Infelizmente, nos dias atuais, temos visto muitas crianças e adolescentes com depressão e os pais sem saberem o que fazer. Por isso, trago um artigo da Pediatra Dra. Thyessa Neiva sobre depressão na infância e na adolescência. Confira!

Por Dra. Thyessa Neiva 

Primeiro precisamos diferenciar puberdade de adolescência: esta é um marco em relação a idade e a puberdade está relacionada aos fatores biológicos. A adolescência inicia-se aos 12 anos, porém, os fatores biológicos se alteram em diferentes idades de acordo com o sexo. No menino inicia-se por volta dos 8 anos e na menina por volta dos 9 anos.

Como costumo dizer, os pais são a primeira escola das crianças, então todo ensinamento e orientação devem vir deles. Logo de início, sugiro manter uma boa relação, na qual a criança sinta-se segura para falar sobre tudo. Em seguida sugiro a necessidade da quebra dos tabus sobre o que devem conversar com os filhos.

O número de casos de doenças psíquicas na infância e na adolescência vem crescendo muito a cada dia e o pediatra é o primeiro médico a ter acesso às famílias, devendo sempre orientar a buscar por profissionais compatíveis com a necessidade.

A depressão é uma doença frequente na idade adulta, mas muita gente acredita que a mesma é exclusivamente de adultos. Por isso, levam um susto quando descobrem que crianças e adolescentes também são vítimas. Essa doença é uma das grandes causas de tentativa de autoextermínio. Por isso é tão importante falarmos sobre ela!

Atualmente, é difícil vermos crianças e adolescentes fora de casa, tendo contato com a natureza, com os pares. Cada vez mais os encontramos por trás de uma tela, sem amigos que não sejam os virtuais, com dificuldade de convivência com outras pessoas e várias famílias disfuncionais. Tudo isso podendo levar a um quadro depressivo.

Precisamos também diferenciar tristeza de depressão. Nem toda tristeza é depressão e nem toda depressão cursa com tristeza. Várias pessoas com depressão não apresentam tristeza. Por exemplo, adolescentes podem apresentar mais agressividade do que tristeza.

Para cuidarmos de uma criança e guiarmos bem os adolescentes, primeiro é necessário conhecer e cuidar de si e de seus traumas, para que se possa fazer diferente com a próxima geração. Afinal, só podemos dar aquilo que recebemos. Devido à dificuldade de cuidar de suas feridas, muita gente acaba atrasando a busca por ajuda para seus filhos, afinal, muita gente passou por isso e “não morreu”.

Os sintomas da depressão na criança e no adolescente é muito inespecífico: pode ir de uma agressividade a uma alteração no sono; ter ou não alteração de apetite, de humor; ficar extremamente choroso e irritado; ter dificuldade escolar e de memória, entre outras características. Qualquer alteração significativa no comportamento já é um sinal para busca de ajuda.

O psiquiatra da infância e da adolescência tende a ser o último especialista procurado devido a um pré-conceito da sociedade. A grande maioria das pessoas entendem que se iniciar um tratamento medicamentoso para a depressão ou qualquer doença psíquica nunca mais vai parar de tomar, mas não entendem que essas doenças também merecem tratamento, assim como a hipertensão arterial ou diabetes.

Deve-se procurar ajuda assim que perceber qualquer diferença no padrão de comportamento da criança ou do adolescente, como quando há um grande trauma, separações dos genitores, falecimentos e até em quadros de insônia.

É na adolescência que os pais devem ter bastante cuidado. É nessa fase que eles se distanciam da família e buscam seus pares, necessitando de aprovação de seu grupo. Para essa aprovação, modificam seus pensamentos, valores, corpos. Aqui entra mais uma vez a conversa aberta e proximidade para que eles possam voltar quando adultos.

Eles pedem ajuda de várias maneiras, bastando aos pais e cuidadores perceberem a alteração comportamental. Alguns adolescentes, e inclusive crianças, pedem ajuda de forma direta: “quero ir ao psicólogo”; outros são encaminhados pela escola; e outro grupo só busca ajuda depois de pararem no hospital e serem encaminhados para tratamento.

Para ajuda, o primeiro passo é observar e perceber a necessidade. Buscando então a porta de entrada, que muitas vezes é pelo pediatra e/ou psicólogo. A primeira linha de tratamento para esse grupo etário é a psicoterapia, na qual esse profissional encontra-se apto para encaminhar ao especialista que julgar ser necessário e, por muitas vezes, é necessário uma equipe multidisciplinar. Nesse momento, o acompanhamento com o psiquiatra é fundamental para a decisão da inserção ou não da medicação no tratamento.

Um recado que gostaria de deixar a quem leu até aqui é: Não demore a perceber a demanda que seus filhos pedem. Cuide de você, assim conseguirá orientar seus filhos em cada fase do desenvolvimento. Juro que os psiquiatras da infância e adolescência são amigos!

Dra. Thyessa Neiva

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