A descoberta de uma gravidez muda por completo a vida de uma mulher. Seja de forma planejada ou não, passa a nascer, naquele momento, uma mãe! Para entender mais sobre a gestação e os tipos de partos, tivemos uma conversa muito esclarecedora com a ginecologista e obstetra Dra. Avelina Dias Sanches Leite (CRM 24884), de Belo Horizonte, MG.

A primeira (e mais comum) suspeita de que se está grávida é o atraso da menstruação, mais isso só não basta. Para se confirmar uma gravidez, segundo a Dra. Avelina Sanches, “o exame mais indicado e seguro é o beta HCG quantitativo no sangue, pois o exame de urina pode ter um falso negativo; a mulher já pode estar grávida, mas ainda não tem uma quantidade de hormônio circulante que já dê alteração na urina”. Além disso, é muito comum a gestante sentir enjoos, dor mamária, cólica leve (devido ao crescimento do útero e até um pouco de sonolência. Esses sintomas iniciais, segundo a ginecologista, duram, geralmente, até o terceiro mês de gravidez, “que coincide com o aumento mais expressivo dos hormônios, inclusive, do Beta HCG”. Após esse período, esses sintomas tendem a melhorar, mas outros podem aparecer!

Vale lembrar que, tomar medicamentos durante a gestação só deve ser feito com recomendação médica! “Inicialmente, damos orientações dietéticas para a gestante como, por exemplo, alguns alimentos que ela deve comer, quais deve evitar. Também explicamos a maneira de comer, isto é, devem ser feitas refeições fracionadas, em pequenas quantidades; alimentos mais frios, sólidos e ácidos são mais tolerados no início. Tanto o estômago vazio como o cheio demais podem causar enjoos. Porém, para casos mais resistentes existem medicamentos que são liberados na gravidez, mas devem ser prescritos pelo médico”, ressalta a médica.

PRÉ-NATAL

Uma das principais preocupações da mulher grávida é como realizar o pré-natal. “Existem o pré-natal de risco habitual que é para uma gestante sadia, que não tem nenhuma doença prévia e também não desenvolve na gravidez e o pré-natal de alto risco. No primeiro caso, as consultas são mensais até o oitavo mês, quando passam a ser quinzenais e, no nono mês, semanais. Para o pré-natal de alto risco, dependendo da doença, as consultam deverão ser mais frequentes, vai depender de cada caso”, afirma Dra. Avelina.

Os ultrassons, em geral, são feitos da seguinte maneira: “um no primeiro trimestre da gestação, para documentar a gravidez, ver se é um bebê só, se está implantada no útero; outro com 12 semanas para ver a translucência nucal, que é uma medida feita na nuca do bebê para avaliar o risco de doenças cromossômicas, como a síndrome de down; entre 22 e 24 semanas faz-se o ultrassom morfológico para descartar doenças cromossômicas e depois mais alguns ultrassons, com 32, 36 e 40 semanas para seguimento do crescimento e vitalidade do feto.

CUIDADOS DURANTE A GESTAÇÃO

Se a gravidez estiver correndo bem, Dra. Avelina ressalta que “a gestante pode levar uma vida normal, ou seja, vida sexual normal, atividade física normal, claro que com as devidas adaptações, por exemplo, buscar atividades mais indicadas para gestantes como a hidroginástica e o pilates (isso é importante tanto para a questão cardiovascular como para controlar o ganho de peso)”. Além disso, ela destaca que “cuidados com a pele também são importantes: uso de filtro solar (pois a grávida tem tendência a manchar), repelente, cremes para prevenção de estrias e uso de meia elástica para prevenção de varizes e diminuição do risco de trombose”. Caso haja um risco de parto prematuro ou um sangramento, a gestante deve ser avaliada e seguir sua vida com algumas restrições.

PARTOS

Muitas mulheres sonham com o dia do parto e querem escolher como o seu bebê vai nascer: parto normal, cesárea, humanizado, na água… “O parto é um evento que, em primeiro lugar, está relacionado a escolha da mulher. Ela é protagonista no parto e deve ser ouvida, ou seja, o médico deve respeitar o desejo dela, inclusive com relação ao uso de anestesia na hora do parto, posições que pode assumir. Lembrando que, o médico está ali para avaliar se essas escolhas são seguras para ela e para o bebê, mas, tudo o que for seguro e viável deve ser escutado, afinal, o obstetra é o médico que está ao lado da mulher e respeita a fisiologia do parto”, destaca a Dra. Avelina. Segundo ela, “a mulher foi feita para parir, como todos os mamíferos e, na maioria dos casos, ela tem a capacidade de ter um parto normal. Para a Organização Mundial de Saúde, a incidência de cesariana ideal seria de 15%, o que não é uma realidade no nosso país”. É claro que, em algumas situações de exceção “quando o parto tem que ser antecipado, ou a criança está em posição anômala (atravessada, por exemplo) impossibilitando o parto normal, temos a cesariana como opção”.

