E a matéria de hoje é sobre um tema que muito preocupa os pais: a cárie dentária! É uma doença, como evitar, quantas vezes escovar os dentes, pasta com ou sem flúor? São tantas perguntas que deixam qualquer pai e mãe perdidos!

Entrevistamos a odontopediatra Dra. Joyce Guimarães (CROMG – 23468), da Clínica Odontoellos (Belo Horizonte, MG), para melhor entendermos sobre a cárie.

Dra. Joyce Guimarães – odontopediatra

Mas, afinal, o que é a cárie dentária? Dra. Joyce explica que “cárie é uma doença crônica dos tecidos duros dentários, multifatorial, resultante da desmineralização mediada por bactérias que causam, nos estágios finais, a destruição do dente. Está intimamente ligada à introdução dos carboidratos refinados na dieta, principalmente a sacarose. O primeiro sinal da doença cárie é a lesão de mancha branca”.

Segundo a odontopediatra, “o esmalte, por ser um tecido altamente mineralizado, acelular, está sujeito a alterações, solubilização dos cristais de hidroxiapatita. Cálcio e fosfato, em situações de normalidade, estão presentes na saliva em condição de supersaturação em relação ao esmalte, o que favorece a manutenção do estado cristalino deste tecido quando em pH 6,8.  Entretanto, quando períodos de pH crítico tornam-se frequentes e os episódios de desmineralização são maiores que os de remineralização, desenvolve-se a lesão de cárie. Em resumo, as lesões de cárie nos dentes são provocadas por ácidos produzidos por bactérias bucais a partir de açúcares da nossa dieta alimentar. Assim toda vez que açúcar é ingerido, as bactérias que vivem na nossa boca produzem ácidos, os quais dissolvem o esmalte, a parte mais dura dos dentes. Essa dissolução é silenciosa, traiçoeira e progressiva (crônica), terminando, em função do tempo, por fazer ‘buracos’ nas superfícies dentárias onde as bactérias bucais se acumulam e permanecem por longo tempo sem serem removidas”.

É muito importante que os pais estejam atentos à limpeza dos dentes dos filhos! É difícil, dá trabalho, mas é necessária! Dra. Joyce explica que “biofilme dental é uma massa composta por bactérias colonizadoras da cavidade bucal. As lesões de cárie se desenvolvem em regiões onde há acúmulo de biofilme. As causas mais comuns estão relacionadas a não remoção eficiente deste biofilme. Fatores como presença de muito açúcar na dieta, má higiene bucal (escovação inadequada e uso não constante e incorreto do fio dental) e falta de pasta fluoretada (com o mínimo de 1100ppm de flúor) são os responsáveis pela doença cárie”.

Existe uma polêmica a respeito da pasta com flúor e quando ela pode começar a ser usada. Porém, atualmente, já há um consenso entre a grande maioria dos odontopediatras, que a pasta deve sim conter flúor; porém, em uma quantidade bem reduzida.

A Dra. Joyce explica que, “desde o nascimento do primeiro dentinho do bebê, os pais devem escovar os dentes com pasta fluoretada (1100ppm de flúor), duas vezes por dia. Normalmente, para um condicionamento futuro das nossas crianças, após um ano de idade, indicamos três escovações diárias (manhã, após primeira refeição; depois do almoço e após a última alimentação)”.

Mas, cabe ressaltar, que não são só os dentes que precisam ser limpos; a língua também! “Além da cárie, temos que orientar nossas crianças sobre a limpeza da língua, retirando a saburra lingual, evitando o mau hálito. A higiene da língua pode ser feita diariamente com limpadores de língua, com gazes ou com a própria escova de dente”, afirma a odontopediatra.

Sobre o flúor, Dra. Joyce destaca que “o seu uso tem sido uma das estratégias de maior sucesso no controle da cárie dentária. Quando o fluoreto é aplicado nos dentes ocorre uma reação química que muda a composição do esmalte dentário formando fluoreto de cálcio, o qual age como ‘escudo químico’, protegendo o dente contra o efeito dos ácidos produzidos pelas bactérias. Consequentemente, a dissolução do esmalte (cárie) é reduzida. Evidências científicas mostram que as pastas dentárias devem conter em sua formulação no mínimo 1100ppm de flúor para proteção contra a cárie. É muito importante seguir as orientações do odontopediatra sobre a quantidade de pasta a ser usada de acordo com cada faixa etária.

Recomendamos, no geral, um grão cru de arroz de pasta fluoretada (observar sempre a composição da pasta, que deve ter, no mínimo, 1100ppm de flúor) até que a criança saiba cuspir efetivamente (o que ocorre por volta dos três anos) e um grão de ervilha quando a criança já sabe bochechar e cuspir (acima de três anos).

Mas essas orientações podem variar, pois cada paciente é único e precisa ser avaliado pelo odontopediatra. Indicamos no mínimo duas escovações com pasta fluoretada por dia. Além disso, quem deve sempre colocar a pasta de dente na escova são os responsáveis pela criança”.

