Vinícius Brandão e Renato Kreisler

Já se foi o tempo em que gestação era tratada como doença. Hoje não é mais assim! As grávidas fazem atividades físicas, trabalham, cuidam-se muito! Em matérias anteriores, falamos sobre os benefícios do Pilates e da Yoga durante a gestação. Mas, além dessas, outras atividades podem ser feitas. Conversamos com o fisiologista Vinícius Brandão e com o professor de natação e proprietário da academia Marca D’água (Belo Horizonte, MG) Renato Kreisler, que explicaram tudo sobre atividade física na gestação. Confiram!

Antes de tudo, é importante deixar claro que estamos falando de exercícios para gestações tranquilas, sem qualquer intercorrência, pois, neste caso, deve-se suspender (ou nem começar) a atividade física, de acordo com recomendação médica.

Mas, vamos lá! Existem dois perfis diferentes: a gestante que já praticava alguma atividade antes da gravidez e aquela que decide começar uma atividade já estando grávida. Em ambos os casos, o atestado médico é muito importante, pois é segurança para a própria gestante e também para o responsável pela condução dos treinos (um alerta: o atestado médico vale para qualquer pessoa que decida fazer uma atividade física e não só para gestantes. Apesar de muitas academias não exigirem, peçam para o seu médico). Vinícius explica que “para quem já pratica atividade física e decide continuar durante gestação é muito mais tranquilo, pois a mulher já conhece o seu corpo, isto é, ela sabe o que é a dor de um exercício. Isso é importante porque ela já tem um parâmetro, então, qualquer modificação, ela já sabe que pode ser da gravidez; e isso faz com ela evite fazer algum movimento ou excesso que possa afetá-la ou afetar o seu bebê”.

“Já a mãe que nunca fez exercício físico é diferente, pois tudo é novo e ela não vai conseguir diferenciar, com clareza, o que é a dor do exercício e o que é da gestação. Por exemplo: a atividade física gera um cansaço, mas pode ser apenas um cansaço natural da gestação. Por isso, é um pouco mais delicado trabalhar com gestante que nunca fez nada”, afirma Vinícius.

CORRIDA E CAMINHADA

Segundo o fisiologista, no primeiro trimestre da gestação, no qual o risco é maior, “o ideal e mais interessante é que a mulher faça uma caminhada. Não significa que ela não possa correr, mas, mesmo sendo uma corrida leve, o movimento feito gera impacto, pois a corrida é uma sequência de saltos. Independente se a mulher já tinha o hábito de praticar ou não, no primeiro momento, deve-se realizar a caminhada e, depois começar com uma corrida leve, pois os benefícios não serão tantos que mude a vida da mulher. Eu, inclusive, indico o ciclismo, que é realizado assentado”. Destaca-se aqui que, o problema da corrida não é a atividade em si, mas os saltos que aumentam de acordo com a velocidade do exercício. Como explica Vinícius, “a corrida pode ser realizada, porém, quanto mais veloz a mulher correr, mais vai exigir do seu coração, os batimentos ficarão mais acelerados. E temos que lembrar que é o mesmo coração bombeando a mesma quantidade de sangue para duas pessoas (mãe e bebê) e, sempre que você diminui o aporte sanguíneo para o feto é perigoso”. Então, mamães, podem correr, mas com cautela! Por isso a caminhada ainda é a opção mais indicada por ter menos riscos. O controle da frequência cardíaca é muito importante! Existem aparelhos que podem ser usados e também a observação da fala pode ser um indicador. Como destaca Renato, “se a pessoa consegue conversar enquanto caminha ou corre, o ritmo está adequado. Na hidroginástica usa-se muito a fala como indicador”.

Outro fator importante é que, durante a gestação, a atividade física deve ser vista como um benefício para a saúde, como melhora da qualidade de vida e, jamais, como um momento de melhorar a performance. Como ressalta Vinícius, “não é o momento de performance, mesmo para a mulher que já era atleta”.

