Para começar a semana, escolhi um tema muito importante: FRUSTRAÇÃO! Recebi alguns e-mails de mamães preocupadas em como lidar com a frustração dos filhos. É muito comum a criança se frustrar quando algo não sai como desejado. Até nós, adultos, ficamos frustrados com muitas coisas, não é mesmo? Apesar de ser um sentimento muito comum e nem sempre fazer mal, temos que observar e saber quando a frustração pode se tornar prejudicial.

O Canal Infantil conversou com a Terapeuta Ocupacional Bárbara Moura (Belo Horizonte, MG) que alertou sobre a importância de ajudar os filhos a lidar com as frustrações.

Como explica a terapeuta ocupacional, “frustração é um sentimento frequente, passageiro, que ocorre quando algo não acontece da forma que planejamos, sonhamos e idealizamos, em grandes projetos ou pequenos planos do dia a dia. Qualquer pessoa pode se sentir frustrada em diversos momentos do dia e independente da idade, desde bebês até idosos”.

Apesar de nos trazer um incômodo momentâneo, a frustração é “um processo natural do ser humano, além de ser extremamente importante para aumentar nossa tolerância e compreensão com o outro. Permite que a criança amplie sua criatividade e sua capacidade de resolução de problemas, além de desenvolver a persistência, a paciência, o trabalho em equipe, etc.”, afirma Bárbara.

Para que os pais possam identificar melhor os momentos de frustração dos filhos, é fundamental entender quais as necessidades da criança. Bárbara destaca que “o sentimento de frustração perpassa todos os estágios do desenvolvimento”.

E explica: “de acordo com Piaget  (Jean Piaget – biólogo, psicólogo e epistemólogo suíço, considerado um dos mais importantes pensadores do século XX), no estágio sensório-motor, de 0 a 2 anos, no qual a criança conhece e explora o mundo de forma sensorial, levando objetos à boca, pegando e experimentando, já há vivência de momentos de frustração quando, por exemplo, não consegue pegar o objeto, ou quando a mãe não pode pegá-la no colo, ou está ausente, ou quando o alimento não é ofertado rapidamente como in útero. Depois a criança passa pelo período pré-operatório, que vai de 2 a 6 anos, iniciando brincadeiras mais complexas como faz de conta, compartilhando brinquedos e iniciando as regras mais simples. Também é comum a chegada do irmão nessa fase. Dos 7 aos 12 anos dá-se a fase de desenvolvimento operatório concreto, quando as crianças desenvolvem o pensamento lógico de coisas concretas, a compreensão das relações e classificação dos objetos, e iniciam a compreensão de regras de sinal de transito e de jogos. Estas ações exigem entendimento do que pode ou não fazer, dos seus direitos e deveres, e envolvem grandes momentos de frustração, pois ela deixa de ser uma criança onde quase tudo é permitido e mais maleável, para um momento de maior rigidez”.

Segundo a terapeuta ocupacional, “são diversos os momentos em que a criança vivencia frustrações e, deixá-la viver, com o amparo familiar, é extremamente importante. As frustrações aumentam em nível de complexidade de acordo com o desenvolvimento da criança, exigindo maior amadurecimento até chegar à fase adulta”.

Em cada fase da vida a frustração estará presente. O importante é educarmos nossos filhos para terem consciência de que vão enfrentar momentos difíceis, momentos em que não conseguirão resolver a situação; mas, ensiná-los também a aprenderem a lidar com os obstáculos. Faz parte da vida! E quanto mais as crianças souberem que dificuldades existem, mas que também existe a superação, elas se tornarão melhores adultos!

Bárbara explica que “quando a criança não tem oportunidade de conseguir resolver suas frustrações, que inclui chorar, errar e experimentar, há um risco de se tornar um adulto que apresenta dificuldade em estipular metas, alcançar objetivos, terminar projetos ou permanecer em um relacionamento. Isso gera grandes conflitos internos e sensação de fracasso, baixa autoestima, agressividade e intolerância ao que não condiz com aquilo que pensa e acredita. Quando a criança apresenta baixo limiar à frustração ela, por mínimos motivos, pode se irritar, desistir da brincadeira ou brinquedo, mostrar-se agressiva, jogar os brinquedos, apresentar dificuldade para perder ou aceitar as regras dos jogos. Também é comum entrar em conflito com os colegas, ficar isolado na escola, não participar de atividades coletivas, podendo gerar baixa autoestima”.

