O dia de hoje é muito importante para inúmeras famílias e deveria ser para todas as pessoas: Dia Mundial da Conscientização do Autismo! Ter um filho dentro do espectro autista é a realidade de muitas famílias! Essas crianças precisam ser incluídas pela sociedade e, principalmente, respeitadas e amadas da forma que são. Como eu costumo falar aqui no blog, cada criança é única, com suas semelhanças e suas diferenças. Ser autista é ser apenas diferente!

Para comemorar essa data, conversei com o Dr. Gustavo Teixeira, Médico Psiquiatra Infantil, Co-fundador e Diretor Executivo do CBI OF MIAMI e autor de livros com mais de 200.000 exemplares vendidos. Para quem não conhece, “o Child Behavior Institute of Miami foi criado na Flórida, Estados Unidos, com o objetivo de oferecer consultoria e conhecimento psicoeducacional a familiares, educadores e profissionais da saúde mental infantil em toda a região metropolitana de Miami e sul do Estado da Flórida. Aplicando o conhecimento neurocientífico à educação de estudantes com transtornos escolares, o Child Behavior Institute of Miami chega ao Brasil em parceria com a Gustavo Teixeira Educacional, criada pelo Dr. Gustavo Teixeira, um dos médicos brasileiros mais influentes na área da saúde mental infantil e psicoeducação” (Fonte: www.cbiofmiami.com).

Publico abaixo o texto enviado pelo Dr. Gustavo Teixeira para o Canal Infantil.

Dr. Gustavo Teixeira. Fonte: www.cbiofmiami.com

Dr. Gustavo Teixeira

Os transtornos do espectro autista podem ser definidos como condições comportamentais caracterizadas por prejuízos no desenvolvimento de habilidades sociais, na comunicação, na cognição da criança e com o aparecimento dos sintomas nos primeiros anos de vida.

Essas condições podem se apresentar de diversas formas, compreendendo um universo de possibilidades sintomatológicas, cada caso apresentando particularidades individuais que merecem cuidados e intervenções individualizadas.

Você já ouviu provavelmente aquela frase: “No autismo, cada caso é um caso diferente”; portanto, devido à complexidade e de todo universo de problemas comportamentais e de desenvolvimento que podem estar presentes, múltiplas possibilidades de intervenção são possíveis e necessárias para ajudar na melhoria dos sintomas nessas crianças e adolescentes.

O autismo foi inicialmente descrito de forma brilhante pelo médico, pesquisador e professor da Johns Hopkins University, o médico psiquiatra infantil austríaco Leo Kanner, em 1943. Ele publicou um artigo científico com o relato de onze crianças que apresentavam três características comuns entre elas e que as tornavam muito diferentes do comportamento usual de jovens da mesma idade: um desinteresse e inabilidade de se relacionar com outras pessoas; um desenvolvimento peculiar da linguagem verbal, marcada por ecolalia (repetição de palavras ouvidas pela criança); presença de estereotipias (repetição de movimentos corporais sem propósito aparente); e inversão pronominal (crianças que se chamavam na terceira pessoa), por exemplo, dizendo: “Pedro quer água” ao invés de dizer: “eu quero água”, ou ainda, chamando a si próprio de “ele” ou “ela”.

Os transtornos do espectro autista apresentam uma incidência estimada de 1% de crianças e adolescentes em todo o mundo, segundo diversas pesquisas internacionais realizadas nos Estados Unidos, Europa e Ásia. Isso representa mais de seis milhões de crianças e adolescentes brasileiros portadores de algum transtorno do espectro autista.

Outro dado epidemiológico importante é que a ocorrência de autismo é maior no sexo masculino, afetando cerca de cinco meninos para cada menina acometida. Sendo assim, estima-se que ocorra um caso de autismo para cada 42 nascimentos de meninos, enquanto que para o sexo feminino a relação seria de um caso para cada grupo de 189 meninas.

Vale destacar um grande estudo publicado em 2014 pelo CDC – Center for Disease Control and Prevention (Centro de Controle de Doenças e Prevenção)órgão governamental americano com sede em Atlanta, Geórgia, que divulgou dados impressionantes a cerca da incidência de autismo nos Estados Unidos. Segundo o levantamento americano, cerca de 1 para cada 68 crianças são portadoras de um transtorno do espectro autista.

Esses dados são resultado do estudo de monitoramento chamado: Autism and Developmental Disabilities Monitoring Networ (Rede de Monitoramento de autismo e Transtornos do Desenvolvimento), realizado a cada dois anos, em que são estudadas as prevalências dos transtornos do espectro autista em diversas comunidades de todo o país.

Desta forma, os transtornos do espectro autista ilustram um grande problema de saúde pública e que deve ser enfrentado com a participação e apoio de toda a sociedade civil, além de representantes do poder público. Precisamos desenvolver estratégias e projetos na área da saúde e educação que incluam essas crianças e suas famílias.

Os estudos científicos mostram que a genética está intimamente ligada ao autismo. Por exemplo, pais que possuam um filho portador de autismo, apresentam cerca de 10% de chances de ter um segundo filho com a mesma condição comportamental.

Outros estudos genéticos com gêmeos idênticos concluem que se um dos irmãos tem autismo, a chance do outro ter também varia entre 36-95%. No caso de gêmeos não-idênticos, a chance reduz para até 30%.

O primeiro passo para o tratamento do autismo será a criação do Plano Individual de Tratamento (PIT). Esse PIT consiste em um projeto de tratamento que leva em consideração todas as necessidades individuais da criança com autismo. Lembre-se que os transtornos do espectro autista englobam uma miscelânea de possibilidades e cada paciente apresenta necessidades diferentes um do outro.

Portanto, saber identificar as necessidades de cada criança com autismo será fundamental para criar um plano individualizado e personalizado para que todas as potencialidades da criança sejam exploradas.

Vale destacar que a criação do PIT deve considerar diversos fatores, incluindo as necessidades específicas de cada criança, o grau de gravidade dos sintomas, a disponibilidade e a adesão familiar ao tratamento.

Até poucas décadas atrás, o autismo era um problema comportamental identificado apenas por volta dos três ou quatro anos de idade, entretanto, com o avanço dos conhecimentos sobre essa patologia, tornou-se importante identificá-la o mais precocemente possível, preferencialmente até os dois primeiros anos de vida da criança.

Um dos grandes problemas no tratamento dos transtornos do espectro autista é a demora na identificação dos sintomas e o consequente atraso para se fazer o diagnóstico e iniciar o tratamento. Hoje sabemos que o autismo é um transtorno do comportamento que possui “janelas de oportunidade” para intervenção. Isso significa que, se esperarmos para agir, perdemos chances ímpares de promover a melhora desse paciente e limitamos a chance dele de obter sucesso no tratamento de determinados sintomas.

Comumente me deparo com casos em que a família demorou muito a procurar ajuda especializada, pois tinha se deparado com profissionais que assumiram o seguinte discurso: “Ele não tem nada, ele tem o tempo dele, vamos esperar.” Pois enfatizo novamente que existem marcos importantes do desenvolvimento infantil que precisam ser respeitados e, caso a criança apresente atrasos importantes, ela precisa ser avaliada criteriosamente por uma equipe médica especializada.

Logo, a precocidade do diagnóstico e do tratamento é fundamental para ajudar no prognóstico e permitir que a criança seja tratada desde a idade pré-escolar. Quanto mais cedo identificado o problema, melhor!

 

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