BENEFÍCIOS

Para qualquer pessoa, os benefícios da atividade física são muitos! Na gestação não é diferente! Independente do exercício escolhido, os benefícios serão quase os mesmos, mudam apenas os estímulos de cada atividade. “Por exemplo, nas atividades cardiorrespiratórias, as panturrilhas ficam ativas, o que faz com que o sistema de veias e artérias consiga mandar o sangue de volta ao coração”, afirma Vinícius. “Além disso, a caminhada e a corrida ajudam na drenagem, no equilíbrio da pressão arterial e diabetes gestacional (doenças comuns na gestação), no controle do peso (quanto mais peso a gestante ganha, mais difícil será para ela se exercitar”, destaca.

Mas não podemos nos esquecer de que “o coração precisa trabalhar de forma equilibrada, pois o oxigênio inspirado pela mãe, agora será dividido entre ela e o feto. E, quando se faz atividade física, o consumo de oxigênio aumenta. O que não pode é chegar a uma situação que prejudique o feto”, afirma Vinícius.

MUSCULAÇÃO

Para Vinícius, o treinamento de força mais seguro que existe é a musculação (independente de ser para gestante ou não), pois “nele consegue-se controlar a maioria das variáveis, isto é, peso, número de repetições, quanto tempo de descanso entre os exercícios. É a atividade mais fácil para se trabalhar com uma gestante, pois é toda individualizada”.

“Durante a gravidez, a mulher fica com a barriga e os seios maiores, o que faz com que aumente o peso na parte da frente do corpo. Então, ela precisa de uma musculatura nas costas que a mantenha reta. Isso você consegue com a musculação. Além disso, tem-se o cuidado com as posições desconfortáveis. Na musculação, colocamos a mulher em posições que ela se sinta melhor”, diz Vinícius. Mas ele faz um importante ALERTA: “deitar a gestante de barriga para cima, tem que tomar muito cuidado! Temos uma veia importante, a cava inferior, que passa embaixo do útero e, quanto maior esse útero vai ficando, seja pelo peso, tamanho do feto, ele comprime a veia e dificulta a passagem de sangue e de nutrientes para o bebê”.

Uma dúvida muito comum entre mulheres é se a gestante pode ou não fazer abdominal! Segundo Vinícius, “pode sim, mas não é ideal que ela faça por muito tempo por causa da posição, ou seja, ela pode fazer abdominais por um minuto e mudar de posição. O problema não é o movimento do abdominal, mas a compressão em cima da veia cava”.

HIDROGINÁSTICA

Já a hidroginástica, exercício muito indicado por ginecologistas e obstetras, é um dos mais tranquilos e que mescla características de força (comuns na musculação) e cardiorrespiratórias (caminhada, corrida). Como explica Renato, “existe segurança em relação a quedas (se a mulher cair, ela está na água); o peso corporal diminui, praticamente, em 50%, o que faz com que as articulações fiquem mais protegidas; é uma atividade relaxante e confortável; além de possuir menor impacto”. No entanto, como afirma Renato, a hidroginástica é uma atividade física e não hidroterapia, ou seja, ela possui cargas e dificuldades como qualquer outra.

Vale a pena ressaltar que a Universidade de Campinas (Unicamp) realizou uma pesquisa com 71 grávidas, dividindo-as em dois grupos: 34 gestantes fizeram hidroginástica três vezes por semana (50 minutos por aula) e o restante não fez a atividade. Os resultados mostraram que no grupo das que fizeram hidroginástica, apenas 27% pediu analgésico durante o trabalho de parto. Já no grupo das que não praticaram a atividade, 65% precisaram de medicamentos. Concluiu-se então que a hidroginástica ajuda a minimizar as dores do parto! Bom demais, né?!

Para finalizar, Vinícius considera que não existe um exercício melhor do que o outro. E Renato recomenda que a melhor atividade é sempre aquela que você gostar mais! Para se sentir segura, peça indicação para suas amigas, familiares e realize as atividades com profissionais qualificados. E jamais se esqueça de relatar ao seu médico qualquer alteração ou incômodo!

Quer saber mais sobre atividades físicas? Escreva para carolina.canalinfantil@gmail.com