Muitos pais, por falta de tempo ou até por preguiça mesmo, deixa os filhos escovarem os próprios dentes. A autonomia é importante para a criança sim! No entanto, com relação à limpeza dos dentes, o acompanhamento dos pais é muito importante! A criança, até certa idade, não consegue realizar uma escovação adequada e deve ser supervisionada pelos pais. Para a Dra. Joyce, “por volta dos quatro a cinco anos, os pais podem deixar que a criança faça uma das escovações sozinhas, mas a noturna deve sempre ser realizada pelos pais ou por um adulto responsável pela criança, para que seja efetiva. É muito importante que os pais passem o fio dental em seus filhos diariamente (à noite, antes da última escovação). Geralmente, recomendo que a última escovação da criança seja realizada pelos pais até por volta dos 10 anos de idade. Após essa idade, os pais devem continuar supervisionando, mas já podem delegar as escovações para seus filhos, pois já possuem habilidades motoras que permitem a realização da higiene bucal mais corretamente. Mas sempre devem perguntar e fiscalizar, de vez em quando, para checar a qualidade desta escovação, incentivando a melhorar caso precise”.

Uma dúvida muito comum entre os pais é qual a hora certa de escovar os dentes: logo após a alimentação ou deve-se esperar um tempo. A Dra. Joyce recomenda que “as escovações dentárias sejam realizadas logo após as refeições, pois sabemos que, principalmente no caso das crianças e adolescentes, se não criarmos o hábito de escovar os dentes logo após, certamente eles não escovarão. Existem algumas situações em que recomendamos que a escovação seja feita, no mínimo, 30 minutos após as refeições. Esta orientação é feita quando detectamos, na avaliação clínica dos dentes, a erosão dentária, desgaste na estrutura do dente provocada pela ingestão frequente de frutas ácidas, sucos industrializados, bebidas energéticas ou refrigerantes, pelos ácidos regurgitados do estômago dos pacientes com refluxo gastroesofágico e bulimia, os quais alteram o pH da boca de 6,8 para 5,5. A escovação imediata colabora para o desgaste, por isso é importante este tempo após as refeições para depois fazer a limpeza dos dentes. Mas, esta orientação é individualizada e só será determinada após a consulta com o dentista, o qual irá fazer uma análise da dieta alimentar, da situação dentária e presença de problemas de saúde, determinando assim os riscos de cada paciente”.

Uma outra situação em que a cárie se apresenta, é quando a criança tem hipoplasia dentária, que é “um defeito do esmalte dentário que pode ser encontrado tanto na dentição decídua (de leite) quanto na permanente. É um distúrbio na formação do esmalte ocasionada durante o seu desenvolvimento, ou seja, no período pré-eruptivo. Está associada à redução localizada da espessura do esmalte, defeito quantitativo, o que o torna mais favorável ao acúmulo de placa e ao desenvolvimento de lesões de cárie. Crianças com hipoplasias dentárias devem ter um cuidado maior com a higiene bucal e fazer as prevenções indicadas pelo odontopediatra corretamente, para minimizar problemas futuros.

Dra. Joyce Guimarães – odontopediatra

Papais e mamães devem estar sempre atentos à escovação dos dentes dos pequeninos!

Para se evitar a cárie, a Dra. Joyce dá algumas dicas:

– fazer Pré-Natal Odontológico (a mãe receberá orientações importantes que podem evitar problemas gengivais durante a gestação, os quais podem ter relação futura  com alterações nos dentes de seus filhos; além de aprender como higienizar os dentes do bebê assim que irromperem);

– levar seu filho ao odontopediatra assim que irromper o primeiro dentinho;

– não dar alimentos açucarados para seu filho até dois anos de idade; após essa idade, ter um consumo equilibrado do mesmo, evitando excessos;

– ter uma alimentação saudável;

– escovar os dentes com pasta fluoretada (1100ppm de flúor), duas vezes ao dia;

– usar o fio dental diariamente e

– fazer os retornos recomendados pelo odontopediatra para profilaxia, avaliação, controle e manutenção da saúde bucal.

Além disso, é muito importante que os pais estimulem e ensinem aos filhos a importância da escovação correta e diária! Segundo a Dra. Joyce, seguindo as dicas abaixo, com certeza, será mais fácil e divertida a hora da limpeza dos dentes:

– iniciar a escovação desde o nascimento do primeiro dentinho ajuda a adaptar a criança;

– levar ao odontopediatra, especialista que sabe como agir com a criança, cativando e sabendo dar orientações sobre higiene dentária necessárias para a saúde bucal e integral da criança (tipos de escovas mais adequadas para a idade da criança, com motivos infantis; alternativas para o uso do fio dental: fio forquilha, o qual a criança pode aceitar melhor e também facilitar para os pais passarem entre os dentes dos filhos);

– contar historinhas sobre os dentinhos, ouvir e cantar músicas (livros específicos sobre saúde bucal, escovação, fio dental, DVD infantil); ser firme, abaixar e olhar no olho da criança, dizendo que se ele não ajudar, a mamãe vai ter que segurar e escovar porque a mamãe ou o papai amam muito ele; usar técnicas da disciplina positiva, dando opções para a criança: você escova os meus dentes e eu escovo os seus. Mas é sempre importante ressaltar que a responsabilidade em escovar efetivamente os dentes da criança é do responsável por ela (pais ou responsáveis adultos).

Porém, Dra. Joyce ressalta que, “se depois de todas as tentativas lúdicas, mesmo assim a criança pequena não quiser deixar escovar ou quiser escovar sozinha, segure seu filho com amor e faça a higiene bucal efetiva (escovação bem feita e uso do fio dental), pois é sempre muito melhor ter que segurar para escovar, como prevenção, do que ter que segurar para tratar uma lesão de cárie. Prevenção em casa e no odontopediatra é sempre melhor do que ter que fazer tratamento dentário”.

Viu? Parece muito difícil, mas, com amor, tudo se torna possível e mais feliz! Ajudar seu filho a se cuidar faz parte da educação!

Confira também nossa matéria sobre a primeira ida ao odontopediatra (clique aqui).

 

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