Qual papai ou mamãe nunca fez a pergunta: meu filho é destro ou canhoto? A partir do momento em que a criança pega em um lápis, os pais já começam a observar.

Infelizmente, a nossa sociedade coloca algumas “normas” que não existem! É muito comum ouvir os pais falarem para os filhos: a caneta você pega com a mão direita, o relógio fica no braço esquerdo, a colher se usa com a mão direita e tantos outros comandos. Mas, será que existe um lado certo e um errado? Pode-se escolher ser destro ou canhoto?

Para entendermos melhor sobre assunto, ainda pouco conhecido pelos pais, conversei com a terapeuta ocupacional Bárbara Moura (Belo Horizonte, MG), que explicou tudo sobre a LATERALIDADE CRUZADA!

Mas, afinal, o que vem a ser essa questão? Bárbara afirma que “a lateralidade é a capacidade desenvolvida pelo cérebro de utilizar preferencialmente mais um lado do corpo, de forma mais habilidosa, incluindo mão, perna, olho e ouvido. Denomina-se lateralidade cruzada quando há uma discordância na utilização desse lado, como escrever com a mão direita e chutar com o pé esquerdo, ou, às vezes, indefinida, escrever com as duas mãos”.

É possível perceber a lateralidade, segundo Bárbara, “por volta dos seis a sete anos, entretanto observa-se que a partir dos quatro anos a criança já demonstra com clareza seu lado de preferência, pois nessa fase ela realiza atividades que exigem habilidades motoras finas como recortar, colar, desenhar, e habilidades motoras grossas como chutar bola e pular de um pé só”.

Apesar de não ser uma doença, “a lateralidade é uma função neurológica. Os comandos cerebrais funcionam de forma cruzada, ou seja, o hemisfério esquerdo do cérebro controla o lado direito do corpo, enquanto que o hemisfério direito controla o lado esquerdo, por isso é de extrema importância que haja uma especialização hemisférica das funções para termos melhor eficácia dos processos cerebrais”, ressalta Bárbara.

Vale dizer também que “os hemisférios cerebrais diferenciam entre si, pois cada um está preparado para realizar funções precisas de fala, escrita, cognição, pensamento, percepção espacial; e esses hemisférios precisam de harmonia e sincronia para garantir a integração bilateral do corpo de forma eficiente”, destaca a terapeuta ocupacional.

Mas por que uma criança tem lateralidade cruzada? Segundo Bárbara, “as causas estão associadas a fatores genéticos! Frequentemente, crianças que apresentam algum tipo de transtornos de aprendizado como dislexia, discalculia, TDAH, dentre outros, também apresentam lateralidade cruzada”.

É importante que os pais estejam sempre atentos ao desenvolvimento do filho. Isso torna o diagnóstico de qualquer alteração mais rápido e com mais chance de um tratamento de sucesso.

No caso da lateralidade cruzada, Bárbara afirma que “o diagnóstico normalmente é dado por volta dos cinco a sete anos! Nessa idade, já se espera que a criança possua habilidades de funções motoras finas, como escrita, recorte, desenho e brincadeiras que envolvem todo o corpo, com isso percebe-se que a criança apresenta lateralidade cruzada. A escola e os familiares devem ficar atentos e observar se a lateralidade cruzada é apenas um fato isolado ou se há outros aspectos do desenvolvimento e aprendizagem que devam ser melhores avaliados. Caso haja um comprometimento mais relevante, sugere-se que a escola encaminhe para um profissional habilitado em avaliar e intervir, o mais cedo possível”.

Cabe dizer que dentre os profissionais qualificados para o diagnóstico estão “médicos neurologista e oftalmologista, pedagogo, psicopedagogo, terapeuta ocupacional e fisioterapeuta”, explica a terapeuta ocupacional.

Um fator muito importante, que preocupa muito os pais é a relação entre a lateralidade cruzada e outras dificuldades apresentadas pela criança. Segundo Bárbara, “sabe-se que há uma relação entre a cognição e a motricidade, ou seja, com o que a criança é capaz de aprender e sua capacidade para realizar. Mediante isso, podemos concluir que a lateralidade é um ato psicomotor, o mesmo envolve cognição e motricidade, então, a lateralidade de forma cruzada pode remeter a alguma dificuldade no processo de aprendizagem”.

Porém, “há crianças que a lateralidade cruzada não causará nenhum prejuízo! Entretanto, é comum que as crianças apresentem: alto índice de fadiga; quedas frequentes; coordenação insuficiente; atenção instável; dificuldade com a linguagem; dificuldades de automatização de leitura, de escrita ou de cálculo; dificuldade para organizar adequadamente o espaço e o tempo; confusões com direita-esquerda, o que, consequentemente, dificulta a compreensão de dezena e centena; confusão ente a soma e a subtração ou entre a multiplicação e a divisão; desmotivação em algumas atividades; pode apresentar disgrafia, dislexia, discalculia e tende a expressar o contrário do que pensa; escrever letras e números invertidos. Frequentemente, apresentam mais facilidade com explicações verbais e cálculos mentais do que com tarefas e cálculos escritos”, destaca Bárbara.

TRATAMENTO

Os pais devem saber que existe sim tratamento para a lateralidade cruzada. A terapeuta ocupacional explica que “a criança precisa de intervenções que envolvam cognição e motricidade, ou seja, atividades de psicomotricidade e integração sensorial. Psicomotricidade pode ser realizado por profissionais habilitados, como educadores físicos, fisioterapeutas, psicopedagogos e terapeutas ocupacionais. Já a integração sensorial, somente por terapeutas ocupacionais. Essa criança necessita de tarefas que estimulem sua percepção corporal, o funcionamento do seu corpo e a integração bilateral, por meio de atividades que envolvam o corpo, a coordenação motora grossa e fina, rastreamento visual, bimanualidade, vendar um dos olhos, tampar um dos ouvidos, dentre outras”.

IMPORTANTE

“Nunca devemos forçar a criança a utilizar um dos lados! Os objetos devem ser sempre oferecidos no centro, para que ela escolha qual membro utilizar. Entretanto, a partir dos cinco anos, podemos observar qual membro a criança utiliza com melhor habilidade e, com isso, podemos ajudá-la a perceber, para que ela utilize os objetos e o seu membro com melhor destreza e precisão, evitando dessa forma fadigas e dificuldades”, destaca Bárbara.

CURA

O que mais se pergunta é: mas tem cura? Bárbara explica que “quando falamos de processos cerebrais, é delicado em falar de cura! Mas há tratamentos que irão auxiliar a criança a desenvolver seus processos mentais da melhor maneira possível. Pois, quando observa alguma desorganização cerebral, como é o caso de transtornos de aprendizagem, lateralidade cruzada e outros, os terapeutas não acessam o cérebro de forma direta, mas auxiliam no ajuste das conexões cerebrais, para que as sinapses sejam mais precisas e organizadas, auxiliando em respostas mais adequadas”.

Então, papais e mamães, estejam atentos e procurem ajuda sempre que acharem necessário. Como ressalta Bárbara, “é importante um tratamento a tempo! Não digo precoce, porque esse termo remete a algo que vem antes do momento certo, e o momento certo é assim que percebemos alguma dificuldade da criança em realizar atos psicomotores esperados para sua faixa etária, caso essa dificuldade acarrete algum déficit em suas funções ocupacionais.

Quanto mais jovem o cérebro menos conexões sólidas ele tem, por isso, quanto mais cedo oferecemos intervenções adequadas, com mais precisão conseguimos respostas eficazes”.

 

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