Um detalhe muito importante e que muitas mulheres não sabem é a diferença entre parto normal, natural e humanizado. O parto normal é todo parto vaginal. Parto natural é aquele que não possui nem um tipo de intervenção médica: “não tem anestesia, não tem soro, não tem corte; ele acontece como na natureza”, destaca a médica. Já parto humanizado, como afirma Dra. Avelina, tem sido chamado pelos médicos de parto respeitoso, pois “humanizado vem de humano e todos têm direito a ele. Até uma cesariana pode ser humanizada, desde que seja feita com respeito, com indicação precisa. Preferimos usar, então, a denominação parto respeitoso, que seria aquele que respeita os desejos da mulher, tratando ela e o bebê de maneira mais carinhosa, respeitosa; tendo consideração ao momento que ela está vivendo. O respeito está em cada detalhe: no ambiente mais silencioso, com menos luz, menos estímulos, pois a criança que está chegando não está acostumada a isso”. Outro ponto importante é o contato da pele do bebê com a pele da mãe, que vai trazer mais segurança para a criança e estabelecer o vínculo materno-fetal. “Assim que o bebê nasce, ele vai direto para a mãe e lá é aquecido. Só não vai acontecer esse contato, caso o bebê precise de assistência como oxigênio, intervenção do pediatra. Nestes casos, o cordão umbilical será cortado e o bebê será levado pelo pediatra para, no berço aquecido, receber atendimento. Mas se o bebê estiver chorando, esperto, com movimentos, ele fica com a mãe antes de cortar o cordão. Isso, inclusive, estimula o aleitamento precoce, pois o bebê encostado no corpo da mãe já pode sugar o peito na primeira hora de vida, estimulando a descida do leite e a contração uterina prevenindo hemorragia pós-parto”, destaca a obstetra. Para quem tem interesse neste tipo de parto, a Dra. Avelina ressalta que, “hoje, dentro do projeto de humanização, nas maternidades particulares de Belo Horizonte (Maternidade Santa Fé, Maternidade da Unimed e Mater Dei) e em algumas públicas (Maternidade Odete Valadares, Sofia Feldman) já existem quartos, chamados de suítes de parto, onde o bebê pode nascer, inclusive na presença de outros familiares. É um ambiente no qual a mulher se sente mais acolhida, não precisa ficar deitada em trabalho de parto, pode ficar andando, na bola de pilates, na barra, favorecendo a descida do bebê. É um quarto que não tem ‘clima’ de bloco cirúrgico, mas que está dentro de um hospital e próximo ao bloco cirúrgico, caso haja alguma necessidade”.

Existe também o parto na água que, nada mais é, que uma maneira de vir ao mundo. “Usamos muito a água (chuveiro, banheira) para relaxamento e alívio de dor das contrações da gestante. O que ocorre é que, muitas vezes, o parto acaba acontecendo na água, pois a mulher já está ali. Importante dizer que, a criança está saindo da água para a água, não tem nenhum problema. Dentro da água ela não respira. Isso só ocorre quando o cordão é clampeado e a criança emerge na superfície, tendo contato com o ar”, afirma a Dra. Avelina.

Vale ressaltar que alguns partos são mais tranquilos que outros, porém, todos têm riscos! Como declara a médica: “todo parto tem risco. A mulher pode ter uma hemorragia (independente do parto ser na água, normal, natural ou no bloco cirúrgico), caso o útero não contraia bem após a expulsão da placenta; o bebê pode ter algum tipo de sofrimento. Então, é importante que a gestante esteja sempre bem assistida para que, caso haja necessidade de uma intervenção, ela ou o bebê possam ser socorridos”. Dra. Avelina destaca que “com a incidência da anestesia e dos procedimentos médicos, os riscos de complicações aumentam. A cesariana, por exemplo, tem maior risco de sangramento, de infecção. Por isso, sempre que puder ser estimulado o parto normal, para a mulher é muito melhor; inclusive, ela se recupera muito mais rápido para poder cuidar do bebê”.

Algumas dicas da Dra. Avelina para as futuras mamães:

– escolher o obstetra com muito carinho! Ele é a pessoa que vai tirar suas dúvidas, “cuidar” da sua gravidez;

– buscar cursos de orientações para gestantes (amamentação, cuidados com a gravidez, primeiros cuidados com o bebê, alimentação adequada etc). Quanto mais informação melhor;

– ler relatos de partos. Muitas mães compartilham suas experiências: como foi o dia do parto, o que ela sentiu primeiro, se a bolsa rompeu, se doeu, se não doeu, se tomou anestesia ou não.

 

Mamães, a gestação é um dos momentos mais lindos da vida de vocês! Aproveitem, curtam e tirem as dúvidas! É muito importante estar tranquila na hora de receber o seu filho nos braços.

 

Se você está grávida e tem dúvidas sobre algum assunto, escreva para nós: carolina.canalinfantil@gmail.com