Para comemorar a data de hoje, DIA NACIONAL DO LIVRO INFANTIL, conversei com o escritor e presidente da Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil (AEILIJ), Alexandre de Castro Gomes. Ele já lançou mais de 30 livros, desde sua estreia em 2008, tendo alguns sido publicados na Europa, China e América Latina. Além disso, Alexandre foi o idealizador e curador do I Prêmio AEILIJ de Literatura, organizou a Blitz Literária (atividade que levou 30 autores de LIJ para escolas públicas municipais do Rio de Janeiro), criou e administrou site e blog, produziu anuários, organizou mesas de debates, firmou parcerias, liderou as mudanças no estatuto da entidade, criou campanhas em prol do livro e da leitura, organizou duas antologias com autores associados, além de diversas outras atividades.

E não para por aí! Super ativo nas redes sociais, o autor viaja o Brasil com as oficinas literárias Quero Ser Autor e dá várias palestras. Alexandre já recebeu prêmios e teve alguns de seus livros selecionados para os principais programas de compras de governos.

Aqui no Canal Infantil eu sempre falo da importância da leitura e divulgo vários livros. A criança deve ser estimulada à leitura desde o ventre materno. Segundo Alexandre, “a leitura de livros de literatura é um hábito que só traz benefícios para quem o cultiva. Proporciona conhecimento, provoca reflexões, amplia o senso crítico, melhora a escrita, aumenta a capacidade de empatia, fazendo com que o leitor enxergue pelo olhar do próximo… São tantos os benefícios que fica fácil entender o porquê de incentivar esse hábito o quanto antes. A criança tem uma curiosidade natural do mundo que a cerca e, nos livros, encontra mistério, humor e aventura. Um mundo de fantasia que alimentará sua imaginação e estimulará sua criatividade por toda a vida. Afinal, sabemos que quanto mais criativa a pessoa é, maiores as suas chances de sucesso”.

Para que isso aconteça, é fundamental a ajuda dos papais! Alexandre explica que os pais podem estimular os filhos “lendo para eles, mantendo uma biblioteca de fácil acesso em casa, criando um hábito de leitura antes de dormir (nem que sejam 20 minutos somente) e levando as crianças para a livraria de vez em quando. Já viu criança desinteressada em livraria? Eu nunca vi. Elas ficam fascinadas com tantos títulos e cores. É bom deixá-las escolherem suas próprias leituras, mas se os próprios pais forem leitores, vale indicar seus livros favoritos. Só não pode impor nada. Ninguém gosta de ler por obrigação”.

Cabe ressaltar que existem inúmeros livros infantis. Tem para todos os gostos! Porém, Alexandre destaca que nem todos os livros são adequados e agradáveis.

“Publiquei 30 livros em 10 anos e espero publicar bem mais. Eu gosto muito! Encanta-me a possibilidade de formar leitores e a LIJ é porta de entrada para esse mundo. Muita gente acredita ser fácil escrever literatura infantil e juvenil. Muita gente se engana. Criança não gosta de porcaria. Livro porcaria não vende. ‘O cachorrinho fofinho roeu o ossinho’, além de ser muito chato, é um insulto à inteligência dos leitores. Eu encaro a conquista do leitor mirim como um desafio. Quero prender a sua atenção. Quero que ele se imagine dentro da história, resolvendo os conflitos que surgirem no texto”, destaca Alexandre.

E mais: “acredita-se que é muito mais difícil manter o interesse de uma criança do que o de um adulto. O mundo é novidade para ela e há muitas distrações em volta. Criança, quando não gosta de um texto, nem lê a segunda página e deixa o livro de lado. Já os adultos dão mais chances ao livro. São mais teimosos e tendem a buscar pontos positivos em tudo o que fazem”, alerta o escritor.

