Tenho recebido vários e-mails de casais separados que não sabem como explicar a separação para os filhos; que estão em litígio e vivem brigando; que se afastam dos filhos achando ser essa a atitude correta… Enfim, são várias dúvidas que precisam ser esclarecidas para que o bem mais precioso do casal, o filho, não sofra tanto. Afinal, o casal se separou, mas o filho continuará sendo filho de ambos!

Conversei com a Zélia Alves Vianna, que é Professora, Coordenadora Pedagógica, Psicopedagoga, Professora de curso de capacitação de professores e autora de livros pedagógicos, que explicou como os pais devem agir durante uma separação.

30 Zélia Vianna

Em primeiro lugar, ao decidirem pela separação, é muito importante uma conversa com o filho. “Embora sendo sempre traumática, a separação deve ser encarada como uma etapa da vida do casal, um ciclo que está se fechando. Assim que os pais resolvem os principais detalhes do desenlace, precisam, juntos e com tranquilidade, colocar o filho a par da situação. Poupar a criança das discussões infrutíferas é preciso, no entanto, ela necessita ter a clareza de que continuará sendo amada e atendida em todas as suas demandas pelo pai e pela mãe, mesmo quando esses passam a residir em casas separadas”, explica Zélia.

É importante ressaltar que “se o processo de separação não for bem conduzido, poderá sim influenciar diretamente nas estruturas psicológicas da criança. A maioria dos pequenos não é preparada para reagir adequadamente a problemas delicados como esse. Sente-se fragilizada e pode apresentar distúrbios físicos e mentais como ansiedade, comportamento agressivo, depressão, insônia, pesadelos, gagueira e baixo rendimento escolar”, destaca a Psicopedagoga.

Apesar de muito comum, afastar-se do filho é uma das piores atitudes que um pai ou uma mãe pode tomar. Como afirma Zélia, “a entidade mãe e pai não deve se separar nunca. A separação por si só já é impactante para todos os membros da família. A criança está buscando neste momento o apoio, na esperança de não perder nenhuma das duas pessoas que ela mais ama. Essa garantia é fundamental para o seu equilíbrio emocional. O pai não pode abdicar de exercer o seu papel de pai. A atenção que é dispensada ao filho, as conversas, as brincadeiras fazem parte desse papel que só ele pode desempenhar. Mesmo que a mãe seja exímia cuidadora, é o convívio harmonioso entre as duas partes que vai minimizar os medos e as angústias geradas pelas incertezas que a criança terá que encarar na sua vida nova”.

Outra atitude muito vista, infelizmente, é pai e mãe que falam mal um do outro para o filho. “Projetar na criança seus descontentamentos e frustrações na relação com o cônjuge é uma forma de abuso psicológico contra o filho e pode afetar seu desenvolvimento e deixar sequelas permanentes. A criança tem nos pais a imagem do ídolo; denegrir essa imagem pode gerar uma demanda emocional muito perigosa. A separação de um casal sempre gera sofrimento para os filhos e se um dos pais ainda contribui para aumentar esse transtorno, além de prejudicial é cruel. O filho não pode ser transformado em munição de ataque ao ex-parceiro”, ressalta Zélia.

Mas então, como deve ser a relação após uma separação? Zélia explica que “o momento pós-separação pede muita calma e respeito. Ao se separar, o pai geralmente perde a rotina diária do filho e é justo que a mãe abra espaço garantindo convivência saudável de pai e filho. Quando a criança continua tendo o amor desse pai e dessa mãe, mesmo que separados, ela se adapta melhor ao seu novo cotidiano. Com cada um se responsabilizando pela boa qualidade da relação, evitará assim o sofrimento da criança que precisa sempre de ambos”.

Além disso, dividir as responsabilidades é fundamental! “As responsabilidades pelo filho não cessam nunca, em hipótese alguma. Além de garantir educação, saúde e o sustento, a participação de ambos precisa abranger todas as áreas, inclusive o lazer. É inadmissível que tais responsabilidades recaiam como ‘castigo’ à parte responsável pela guarda da criança. Pai e mãe, independentemente do espaço ocupado no cotidiano do filho, tem que se posicionar como tal, para garantir o equilíbrio emocional e a segurança da criança”, afirma a Psicopedagoga.

Então, pais e mães, se vocês estão em processo de separação ou já são separados, jamais se esqueçam da relação afetiva com seus filhos! E lembrem-se destas dicas dadas pela Zélia:

– A criança precisa ser poupada das discussões desrespeitosas.
– Não transferir suas mágoas para a criança.
– A criança não pode ser usada como instrumento de disputa dos pais.
– Procurar demonstrar à criança que ela continuará sendo amada do mesmo jeito, pelo pai e pela mãe após a separação.
– A criança não possui estrutura psicológica para ser confidente de pai ou de mãe. Já é difícil para ela lidar com suas próprias perdas.
– Os pais precisam agilizar a reorganização de suas rotinas, para que a criança possa fazer o mesmo com a sua.
– Manter o diálogo, ouvir e negociar leva quase sempre ao acerto.
– Durante o processo de separação, comunicar o fato aos profissionais de educação da escola do filho. Eles poderão dar o suporte necessário à criança durante o período escolar.

E, no mais, ame o seu filho! Cuide dele sempre! Ele é o seu bem mais preciso e precisa de você! Pai e mãe, independente de estarem ou não juntos, devem andar lado a lado!