Maria Carolina ScarantiNa matéria de ontem, falei sobre um livro muito bacana, da Editora Paulinas, que trata da adolescência (clique aqui). Esse é um tema que muito preocupa os pais. Além de ser uma fase de transição entre a vida infantil e a adulta, os adolescentes precisam aprender a conviver com a tomada de decisões. E uma delas é: qual vestibular você vai prestar? Para qual curso?
A hora da escolha costuma ser bem tensa para as famílias. Conversei com a psicóloga Gabriela Ferreira (CRP04/45407), @gabrieladfpsicologa, graduada na Universidade Federal de São João Del Rei (MG). Atualmente cursa pós-graduação em Neuropsicologia, na Santa Casa de Belo Horizonte, e trabalha com Psicoterapia de adolescentes e adultos, Avaliação Neuropsicológica nos problemas de aprendizagem e Orientação e Re-orientação Profissional na clínica @meuespacovita. A psicóloga explicou como pais e filhos devem agir na hora do vestibular.
Segundo Gabriela, o grande problema está em pressionar os adolescentes para uma escolha que nem sempre é fácil! É preciso ter cuidado na hora de discutir essa questão. “As escolas têm falado cada vez mais cedo sobre vestibular. Acredito que o problema real não seja tocar no assunto e sim colocar uma pressão em cima da escolha da profissão. Falar sobre isso deve ser tão natural quanto conversar sobre qualquer outro assunto. Hoje, se fala em Orientação Profissional a partir do 9º ano. Pessoalmente, eu acho cedo para fazer a escolha em si, pois mudamos muito durante a vida e principalmente nessa fase. Mas acredito que iniciar o processo de amadurecimento seja uma boa ideia desde cedo e, talvez por isso, seja importante começar a falar sobre vestibular antes do aluno chegar ao 3º ano”, afirma a psicóloga.
É importante que os pais entendam que uma escolha pode ser alterada mais a frente! Nada é para sempre! Para Gabriela, “o problema da escolha da profissão não perpassa pela questão da idade e sim da maturidade que o indivíduo tem nessa época da vida. Estamos dizendo com essa pergunta, então, que todo ser com 18 anos é imaturo? O que nós temos que proporcionar cada dia mais nas escolas e nos lares é a autonomia e o autoconhecimento dos nossos jovens para que eles possam fazer escolhas seguras. A boa escolha da profissão passa pelo autoconhecimento, conhecimento das profissões e conhecimento da realidade de trabalho”.
Cabe ressaltar que, na hora da escolha, é muito importante os pais apoiarem e aceitarem a vontade do filho.
Como dizia Içami Tiba, “os filhos precisam ter os próprios sonhos, pois não nasceram para realizar o sonhos dos pais”.
“É muito comum que os pais depositem expectativas em seus filhos. Seja por querer que ele tenha uma vida tão boa quanto a dele, ou por querer que o filho tenha uma vida melhor que a dele, ou até mesmo por querer que o filho faça aquilo que ele não conseguiu fazer. O essencial seria que, mesmo tendo algum desses sentimentos, os pais respeitassem e apoiassem as escolhas de seus filhos. A orientação por parte dos pais é muito importante, por isso a participação no processo de escolha deve existir sim. Se um pai acha que o filho não deve seguir uma profissão X ou Y, deve mostrar para ele o por quê e não impor uma ideia”, destaca a psicóloga.
O que o adolescente mais precisa nessa fase é de carinho, atenção e apoio. Os pais precisam estar ao lado, conversar sobre as profissões e, se necessário, buscar ajuda profissional. Gabriela explica que “apoio e comunicação são as chaves. Você concorda com a escolha do seu filho? Ajude-o a pesquisar mais sobre a profissão, a se autoconhecer. Você não concorda com a escolha do seu filho? Converse com ele, mostre a sua opinião”.
Além disso, é de extrema importância explicar ao adolescente que sua escolha não é para toda a vida! “Esse é um dos fatores que mais atrapalha o momento da escolha. Antigamente, a proposta era de que colocássemos o ‘homem certo no lugar certo’ e as pessoas passavam a vida inteira na mesma profissão, sendo feliz ou não. Hoje aceitamos o fato de que o ser humano é um ser em mudança e é normal que ele possa mudar, diria até mesmo essencial, algumas ideias algum dia na vida. A pergunta que mais se ouve é ‘como vou escolher agora uma coisa para o resto da minha vida?’. E é esse pensamento que ‘trava’ a escolha. A escolha não é de algo que a pessoa vai fazer para o resto de sua vida e, sim, de algo que compete àquele ser que ele é hoje”, ressalta a psicóloga!
Jamais pressione o seu filho! Deixe que ele se sinta preparado para escolher a sua profissão. Oriente, converse, mas, principalmente, respeite a opinião dele! Qualquer tipo de pressão ou estresse na fase do vestibular pode levar o adolescente a sérios riscos! Gabriela explica que “em nossa vida, estamos sempre passando por momentos onde temos que fazer escolhas importantes. E, independente da idade, estamos sujeitos a não saber lidar com isso. Na adolescência não poderia ser diferente, inclusive, pode até ser pior, pelas características dessa fase. O mais importante é que a família apoie esse momento, que não coloque muita pressão no adolescente e que o estimule a participar da Orientação Profissional ou o ajude no processo de escolha”.
Para que os pais ajudem os seus filhos, Gabriela dá algumas dicas: antes de realizar o vestibular, faça algumas perguntas para o seu filho e o ajude a responder.
1.Eu sei como é a concorrência e a média de pontos que preciso para passar na prova?
2. Quais faculdades oferecem o(s) curso(s) que eu tenho interesse?
3. O que as pessoas que escolhem essa profissão fazem?
4. Como é o mercado de trabalho para a profissão que eu estou escolhendo?
5. Como é a média salarial das pessoas que escolhem essa profissão?
“Eu falo que participar do processo de Orientação Profissional é um grande auxílio para escolha profissional. Mas quando, por algum motivo, o adolescente não pode participar, eu indicaria: buscar um autoconhecimento (o que eu gosto? O que eu espero para minha vida? Quais são meus planos a curto e/ou longo prazo?); pensar em seus interesses; escolher as áreas; pesquisar como é na faculdade (grade horária, por exemplo); pesquisar como é a realidade de trabalho, salário, entre outros”, destaca a psicóloga.
Viram, papais e mamães, ser adolescente também não é fácil! Eles precisam de atenção e orientação para seguir um futuro de sucesso e feliz!