Alexandre, ao contrário de muita gente, não vê a tecnologia como um meio para afastar os livros. Ele explica que “é extremamente importante termos aquele momento de introspecção, quando nos conectamos com os nossos próprios pensamentos. A leitura literária é um entretenimento solitário e rico em experiências emocionais, que ajuda a moldar a nossa personalidade, nos dando estofo ou conteúdo, para lidar com o mundo em volta da gente. Eu não vejo os games e as redes sociais como adversários dos livros. Tudo isso pode conviver em harmonia, até porque o mundo tecnológico contém um mundo social de extrema importância para jovens e adultos do século XXI. Cada atividade tem o seu papel no desenvolvimento humano. O segredo está em saber dividir o tempo para aproveitar tanta oferta. Mas, como disse, 20 a 30 minutos de leitura antes de dormir já é um bom começo”.

É válido dizer que, infelizmente, o mundo atual perdeu um pouco do seu encantamento pelo faz de conta. As crianças não brincam tanto, não querem aprender histórias. “Essa perda é terrível. Parte da agressividade que vemos nas redes sociais hoje em dia, deve-se à falta de encantamento do jovem com o lúdico. No entanto, creio que, pelo menos nas capitais, a oferta de oficinas e eventos de leitura e contação de histórias é satisfatória.

Vejo aqui três problemas que precisam ser resolvidos. O primeiro é que nem todos dão a importância necessária para esses oficinas e eventos. O segundo é que muitos desses oficineiros são mal remunerados. O terceiro é que nem todas as crianças moram nas capitais”, alerta o escritor.

O que poderia ser feito para mudar um pouco, segundo Alexandre, é “divulgar esses eventos e provar a importância que eles têm para a formação da criatividade do jovem. Precisamos também arrumar uma forma de remunerar esses oficineiros para que sejam justamente pagos, e, assim, continuem a realizar, e até ampliar, seu trabalho nas grandes cidades. Já soube de casos em que profissionais qualificados precisaram tirar dinheiro do bolso para trabalhar. Infelizmente alguns acabaram desistindo. É preciso haver incentivos de governos e de empresários. É preciso firmar parcerias com escolas e com organizadores de eventos culturais. Havendo divulgação, interesse e incentivos, é provável que novos oficineiros surjam nas pequenas cidades para encantar jovens e adultos, levando histórias para os cantos mais remotos do país”.

Para concluir, Alexandre dá uma dica para os papais: “minha dica principal é a mais óbvia de todas: conheça os interesses do seu filho. Assim saberá que tipo de livro o atrai. E valorize os autores nacionais contemporâneos. Eles conversam diretamente com a criança de hoje sobre o mundo de agora”.

E agora é com vocês, papais e mamães! Leiam, contem histórias, brinquem com os livros e encantem o pequeno leitor que vocês têm em casa!

AEILIJ

Para quem não conhece, a “AEILIJ é a maior entidade de representação de autores de LIJ no país. Temos coordenações regionais em vários estados e em junho de 2018, completaremos 19 anos de atividades. Produzimos antologias literárias e anuários com os trabalhos dos associados, criamos um prêmio de alcance nacional, realizamos trabalhos solidários em escolas públicas e em bibliotecas, mantemos site/blog/página e grupo no Facebook/canal no Youtube/lista de discussões em e-mails, mantivemos um boletim impresso, montamos mesas de debates sobre literatura em eventos literários, já fomos diversas vezes à Brasília para defender os interesses dos autores de literatura infantil e juvenil perante o MinC e o MEC, realizamos parcerias com outras entidades ligadas ao livro, damos dicas a novos autores, redigimos documentos em repúdio ao desmonte de programas de leitura, montamos exposições de ilustradores que já correram o Brasil, produzimos seminários, criamos campanhas… É tanta coisa que fica difícil listar”.

Dentre os objetivos, Alexandre cita os três primordiais: “o primeiro é defender os interesses dos associados e da categoria. O segundo é gerar e participar de campanhas e ações pelo incentivo à leitura, e, com isso, ampliar o alcance e a divulgação do livro de literatura infantil e juvenil. O terceiro é o acolhimento de novos autores”.

 

Mande suas sugestões, dúvidas, críticas: carolina.canalinfantil@gmail.com

 

Instagram: @canalinfantil

Facebook: @canalinfantiloficial