Um dos atos mais comuns na vida de uma pessoa é a deglutição, ou seja, o ato de engolir. Fazemos isso a toda hora e sem pensar muito. Porém, muitas pessoas têm a deglutição comprometida. Quando isso ocorre, damos o nome de disfagia. Conversei com a fonoaudióloga, Marcelle Miguel, que é especialista em reabilitação, para explicar sobre o assunto.
CAUSAS
Como dito, disfagia é a dificuldade de deglutir. Dentre as causas, Marcelle explica que “pode ocorrer quando há alteração na estrutura ou alteração neurológica interferindo com o movimento regular e eficiente do alimento da boca até ao estômago. Pode ainda ser consequência de refluxo e secreções gástricas. As causas incluem a obstrução mecânica e os distúrbios na mobilidade dos músculos da cavidade oral, da faringe ou esôfago; pode estar associada a doenças neurológicas como paralisia cerebral, afasias e apraxias comuns no AVC (mais conhecido como derrame), traumatismo craniano e diversos tipos de distrofias musculares. Neoplasias devem ser também investigadas”.
SINTOMAS
“Tosse, regurgitação nasal, dor ao deglutir, em alguns casos dor no tórax, alteração respiratória, pigarro durante ou após a deglutição, podem ser alguns dos sintomas”, destaca Marcelle. Por isso, é muito importante que, no caso de crianças, os pais estejam atentos a qualquer sintoma diferente.
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico da disfagia não é tão simples. Segundo Marcelle, “uma equipe multidisciplinar pode ser envolvida para o diagnóstico. Dentre os profissionais, podemos citar os seguintes especialistas: gastroenterologista, otorrinolaringologista e fonoaudiólogo. Antes de realizar a bateria de exames, o médico analisará o histórico de vida do paciente e de seus familiares. A avaliação seguirá os princípios gerais do raciocínio clínico. Quando a avaliação clínica não dá a real situação do paciente, é prudente a solicitação de exames instrumentais que possam auxiliar no diagnóstico preciso e na consecutiva conduta”.
TRATAMENTO
O tratamento da disfagia pode ser clínico ou cirúrgico. No entanto, é necessário observar cada caso de forma individual. Como eu sempre digo, cada pessoa é única!
No caso de tratamento com o fonoaudiólogo, este “irá atuar com a finalidade de diminuir riscos, tanto no sentido de manutenção de vida, porque previne as complicações (por exemplo a broncoaspiração) quanto na qualidade de vida. A Reabilitação Fonoaudiológica visa restabelecer a função, fazendo com que o paciente consiga se alimentar normalmente, reduzindo a necessidade de indicação do uso de sondas para a alimentação. Será um trabalho de reabilitação propriamente dita (técnicas passivas e ativas) e gerenciamento das alterações de deglutição com o paciente e família”, explica Marcelle.
REFLUXO
Uma dúvida muito comum dos pais é se o refluxo está ligado à disfagia. Segundo a fonoaudióloga, “o refluxo pode desencadear a disfagia. Podemos perceber na disfagia esofágica, que consiste na dificuldade de transportar secreções e alimentos pelo esôfago, que o RGE (Refluxo gastroesofágico) pode ser considerado o fator etiopatogênico”.
ENGASGOS
Um detalhe que os pais devem sempre observar é se a criança, ao se alimentar, engasga com frequência. Pode ser um caso de disfagia! “Procurar um fonoaudiólogo capacitado para uma intervenção, ou mesmo orientações, é o caminho, pois em alguns casos uma simples orientação de utensílios, consistência ou posicionamento durante a alimentação já diminui os riscos”, destaca Marcelle.
Para terminar, a fonoaudióloga faz um alerta aos pais: “temos que redobrar o cuidado com crianças pequenas, pois a curiosidade é grande e basta uma distração para qualquer botão, presilhas, remédios irem parar na boca. Evitem brinquedos com peças pequenas, alimentos muito duros e pequenos (como pipoca, amendoim), pois necessitam de um controle mastigatório muito mais eficiente. Presilhas de cabelos, brincos, tampas de canetas e garrafas de refrigerantes também devem ser evitados, pois antecipar o perigo é o melhor caminho”!
No caso de dúvidas, os pais devem sempre conversar com o médico da criança e procurar profissionais capacitados para cada caso.