Muito se discute sobre qual a melhor forma de educar os filhos. Muitos pais optam pela punição, pelo castigo; outros já preferem ser permissivos demais. Mas existe um meio termo? É aí que aparece a DISCIPLINA POSITIVA! Muito discutida atualmente, a Disciplina Positiva vem ganhando espaço e tem se mostrado benéfica tanto para os pais quanto para os filhos.

Conversei com a Mariana Lacerda, Educadora Parental em Disciplina Positiva e doutoranda em Saúde da Criança, que explicou sobre como essa abordagem educacional pode ajudar, e muito, as famílias.

Mas, afinal, o que é Disciplina Positiva? “É muito mais do que uma abordagem educacional que visa à relação da família com as crianças. A Disciplina Positiva tem se tornado uma filosofia de vida, de escolhas de como nos relacionamos e nos comunicamos com as pessoas. Ela foi criada pela americana Jane Nelsen, Doutora em Educação e mãe de sete filhos. Com base na psicologia individual de Alfred Adler e Rudolf Dreikus (psiquiatras infantis austríacos), que aborda questões sobre a individualidade, o respeito à criança; a Dra. Jane começou a pensar como ela poderia aplicar isso na sua própria vida como mãe e educadora. Assim começa a Disciplina Positiva”, conta Mariana.

Com uma abordagem de respeito e amor pelos filhos, a Disciplina Positiva vem se consolidando como uma das melhores formas de se educar as crianças. Mariana explica que “a Disciplina Positiva é um caminho diferente que está entre as duas posições que mais conhecemos: a punição e a permissividade. Ela vem para mostrar que um equilíbrio é possível, ou seja, tem como ser gentil e firme ao mesmo tempo. Esse é um dos princípios da Disciplina Positiva. Na punição, temos apenas a firmeza das palavras: ‘tem que fazer isso porque eu estou mandando; porque sou seu pai, sua mãe, e acabou’. Se a criança não cumprir as regras, sofrerá um castigo. O erro é tratado como algo negativo. Já na permissividade, pode-se fazer tudo o que quiser, sem limites, sem regras, sem estabelecimento de ordens”.

Pensando em uma forma de ajudar as crianças a entenderem as consequências de seus atos, de suas escolhas, a Disciplina Positiva visa resolver, de forma conjunta entre pais e filhos, os problemas apresentados em cada situação. Os pais passam a dar opções para os filhos. “Perguntar à criança o que ela quer comer: carne de boi ou frango; deixar que ela participe das escolhas. Mas lembrando que existem escolhas que devem ser limitadas dentro daquilo que os pais entendem como importante, que fazem parte dos valores. A criança está envolvida no processo de decisão da família. Isso é importante”, destaca Mariana.

“Eu acredito que a Disciplina Positiva ajuda mais do que outros métodos porque ela envolve a criança no processo de tomada de decisões o tempo inteiro. O uso da gentileza e da firmeza faz com que as crianças e os pais se conectem de uma maneira muito mais profunda. Quando você usa métodos que estão preocupados em interromper o mau comportamento da criança, colocar a criança de castigo, você não trabalha com ela soluções para aquela situação. Ela simplesmente sofre a punição. E perde-se a chance de dar ensinamentos que são para a vida toda! Na Disciplina Positiva, os pais entendem que todos os erros são grandes oportunidades de aprendizado. O mau comportamento, os desafios são oportunidades que os pais têm de desenvolver com a criança habilidades que são importantes para elas se tornarem adultos felizes, saudáveis, seguros. Quando os pais ficam muito preocupados com as metas em curto prazo, isto é, eliminar um mau comportamento, por exemplo; eles perdem essa chance”, ressalta Mariana.

A Disciplina Positiva vem então, como uma nova forma mostrar para a criança os seus erros e como lidar com as suas emoções. Punir simplesmente não resolve o problema! É muito comum os pais colocarem os filhos de castigo e acharem que está tudo resolvido. Mas não! Mariana explica que “o castigo não é um recurso saudável e respeitoso para a criança. Ela está sendo punida por algo que fez; só que, muitas vezes, ela nem tem consciência completa daquela situação. Isso pode criar dentro da criança um sentimento de ressentimento com aquele adulto. Além disso, a criança se sente muito mal com ela mesma, por ter errado, por ter desagradado o adulto. Quando a criança sente que desagradou, frustrou o adulto, ela se confunde com o amor: ‘se meu pai e minha mãe estão bravos comigo a ponto de me isolarem aqui nesse lugar, será que eles me amam ou deixaram de me amar’. A punição não é uma opção saudável, pois confunde a cabecinha da criança. E mais, o castigo, muitas vezes, afeta a autoestima da criança. Ela passa a se sentir um ser humano ruim”.

O ideal, segundo Mariana, é “quando a criança apresentar um comportamento inadequado, os pais pensarem nas soluções dos problemas, ou seja, o que pode ser feito diferente da próxima vez. Esse é o ensinamento que não tem a ver com o castigo”. Juntamente com os filhos, os pais criam formas de lidar com as situações difíceis. O melhor para o filho é entender o motivo pelo qual aquele comportamento não deve se repetir.

