O comunicado da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no início desta semana, gerou receio por parte das gestantes com comorbidades que estão sendo vacinadas contra a Covid-19, no Rio de Janeiro. A agência reguladora pediu a suspensão imediata do uso da vacina da AstraZeneca/Oxford, que no país é fabricada pela FioCruz.

É que o Ministério da Saúde investiga a morte de uma mulher grávida, no Rio de Janeiro, após uso desse imunizante. Após esse caso, o estado do Rio de Janeiro chegou a suspender a vacinação contra a Covid-19 para grávidas com comorbidades, que estava em andamento, mas retornou nesta quarta-feira (12/05), apenas com a Coronavac e a Pfizer. Já em São Paulo, que começaria a campanha para esse grupo ontem, foi adiado o início para segunda-feira que vem (17/05), também sem o uso da AstraZeneca/Oxford e somente com as outras duas marcas.

Este grupo, que foi incluído a outros considerados prioritários, inicialmente não fazia parte do Programa Nacional de Imunização (PNI), já que as vacinas de combate ao coronavírus não foram testadas em mulheres grávidas. Porém, o risco de exposição ao vírus, em especial no caso de gestantes com comorbidades (a exemplo de diabetes e hipertensão), era maior quando não imunizadas.

O Dr. Paulo Gallo, diretor-médico do Vida – Centro de Fertilidade e professor da UERJ, esclarece algumas dúvidas sobre o tema. Confiram!

A ocorrência de um caso isolado é sinal que realmente a vacinação com o imunizante AstraZeneca/Oxford não é seguro para gestantes? 

Houve a ocorrência de um evento tromboembólico numa gestante que havia tomado essa vacina e que evoluiu com a morte desta paciente. Sabemos que todas as gestantes são potencialmente fatores de risco para fenômenos tromboembólicos. Mulheres grávidas têm até 36 vezes mais chance de ter uma trombose do que mulheres não grávidas. Isso em virtude da grande quantidade hormonal que circula no sangue da mulher grávida, principalmente do estrogênio, durante toda a gravidez.

Sabemos também, que alguns estudos apontaram que a vacina Oxford/AstraZeneca tem um risco pequeno, raro, mas potencial, de causar maior risco de trombose. Não se sabe ainda se esse risco poderia potencializar aquele já existente nas mulheres grávidas.

Devido à ocorrência deste efeito adverso, o Ministério da Saúde e a Anvisa suspenderam o uso deste tipo de vacina em gestantes, até que seja avaliado corretamente o que aconteceu com essa paciente e definido se essa vacina teve alguma relação direta com essa morte.

No Brasil, principalmente, as complicações causadas por Covid-19 em gestantes (em especial nos últimos 3 meses de gravidez e no pós-parto imediato), são infinitamente maiores do que qualquer risco potencial que uma vacina possa oferecer. Desta forma, as gestantes devem continuar sendo vacinadas com as outras marcas de vacinas disponíveis no mercado brasileiro, que são a Coronavac e a Pfizer, neste último caso, é a única que já tem estudos mais robustos, demonstrando o seu uso com segurança em gestantes.

E aquela gestante que já tomou a primeira dose e que foi da AstraZeneca/Oxford, deve ter um acompanhamento mais próximo do seu médico, a fim de evitar possíveis efeitos colaterais?

As pacientes que já tomaram a primeira dose da Oxford/AstraZeneca, vão ter que aguardar as conclusões das investigações e, caso seja mantida a contraindicação do uso desta vacina em gestantes, provavelmente o Ministério da Saúde deverá emitir uma nova nota sobre a revacinação destas pacientes com outro tipo de vacina.

Ainda que a vacina seja tomada, quais os cuidados que as gestantes devem manter, mesmo após a imunização?

Independente de tomarem vacina ou não, sabemos que a vacina não garante uma proteção 100% eficaz. Diminui os riscos de doenças graves, mas ainda há o risco da doença e de transmissão para outros familiares. Então, toda mulher gestante, independente de ter tomado a vacina ou não, deve manter os cuidados de distanciamento social, uso de máscaras, lavar bem as mãos, utilizar álcool em gel. Isso independente de estar imunizada ou não.

Dr. Paulo Gallo

Diretor-médico e especialista em Reprodução Humana Assistida

  • Graduação em Medicina pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro
  • Título de Especialista em Ginecologia e Obstetrícia (TEGO) pela Febrasgo
  • Residência médica em Ginecologia e Obstetrícia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
  • Mestrado em Ginecologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
  • Professor assistente da disciplina de Ginecologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
  • Professor da Pós-Graduação em Endoscopia Ginecológica da Universidade Suprema/ Instituto Crispi de Cirurgias Minimamente Invasivas
  • Especialista em Reprodução Humana pela FEBRASGO/AMB
  • Membro da Comissão Nacional Especializada em Reprodução Humana da FEBRASGO
  • Chefe do Setor de Reprodução Humana do Hospital Universitário da UERJ
  • 1º Vice-Presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana
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