV e intolerância à lactose são a mesma coisa. Não! São completamente diferentes.

Para entendermos mais sobre este assunto, conversamos com a Raquel Righi (Belo Horizonte, MG) que, além de nutricionista, conhece de perto o que é uma criança com alergia à proteína do leite: seu filho João Ricardo é alérgico.

Antes de falarmos sobre essa experiência da Raquel, é importante que as pessoas entendam a diferença entre APLV e intolerância à lactose. Como explica a nutricionista, “é muito comum as pessoas confundirem alergia à proteína do leite de vaca com intolerância à lactose. A lactose é um carboidrato presente no leite e a sua intolerância é devida à uma baixa produção, no intestino, da enzima lactase, que quebra a lactose. A alergia à proteína do leite de vaca é uma reação alérgica, mediada por imunoglobulinas que o sistema imune produz”. No caso da intolerância à lactose, Raquel destaca que “as reações são normalmente dores de cabeça, diarreia, gases; porém, não é uma reação mediada pelo sistema imune”. Essa é a grande diferença!

Quando falamos em APLV, como explica Raquel, é importante diferenciarmos os tipos:

“- IgE (imunoglobulina E) mediada – são reações imediatas que aparecem de segundos até duas horas após a ingestão do leite ou derivados. Ela causa urticária (que são placas vermelhas disseminadas, com coceira), angioedemas, inchaço dos lábios, dos olhos; vômitos em jato, pode ser associado com diarreia após a ingestão, anafilaxia (reação alérgica que se desenvolve imediatamente e se não for tratada, pode levar a morte), chiado no peito, respiração difícil, podendo chegar a um quadro de choque anafilático.

– IgE (imunoglobulina E) não mediada – são reações tardias, ou seja, podem aparecer horas ou dias após a ingestão do leite. Tem vômitos tardios, diarreia com ou sem muco e sangue, sangue nas fezes, cólica, irritabilidade, baixo ganho de peso e crescimento, inflamação do intestino, assaduras e até fissuras anais.

– Imediata – quando se tem os sintomas imediatamente após a ingestão;

– Tardia – quando os sintomas vão aparecer até dias depois da ingestão;

– Mista – quando a criança tem os dois tipos de reações. Ela pode apresentar dermatite atópica moderada a grave, que é descamação e ressecamento da pele, com ou sem formação de feridas; refluxo; asma; inflamação do esôfago, do estômago; gastrite; diarreia; vômito; dor abdominal; baixo ganho de peso e crescimento.

Os sintomas vão variar de acordo com o tipo de alergia que a criança tem”.

É importante que os pais saibam que existe risco na alergia à proteína do leite de vaca! Raquel afirma que quando a criança tem IgE mediada, ela pode sofrer um quadro de anafilaxia e levar à morte!

Apesar de preocupante, a APLV tem tratamento e cura! “Essa alergia à proteína do leite de vaca é mais comuns em bebês e tem cura. Cerca de 40% das crianças até um ano são curadas, 60% até dois anos e 95% até três anos”, ressalta Raquel.

TRATAMENTO

Raquel explica que “se a criança está em amamentação, a mãe deve fazer a dieta de exclusão da proteína do leite de vaca. Se a criança já está tomando fórmula, vai passar para uma fórmula extremamente hidrolisada. Porém, se a criança não estabilizar, passa para uma fórmula a base de aminoácidos”.

“Os pais devem procurar ter apoio de um profissional adequado, que dê orientações, como um alergista, um gastropediatra, um pediatra, uma nutricionista. E mais: os profissionais devem trabalhar em conjunto, pois, assim, vão trazer uma melhor qualidade de vida para a criança”, afirma a nutricionista.

Um dos momentos mais difíceis tanto para a mãe quanto para a criança, é durante o tratamento.

A nutricionista Raquel Righi com seu filho João Ricardo

Como mãe de uma criança com APLV, Raquel também teve que readaptar sua vida e rotina. “É muito importante falar para as mães que é um período difícil, de adaptação. Tem crianças que reagem a traços de leite, ou seja, se a mãe comer um alimento que foi feito com leite e conversar com a criança, o traço de leite que está na cavidade oral da mãe pode ser suficiente para desencadear uma reação alérgica na criança. Temos também as reações de contato. Se a criança tem contato com alguém que usou um creme, um sabonete ou algum amaciante ou produto que tenha leite na composição, vai causar uma reação alérgica. Nem todas as crianças têm alergia a traços e a contato, mas isso pode acontecer. Meu filho, João Ricardo, reage a traço e a contato”.

A nutricionista relata que não foi fácil saber que o filho era APLV. “Quando recebemos o diagnóstico, ficamos sem rumo, sem saber o que pensar, o que fazer. Toda mãe deseja que seu filho não tenha nada, não sofra. E uma criança APLV, até o diagnóstico ser feito, ela sofre muito porque sente dor e tem todos os sintomas já falados. Nenhuma mãe quer que seu filho passe por isso! E o diagnóstico, geralmente, é feito a partir do momento em que se exclui a proteína do leite de vaca da alimentação da criança e ela melhora, ou seja, dá-se o diagnóstico de que ela tem uma alergia à proteína do leite de vaca. Foi feito assim com meu filho. Existem testes de provocação oral, em que se dá uma pequena quantidade do leite para a criança, para ver se ela tem a reação imediata. Pode-se fazer também o teste de dosagem de IgE na corrente sanguínea. Mas, Raquel faz um alerta: “até um ano de idade pode dar falso positivo ou falso negativo”.

No caso da criança ser APLV, Raquel destaca “a importância de se pensar no consumo de micronutrientes da mesma, afinal, ela não tem os derivados de leite na dieta. Então, deve-se observar a ingestão de zinco, cromo, cálcio para essa criança”.

Muito se fala no leite de soja quando a criança não pode com o de vaca. No entanto, como destaca Raquel, “em média, 50% das crianças que são alérgicas a leite de vaca vão ser alérgicas à proteína do leite e a Sociedade Brasileira de Pediatria preconiza que não seja usada soja para menores de seis meses”.

Se você está passando por essa situação com seu filho, o mais importante é ficar tranquila e estar disposta a mudar a rotina por ele. Raquel, como mãe de uma criança APLV, faz um apelo: “a família toda precisa estar unida, em comunhão para entender essa mãe que vai passar por momentos difíceis, para ajudar na integração dessa criança alérgica na família e para ajudar a mãe na dieta. Passar tranquilidade para a mãe é fundamental, pois serão momentos complicados, mas que têm cura. Isso vai passar”!

Então, mamães e papais, estejam atentos à alimentação do seu filho e, qualquer suspeita, procurem profissionais qualificados e que possam ajudá-los.

Lembrem-se: APLV tem cura!

 

Se você quer saber mais, escreva para nós: carolina.canalinfantil@gmail.com

 

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