Todos somos diferentes! Nascemos em cidades diferentes, culturas diferentes, temos características diferentes e isso faz com que sejamos especiais! Conhecer a nossa história, nosso passado é essencial! Eu sempre falo da importância de contar a sua história para os seus filhos. É muito importante saber de onde viemos, quais eram os sonhos dos nossos antepassados, o que faziam…

Além disso, conhecer as individualidades é importante para termos mais respeito pelo outro! Saber que cada pessoa tem a sua história, suas qualidades, seus defeitos, suas características físicas, torce para um time, tem uma religião… Não somos iguais e é preciso respeitar isso! Não se pode ter preconceitos!

Para falar sobre história de vida, entrevistei o Henrique Sitchin que é ator, contador de histórias, autor e diretor teatral com mais de vinte prêmios recebidos. É coordenador da Cia. Truks – Teatro de Bonecos e do Centro de Estudos do Teatro de Animação de São Paulo. Com sua trupe, viaja pelo mundo, ensinando sobre o teatro de bonecos e apresentando peças.

Ele acaba de lançar, pela Editora Panda Books, o livro: “Meu Avô Judeu”, no qual conta sobre o menino Henrique, que narra as histórias que seu avô lhe contou sobre o povo judeu. Ao longo das conversas, o vovô relembra a pequena aldeia em que nasceu na Ucrânia e explica os motivos que levaram à perseguição de judeus ao longo dos tempos. O neto também aprende com o avô o significado dos rituais e celebrações judaicas, revelando a importância da preservação de suas crenças, costumes e tradições na família.

O livro conta ainda com ilustrações da Ionit Zilberman, que nasceu em Tel Aviv, em 1972. Aos seis anos, mudou-se para São Paulo. Formou-se em artes plásticas pela Faap e trabalha como ilustradora de livros infantis e já ilustrou mais de vinte livros.

Esse livro faz parte da Coleção Imigrantes do Brasil que resgata as origens e a cultura dos povos que ajudaram a construir a nossa própria história. Entre os livros lançados, encontram-se: Meu Avô Africano, Meu Avô Alemão, Meu Avô Árabe, Meu Avô Chinês, Meu Avô Espanhol, Meu Avô Grego, Meu Avô Italiano, Meu Avô Japonês e Meu Avô Português.

“Meu Avô Judeu” é um livro infanto-juvenil, voltado para crianças a partir dos oito anos. “Porém, acho que se destina, a bem da verdade, para toda a família. Isso existe muito no teatro: peças para toda a família. Acho que esse é um livro para toda a família. Tenho amigos adultos que leram e gostaram bastante”, ressalta Henrique. E eu também acho! Vale a pena ler com o seu filho! Além de trazer informações sobre a cultura judaica, a origem do povo judeu; o livro conta a relação de Henrique com o seu avô. O autor destaca a importância dos avós e suas histórias na vida de uma criança. E com tantas lembranças boas, Henrique não poderia deixar de escrever este livro!

“A ideia e, consequentemente, o objetivo do trabalho, surgiu em conversa com a Panda Books, quando me foi apresentada a coleção ‘O Meu Avô Imigrante’. Fiquei encantado com a iniciativa e, na ocasião, contei que meus quatro avós vieram da Ucrânia. Logo a editora me fez o convite para escrever um livro para a série, que seria ‘O Meu Avô Ucraniano’. Porém, havia um problema, pois os meus avós vieram de pequenas aldeias judaicas na Ucrânia, e não tinham uma identidade ucraniana. Eram aldeias quase que autônomas do país, onde inclusive se falava um idioma próprio. Então eu sugeri à editora a ideia de um livro que falasse dessa identidade judaica. Assim como há no Brasil uma comunidade alemã, outra japonesa, armênia, italiana, existe uma judaica. Há um lado do judaísmo que está fortemente ligado a uma identidade nacional, e sobre isso haveria muito o que contar”, relata Henrique.