Dentre as situações que mais incomodam os pais está a tão temida birra! Mariana explica que “primeiro, o mais importante é entendermos o que é a birra. É um processo cerebral, que está conectado com o nosso cérebro primitivo, onde a gente acessa todas as emoções de raiva, frustração. É um lado bem animal mesmo. Então, quando a criança está em um processo de birra, está vivenciando um momento animal. É comum vermos a criança no chão, se debatendo. No momento da birra, a criança não está fazendo aquilo para atacar, desafiar os pais, como a sociedade coloca. Ela está acessando uma parte do cérebro que é instintiva, que luta por sobrevivência. Para lidar com a birra é preciso primeiro entender isso! Depois, é necessário ajudar essa criança a desenvolver habilidades para conseguir usar a parte da frente do cérebro, que é o nosso lado mais racional, que consegue organizar as emoções. Para fazermos isso, primeiro precisamos ajudar a criança, validar os seus sentimentos, olhar nos olhos dela e dizer que a gente entende que ela está frustrada, cansada, chateada. E explicar que muitas vezes a gente também se sente assim”.

Outro ponto muito importante é sobre como colocar limites nos filhos. “Devemos sim colocar limites, mas precisamos ir além! Precisamos estar ao lado das crianças, ter empatia por elas, acompanhar seu desenvolvimento. Eu gosto muito de uma metáfora: a criança é como se fosse um rio. Ela sai de uma nascente, começa sua própria vida e vai percorrendo esse rio. E ele tem margens que o acompanham. O papel dos adultos é acompanhar esse rio, é ser margem. Porém, a margem nunca limita, no sentido de impedir, o rio de chegar onde ele precisa ir. Ela nunca vira uma barreira, pelo contrário, vai sempre apoiando, ao lado. O sentido de dar limites para mim é muito mais sustentar, dar suporte, apoio, do que correção. Diz respeito muito mais a uma conexão antes da correção. A gente se conecta primeiro com a criança para depois colocar os limites”, afirma Mariana.

Um dos motivos da Disciplina Positiva estar tão valorizada atualmente é pelo fato de ela trabalhar com o equilíbrio: nem punição, nem permissividade! “O mundo está mais permissivo porque despertou para as questões da punição. Entendeu-se que agir com punição talvez não fosse um bom caminho, pois atrapalha muito as pessoas nas suas habilidades pessoais, de autoestima, de autoconfiança. Esse caminho talvez não fosse o mais saudável. Se não é a punição, é a permissividade. Fomos para o lado da permissividade por um bom motivo: sair da punição. Mas não conseguimos equilibrar ainda. Aí aparece a Disciplina Positiva”, destaca Marina.

É importante dizer, como ressalta Marina, que “não existe certo ou errado na forma de educar. Tem aquilo que a gente entende que vai trazer mais efeitos positivos e mais efeitos negativos. A Disciplina Positiva traz mais efeitos positivos do que outras abordagens, que estão preocupadas só em corrigir e não em educar. Porém, educar sem se conectar com a criança, sem criar uma relação profunda com ela, pode sim trazer efeitos negativos. Rudolph Dreikus falava que as crianças têm os mesmos direitos ao respeito e a dignidade que um adulto. Se não respeitarmos isso, vamos nos distanciar da criança. E aí vai ser mais difícil para ela se constituir enquanto ser humano que confia em si mesmo, que desenvolve habilidades de autoconhecimento, que sabe lidar com suas emoções e com o mundo”.

Para criar filhos saudáveis emocionalmente é preciso muita paciência, conversa e amor! Os pais devem participar ativamente da vida dos filhos. Se for possível usarem a mesma técnica para educar os filhos, excelente! Mas, nem sempre é possível. “Sabemos que as pessoas se identificam de maneiras diferentes. Cada uma tem sua história, sua forma de perceber as coisas. O que faz mais diferença na hora de educar, quando o pai e a mãe escolhem caminhos diversos, é a forma com a qual as crianças se relacionam com cada um deles. Às vezes, a criança se relaciona com maior conexão com o pai ou com a mãe. Seguir o mesmo caminho é o ideal, dá mais consistência e mais segurança. Mas seguir caminhos distintos também é possível”, explica Mariana.

Poderíamos ficar horas falando sobre a Disciplina Positiva (prometo trazer mais matérias sobre o tema)! Mas termino a matéria com uma dica muito valiosa da Mariana: “acredito que ser feliz é a gente estar bem com nossos propósitos, com nossa missão de vida; ter autoestima; gostar e acreditar no nosso potencial; lidar com os nossos erros como oportunidades. A minha dica para que os pais consigam educar filhos que se sintam felizes é eles (pais) serem exemplos! Os pais devem estar sempre conectados com os filhos, buscando estar ao lado, estar presente emocionalmente para ajudá-los. Os filhos são a autoeducação dos pais; por meio deles podemos nos desenvolver melhor. Ser saudável é uma consequência”.

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