Os transtornos alimentares têm aumentado muito nos dias atuais! Crianças que comem em excesso, crianças obesas, crianças que não comem, crianças que não conseguem ver o alimento como algo prazeroso… Os casos são variados, porém, todos precisam receber ajuda profissional. O Canal Infantil entrevistou a nutricionista Andréa Sasso e a psicóloga Dinacarla Gonzaga Piermatei, criadoras do Projeto Levemente Infantil. Trabalhando no Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), da Secretaria Municipal de Saúde, as profissionais, em parceria com a Prefeitura de Belo Horizonte (que apoia o projeto), observaram a necessidade de várias crianças e adolescentes e, assim, tiveram a ideia de trabalhar com as dificuldades alimentares. Atualmente, o projeto recebe crianças a partir dos três anos de idade e já atende cerca de 100 crianças (além dos familiares envolvidos).
Como explica Dinacarla, “criamos o projeto dentro da Prefeitura de Belo Horizonte, a partir das necessidades percebidas na nossa área (Regional Norte – bairros que são atendidos pelos Centros de Saúde Jaqueline I, Jaqueline II, Zilah Spósito e Etelvina Carneiro)”. “O projeto tem como objetivo trabalhar com crianças e adolescentes que têm sobrepeso, obesidade ou alguma dificuldade de alimentação (não quer comer, tem alteração de colesterol, prisão de ventre crônica) e, ainda, ajudar os familiares. Tanto as crianças e adolescentes quanto os familiares participam do grupo, das reuniões”, destaca Andréa. Elas afirmam que, para participar do grupo é necessário passar antes pela equipe de saúde da família, que vai avaliar cada caso (qual o problema, como é a situação familiar), para depois encaminhar ao NASF. Como explica Andréa, “antes de atender o paciente, vários profissionais como médico, enfermeiro, agentes comunitários de saúde vão discutir sobre tudo que envolve a vida dele”. Um detalhe importante é que, como explica Dinacarla, “o grupo é aberto e não tem um tempo estipulado de acompanhamento, mas, sim, uma proposta, de mais ou menos um ano, na qual as profissionais percorrem alguns temas considerados importantes. Porém, pode acontecer da família e do paciente permanecerem conosco por mais ou menos tempo”. Vale ressaltar que, mesmo que a criança ou o adolescente não participe de algum encontro, mas vá um familiar em seu lugar; o mesmo não será excluído do grupo!
Infelizmente, vivemos em um tempo onde os distúrbios têm sido comuns! Os alimentares então, nem se fala! Para se ter uma ideia, os casos mais atendidos pelo projeto das profissionais são de obesidade infantil. Como afirma Andréa, “hoje há uma epidemia mundial. E, no Brasil, tem aumentado muito os casos de sobrepeso e obesidade na infância, principalmente entre os três e quatro anos. O que é muito preocupante”.
Os pais devem estar sempre atentos e preocupados em cuidar dos filhos!
Andréa ressalta que, no âmbito da nutrição, deve-se trabalhar várias questões com o paciente e com as famílias. “Jamais trabalhamos a proibição. Focamos na conscientização! Pode comer hambúrguer, pizza, açaí, mas tudo com limite! Sempre orientamos os pais a organizar melhor a alimentação e as crianças a aceitarem essa organização. Mostramos que o saudável não é ruim”, afirma a nutricionista. Muitos pais perguntam sobre o plano alimentar, isto é, um organograma de horários e alimentos que devem ser consumidos pelos filhos. Apesar de prático, Andréa explica que não gosta muito de utilizá-lo, pois toda dieta alimentar causa sofrimento, estresse e limita o paciente. “Porém, quando os pais ficam ansiosos, sem saber o que dar de alimento para o filho, é importante o plano alimentar. Mas sempre digo: tudo é permitido; o que não pode é o excesso”, afirma Andréa.
Mas os distúrbios alimentares não passam somente pela nutrição; a psicologia também é fundamental para ajudar o paciente a ter sucesso! “O grande diferencial do projeto é o trabalho de forma integrada entre todos os profissionais envolvidos. Alimentar-se vai além da função nutricional do alimento, mas é também parte de um comportamento que é aprendido nas relações, na convivência com a família, com a sociedade”, destaca Dinacarla.
Cabe dizer que sempre é tempo de se aprender um hábito novo! No entanto, é muito importante que não só a criança ou o adolescente estejam com vontade de mudar! A família precisa entender que ela é fundamental para o sucesso do processo. Ela precisa estar envolvida e acreditar nas mudanças de rotina!
Outro ponto importante e que tem preocupado muito é que, atualmente, as crianças e adolescentes estão cada dia mais ansiosos, nervosos e também ociosos. A chegada da tecnologia criou uma geração que se movimenta menos e come mais. Pensando nisso, a psicóloga explica que durante as sessões, é trabalhada a organização da rotina. “A alimentação é uma das atividades da rotina da criança, do adolescente, então, focamos na divisão das tarefas, no tempo de uso das tecnologias. Ensinamos a ter equilíbrio em tudo. É importante pensarmos no sentido da alimentação, das atividades para a vida da criança e do adolescente, juntamente com a família. Até a questão do plano alimentar é abordada de forma a fazer sentido na vida daquela família. Jamais podemos transformar a relação com a comida e com o corpo em sofrimento”, ressalta Dinacarla.
Apesar do trabalho não ser fácil, os casos de sucesso são muitos! Como destaca Andréa, “o sucesso é bem amplo! Não há só perda de peso, mas mudança de comportamento e melhora da qualidade de vida. Vale lembrar que, ao mudar a qualidade de vida da criança, ela vai ter um convívio social melhor e mais fácil; além de se evitar o Bullying, que é muito comum hoje”.
Sabemos que as escolas são espaços fantásticos para se trabalhar a questão da alimentação, afinal, a criança passa muito tempo do seu dia lá. Como destaca Dinacarla, “quanto mais as ideias de cuidados com a saúde, com a rotina forem compartilhadas nos espaços coletivos, mas serão fortalecidas”. Porém, toda grande mudança começa dentro de casa, na família! Andréa lembra que a conscientização nas escolas é importante, mas a família precisa apoiar e estar aberta à mudança de rotina.
Andréa afirma que “ser saudável é fundamental e a conscientização das pessoas tem aumentado muito. Independente do peso, o importante é a saúde. Nem todo magrinho é saudável”. Ela lembra ainda que na alimentação nada é proibido! Mas alguns alimentos, como os industrializados, devem ser consumidos com cautela, “pois são produtos não balanceados, com poucas fibras, poucos nutrientes”.
Para concluir, Dinacarla destaca que “quanto antes se estimular a consciência da qualidade de vida, melhor vai ser a alimentação e a chance de se construir uma vida mais saudável! É claro que todo processo demanda tempo. Os resultados mais duradouros, por vezes, é mais lento. Não há fórmulas mágicas! Mas, quanto antes começarmos, mais cedo teremos resultados”!
Então, você que é pai, que é mãe, ajude seu filho a ser saudável! E, se estiver muito difícil, não hesite em buscar ajuda profissional.
Se você está passando por alguma dificuldade alimentar com seu filho, escreva para nós: carolina.canalinfantil@gmail.com
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