Muito se fala sobre a rotina na vida das crianças. Sabemos que ela é fundamental para gerar segurança e confiança. O Canal Infantil falou sobre este assunto, inclusive sobre o uso do quadro de rotina (confira). Mas, quem tem uma criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA) sabe que a rotina pode significar muito mais.

Conversamos com a terapeuta ocupacional Amanda Dupin, que nos explicou sobre como a rotina muda a vida dessas crianças.

Antes conhecida como autismo, hoje “a denominação mais usada é Transtorno do Espectro Autista (TEA), que é uma condição de saúde que se caracteriza por dificuldades em comunicação, interação social e alterações no comportamento. Crianças diagnosticadas no espectro autista apresentam atraso na aquisição da linguagem ou dificuldade em comunicar seus desejos, em estabelecer contato visual e em interpretar gestos e expressões das pessoas, além de tendência a comportamentos repetitivos e inflexibilidade do pensamento.​ Essas dificuldades podem aparecer em grau de severidade diferentes”, explica Amanda.

Para uma criança com TEA, a rotina tem uma significação muito grande. Amanda destaca que, “como as crianças com autismo apresentam dificuldade em lidar com frustração e tendência a comportamento repetitivo, a rotina estabelece uma antecipação que ajuda a controlar imprevistos​. As crianças no TEA têm dificuldade em flexibilizar o pensamento e estabelecer novas formas de fazer algo já conhecido. Todas as vezes que elas precisam lidar com o novo, isso gera um desconforto, uma ansiedade grande, podendo desencadear comportamentos como birra, choro, agressividade etc., que são formas da criança comunicar que não está sabendo lidar com a nova situação”.

QUADRO DE ROTINA

Algo que pode ajudar uma criança com TEA é a utilização do quadro de rotina.

Amanda afirma que “o quadro de rotina é um recurso visual que ajuda a criança a entender quais serão as atividades que ela realizará durante o dia. Isso ajuda em vários aspectos. Primeiramente, o fato de utilizar pistas visuais ajuda na comunicação com a criança, já que muitas vezes há uma dificuldade na linguagem verbal. Além disso, fornece à criança uma antecipação das situações que ela vivenciará durante o dia​, o que diminui a ansiedade. O quadro de rotina também a ajuda a desenvolver orientação temporal e entender os conceitos de passagem de tempo, antes/depois, dias da semana, manhã/tarde/noite, etc.”.

Vale lembrar que, a criança com Transtorno do Espectro Autista, muitas vezes possui limitações com a linguagem verbal. Sendo assim, o visual pode ajudar, e muito, na execução de tarefas. Amanda explica que “como a linguagem verbal é uma das grandes dificuldades ​das crianças no TEA, os recursos visuais ajudam na comunicação por meio de símbolos ou mesmo fotos que sejam entendidas tanto pela criança como pelo interlocutor, facilitando e promovendo a comunicação. Além disso, os recursos visuais são uma forma de trazer para o concreto, informações abstratas, que são de difícil entendimento, como conceitos de temporalidade e quantidade”.

Quadro de rotina que serve para qualquer criança (com TEA ou sem). Este foi feito pela Mônica Projetos Pedagógicos, Sorocaba SP

COMO MONTAR

Para o quadro de rotina funcionar bem, é importante “ser desenvolvido em parceria com os pais e os profissionais que atendem a criança. Os pais saberão fornecer informações sobre os horários ​e as demandas da rotina e os profissionais saberão adaptar, de acordo com a capacidade de entendimento de cada criança, como as atividades serão comunicadas a ela. Juntos, eles estabelecerão quais atividades deverão estar no quadro daquela criança. Em geral, é importante que se identifique as atividades que geram mais estresse e se estabeleça estratégias para antecipar isso de forma confortável para a criança”, ressalta a terapeuta ocupacional.

Além disso, Amanda explica que “o quadro é um recurso interessante, independente da severidade dos sintomas. O mais importante é que sua introdução seja feita de maneira correta para cada criança. A quantidade de informação que estará no quadro, o uso de símbolos ou fotos, as atividades, a forma como elas serão apresentadas (se fixas ou móveis), a localização do quadro na casa, quando a criança terá acesso a ele e como será a mediação para o uso do mesmo. Tudo isso será determinado pela equipe de profissionais em parceria com os pais e deve ser analisado caso a caso”.

BENEFÍCIOS

Amanda destaca que “os principais benefícios do quadro são melhora na comunicação, diminuição de comportamentos inadequados que sejam gerados por ansiedade ou inflexibilidade de pensamento, aprendizado de conceitos abstratos como tempo, antecipação de comportamentos de estresse entre outros relacionados ​à importância da rotina e da consistência de demandas que são importantes para todas as crianças, não só as que estão no espectro. A previsibilidade ajuda a criança no TEA a lidar com situações novas ou incômodas. Uma vez que antecipamos para a criança que ela viverá aquela situação podemos trabalhar com estratégias para que ela lide com a ansiedade ou desconforto”.

DESVANTAGENS

Segundo Amanda, “as desvantagens estão no uso inadequado de um quadro de rotina não individualizado ou no uso inadequado por parte dos adultos. O quadro de rotina demanda consistência de ações por parte dos adultos, isso é imprescindível ​para o sucesso da ferramenta. Além disso, é importante, nos casos de crianças no TEA, que o uso dessa ferramenta seja orientado por profissionais, pois estes estarão atentos para que o quadro de rotina não esteja enfatizando a inflexibilidade de pensamento e acentuando comportamentos estereotipados. E mais, se os pais e cuidadores não são adequadamente orientados, podem utilizar o quadro para situações de punição ou reforço negativo, o que não condiz com o uso desse recurso”, alerta a profissional.

Cabe destacar que a utilização do quadro de rotina deve sempre ser feita junto aos profissionais que trabalham com a criança. E sempre deve-se observar a necessidade de cada criança.

Amanda ressalta que, “como terapeuta ocupacional, devo orientar o uso de acordo com cada criança. O quadro de rotina é mais que um recurso visual; ele é uma ferramenta de comunicação entre adultos e crianças. Dessa forma, é preciso analisar se cada família está familiarizada com os conceitos de rotina, tarefas, reforço positivo, competência e habilidades. Muitas vezes as famílias acreditam que ter o quadro de rotina é suficiente para que haja uma melhora no comportamento da criança, mas ele é uma ferramenta utilizada em um contexto muito mais amplo de intervenção terapêutica. Colar o quadro na parede não garante melhora de compreensão. Ele precisa ser utilizado de forma consistente pelos pais e cuidadores, para que tenha adesão por parte da criança”. Isso é fundamental!

Então, papais e mamães, sempre, antes de tomarem uma decisão, consultem os profissionais que ​acompanham o seu filho. Cada criança é única e deve ter suas particularidades respeitadas. Não é porque deu certo para uma criança que vai dar para o seu filho ou vice-versa. Toda criança é especial; tem suas habilidades, qualidades. Enfim, como somos diferentes, devemos ser tratados de forma única!

 

Se quer saber mais sobre TEA, fale conosco: carolina.canalinfantil@gmail.com

 

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