E um alerta para os pais: “dessa forma, ela pode apresentar sérios problemas de socialização, agressividade e dificuldade em resolução de problemas”, afirma Bárbara.

Caso você esteja passando por alguma situação com seu filho e não sabe como agir, procurar um profissional pode ajudar. “A terapia ocupacional intervém quando há algum comprometimento na ocupação humana. O papel ocupacional da criança é brincar, estudar, realizar atividades de lazer e tarefas de autocuidado esperadas para cada idade. Quando há um baixo limiar de frustração que impeça ou comprometa a participação da criança nesses contextos, a terapia ocupacional intervém. Primeiro é necessária uma investigação para apurar o motivo pelo qual essa criança age dessa forma, se é por conduta da família ou se há algum transtorno envolvido. A partir disso, são feitas intervenções física, psíquica, social e sensorial, por meio de recursos lúdicos, corporais e artísticos, passeios, convivência social, intervenções escolares, orientação aos familiares”, destaca Bárbara.

É importante que os pais estejam atentos e aceitem que, algumas vezes, não conseguimos lidar com tudo sozinhos. A ajuda de um profissional especializado é sinal de amor pelo filho. Muitos pais ficam inseguros, achando que podem fazer tudo, cuidar de tudo sozinhos… Mas, nem sempre é possível! O profissional vai trabalhar em cima das dificuldades apresentadas pela criança. É claro que os pais devem fazer todo um trabalho em casa também!

Mas, quando procurar ajuda? Bárbara ressalta que “os pais devem ficar atentos quando notarem baixo limiar de frustração que impede que a criança brinque com qualidade, não explore o ambiente e brinquedos, dificulte a interação com os colegas ou gera agressividade e conflito de regras. Caso esse sentimento traga comprometimento para as relações sociais, aprendizagem, no brincar, na escola, no lazer e no ambiente familiar, essa criança precisa de auxilio e de uma melhor investigação. Frequentemente, as crianças que buscam o tratamento de terapia ocupacional apresentam baixo limiar de frustração como uma comorbidade de outros diagnósticos, como Transtorno Déficit Atenção e Hiperatividade (TDAH), Transtorno do Espectro Autista (TEA)”.

No caso do terapeuta ocupacional, que é um dos profissionais aptos a lidar com a frustração, “ele vai estimular e dar oportunidades para que a criança consiga lidar melhor com as frustrações, com o ideal e o real, auxiliando na resolução de problemas de forma mais efetiva, promovendo a criatividade, definindo regras e propondo atividades coletivas que desenvolvam o ganhar e perder. É de suma importância que o terapeuta ocupacional trabalhe juntamente com a família e escola”, ressalta Bárbara.

Vale dizer também que não só o terapeuta ocupacional pode ajudar. Como afirma Bárbara, “crianças com TDAH, TEA e outras síndromes é comum apresentarem baixo limiar de frustração. Essas crianças precisam de acompanhamento de neuropediatra, de terapeuta ocupacional e psicólogo”.

DICAS PARA OS PAIS

Se você está com dificuldades para lidar com as frustrações do seu filho, fique atento às dicas da terapeuta ocupacional:

– Não é aconselhável resolver todos os problemas para a criança, mas podemos estar ao seu lado auxiliando, mostrando pistas e indicando caminhos, dando oportunidade para que elas tentem e consigam resolver seus pequenos problemas.

– Nos conflitos com os colegas, deixe que eles conversem e tentem se entender; caso seja algo com maior dimensão, aí sim intervenha.

– Quando seu filho for se alimentar, deixe que ele tente, se suje e erre até conseguir levar a colher à boca.

– Quando estiver brincando e explorando um novo brinquedo, primeiramente, deixe-o tentar sozinho e depois, se necessário, demonstre.

– Quando a criança chorar por algo que não pode ter, converse com ela, explique, dê afeto, mas não ofereça o que ela quer sempre.

– Tenha planos diários, semanais, mensais e anuais, e ajude para que seu filho concretize e possa vivenciar casos em que os planos não saíram exatamente da forma que idealizaram.

– Saber lidar com o outro é essencial para a autoestima adequada, para sermos persistentes, para o aprendizado, para a conquista de sonhos, manter relações de amizade, amorosa, familiar, etc.

Está passando por uma situação delicada com seu filho? Conte para nós: carolina.canalinfantil@gmail.com

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