E o que mais marca no livro é a relação de amor entre o menino Henrique e seu avô! Mas, afinal, qual a importância dos avós na vida de uma criança? “Eu não saberia responder essa pergunta de forma científica. Consigo respondê-la de forma emocional, a partir da memória do que foi o meu avô em minha vida. Esse avô é considerado por todos, em nossa família, não somente como um daqueles grandes patriarcas, elo de ligação entre todos, como sobretudo reverenciado como um bom homem. Foi e é um exemplo de conduta, para todos nós, ainda hoje, mesmo após mais de 30 anos de sua partida. Quando há qualquer indecisão sobre o que fazer, até hoje penso: o que o vovô diria sobre isso? Eu sempre tive uma relação muito especial e estreita com ele, de forma que, para mim, os avós são fundamentais. Creio que do alto da sua sabedoria, que vem com o avançar do tempo e da idade, podem nos orientar de forma muito clara e serena, o que às vezes falta aos pais, imersos nos problemas diários. Eu aproveitaria para dizer para as crianças que ainda convivem com os seus avós, que façam muitas perguntas! Os vovôs e vovós guardam um verdadeiro tesouro em suas memórias de vida. Tenho certeza que as crianças adorarão encontrar esses tesouros nessas conversas que terão”, destaca Henrique.

Transmitir conhecimento e história é essencial! Precisamos conhecer de onde viemos! Como afirma o autor, “é fundamental conhecermos as nossas raízes. Mais uma vez falando nada cientificamente, posso dizer o quanto me senti sempre fortalecido ao conhecer as minhas raízes, nas histórias do meu avô e do meu povo. Há passagens dessas histórias que exemplificam bem isso o que digo: meu avô contou que foi da Ucrânia para Israel a pé, enfrentando a neve e o frio. Quando o imaginava fazendo isso, dormindo nas florestas, buscando alimento sabe-se lá como, sentia um orgulho supremo, que imediatamente se transformava em amor. O orgulho que podemos ter das pessoas é uma ponte para o amor. Então, indiretamente, as histórias nos fazem amar ainda mais, e aprender desde cedo sobre o amor. Não somente, ao ouvirmos essas histórias, sentimos compaixão e cumplicidade. Repito: senti isso pelo meu avô desde a infância. Acredito fortemente que de alguma forma isso ajudou a forjar o meu caráter. Outro exemplo bonito: na festa das luzes, Chanuká, celebramos a resistência dos judeus contra a ocupação de suas terras pelo Império Romano. Conta-se que, quando da invasão romana, a chama dos candelabros que iluminavam o Templo de Jerusalém, duraria um ou dois dias mas, milagrosamente, durou oito dias. Por isso chamamos essa festa de “Festa das Luzes”. Pois bem, em minha vida, sempre que penso que algo não vai dar certo, ou que algo vai faltar, lembro-me dessa história, e minhas forças se renovam. Não me entrego facilmente às dificuldades, afinal, a luz resiste! Ou seja, nossas raízes e nossas histórias nos fortalecem, nos moldam o caráter e nos fazem amar”.

Não podemos viver sozinhos e sem história! Busquem conhecer o seu passado. Você conhece a história dos seus pais, dos seus avós, bisavós? Passe isso para o seu filho. Aproveite os almoços em família, a história na hora de dormir, para contar um pouquinho sobre quem é o seu filho, de onde ele veio! E mais, explique que todos nós temos uma história única e especial! Somos diferentes!

Para terminar, Henrique faz um alerta e deixa aqui uma mensagem: “acredito que o livro faz, principalmente, um apelo à tolerância e um alerta contra o preconceito, nesses tempos difíceis em que vivemos, em que se propagam todos os tipos de ofensas via redes sociais. Não está fácil. Então, creio que o livro pode contribuir para que as novas gerações lancem um outro olhar sobre nós, os judeus. Hoje em dia confunde-se a não concordância com as políticas externas de Israel com ódio aos judeus. Isso é muito grave. Eu, particularmente, meus irmãos, meus filhos, e a memória de meus pais e avós não têm qualquer relação com as decisões do parlamento de Israel e, no entanto, não são poucas as vezes que leio coisas como: ‘esses judeus são tão violentos’, nos comentários sobre o conflito entre israelenses e palestinos, entre outras ofensas muito mais terríveis. Não foram poucas as vezes que, na infância, senti na pele o preconceito diário contra os judeus. E não foram poucas as vezes que isso machucou. Então considero muito importante esta oportunidade de esclarecer alguns pontos e lutar, da forma que me é possível, contra este preconceito, que acho que é parte do que faço com o livro. Não sou um judeu praticante da religião, mas tenho um orgulho imenso de pertencer a este povo. Então, de certa forma, este livro reforça ainda mais o meu elo com o judaísmo. O livro, ainda, contribui para que se conheça mais sobre os judeus, suas histórias e costumes. É um povo com uma história fascinante. O mais antigo a habitar o nosso planeta. Temos costumes de milhares e milhares de anos. Vale a pena conhecer esse mundo tão rico”, emociona-se.

Não deixe de conhecer esse livro! Você vai se surpreender!

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