Maria Carolina ScarantiVocê se lembra de quando não havia celulares, computadores, tablets? Foi outro dia, mas parece tão distante, não é mesmo? A tecnologia avança a cada dia e quase não nos lembramos de como era a nossa vida sem essas telas.
Atualmente, basta um clique para alcançarmos o que queremos em segundos. Mas o uso das telas, apesar de todos os benefícios, precisa ser feito com cuidado e com limite, principalmente entre as crianças e os adolescentes.
Esse aumento do uso de telas por essa faixa etária tem causado preocupação e pode levar a sérios problemas! Conversei com a Fabia Antunes, diretora pedagógica da Escola Lourenço Castanho, que explicou sobre os cuidados que devemos ter em relação ao uso de telas pelos nossos filhos.
Fabia Antunes
CANAL INFANTIL – Sabemos que a tecnologia é muito útil nos dias atuais e traz benefícios. Porém, o uso indiscriminado de telas causa inúmeros danos às crianças e aos adolescentes. A que se atribui esse aumento do uso de telas desde cedo?
FABIA ANTUNES – O uso das telas, hoje, de forma indiscriminada pelos adultos e pelas crianças, tem tomado conta da nossa sociedade atualmente. E cada vez mais acredito que os adultos têm se ocupado muito com suas questões profissionais e até sociais nos dispositivos, fazendo com que as famílias, os adultos responsáveis por cuidar desse momento em família se sintam extremamente atarefados.
As questões profissionais também invadiram as casas com a pandemia, fazendo com que o tempo destinado aos rituais familiares estejam sendo atravessados por essas novas tecnologias. As famílias pouco têm conseguido manter pequenos rituais, como almoço, jantar, um filme que vai assistir em casa ou até um jogo que se jogaria em um tabuleiro.
Essa passagem para o digital veio de forma avassaladora para todos. Tem havido pouca reflexão por conta desses atravessamentos que o digital fez na vida profissional dos adultos, que também ficam com essas crianças. Colocar um vídeo, um desenho no celular, por exemplo, faz com que o adulto consiga cuidar das suas responsabilidades, mas isso é muito danoso para as crianças.
Porque o contato, a presença do adulto, que é uma referência para o desenvolvimento da criança, não está se fazendo presente em um tempo adequado e o tempo de tela hoje é algo muito questionado. E não só o tempo, mas o que está sendo visto. A qualidade do conteúdo é algo que precisamos cuidar muito em relação aos tempos de tela.
CANAL INFANTIL – Qual a importância das famílias, dentro de casa, conscientizarem seus filhos sobre o uso dos celulares?
FABIA ANTUNES – Os adultos sempre são um exemplo. Se estou em um momento em família, em uma refeição, assistindo um filme ou num jogo junto a família, um bate-papo e o tempo todo trago o meu olhar para a tela porque recebi uma notificação, isso é algo que vai sendo ensinado para as crianças.
Valorizar o tempo com a criança, mas um tempo de qualidade, com dedicação e presença, faz toda a diferença dentro de casa. É bem importante cuidar da forma como os adultos estão usando seus dispositivos e a família decidir se os filhos estão em idade de receber o próprio aparelho. E que esse tempo de uso em casa seja muito cuidado e feito de forma equilibrada.
CANAL INFANTIL – Muitos pais, quando estão em casa, usam o celular o tempo todo. Isso afeta a percepção da criança sobre a limitação do uso de telas?
FABIA ANTUNES – Como falado anteriormente, sim. O uso do dispositivo em casa pelo adulto influencia totalmente, seja na leitura, no descanso e na alimentação. Os adultos da casa sempre são uma referência muito importante para o desenvolvimento das crianças e é muito importante que o responsável saiba que é o exemplo para aquela criança.
CANAL INFANTIL – Você acredita que estamos vivendo um momento crítico e de vício em telas?
FABIA ANTUNES – Acredito que vivemos atualmente um momento crítico por conta da inteligência artificial, dos usos de dados de forma descuidada, porque não temos uma legislação ainda que organize tudo isso. As telas vão se tornando cada vez mais atrativas, porque tudo fica cada vez mais personalizado. Cada vez mais, as telas vão agradando por conta de todos os dados que circulam. As escolhas vão, intencionalmente, chegando cada vez mais de forma apurada para o consumidor daquelas telas.
CANAL INFANTIL – Como os pais podem diminuir o uso de telas em casa, tanto deles quanto das crianças?
FABIA ANTUNES – A família pode trazer memórias da própria infância. Trazer oportunidades de experiência ao ar livre, com movimento. Resgatando coisas valorosas, momentos valorosos para a família, para os familiares irem ao parque, jogar uma bola, passear, visitar museus na cidade. Se envolver em momentos de presença, como disse anteriormente, presença com qualidade para as crianças.
Isso vai ampliando o repertório dessa criança, tanto cultural como familiar, fazendo com que essas lembranças e experiências afetivas qualifiquem a escolha da criança. Ela pode começar a pedir para voltar ao parque, brincar com a família, ao invés de pedir um dispositivo o tempo todo, para assistir um filme ou participar de um jogo online.
CANAL INFANTIL – Deixe uma mensagem para as famílias e para os educadores.
FABIA ANTUNES – Tanto para as famílias como para os educadores, as novas tecnologias potencializam a expressão e hoje todo mundo vive isso. Só temos que tomar cuidado com o que estamos substituindo, se são momentos de estabelecer relações entre as pessoas, entre os seres humanos. Por outro lado, a tecnologia pode expressar uma forma de linguagem que não é possível presencialmente, às vezes, por você não estar fisicamente naquele momento.
Existem muitas possibilidades de uso da tecnologia, mas é sempre importante entender se estamos simplesmente substituindo aquela experiência. Porque ela pode ou empobrecer ou potencializar relações.
Sobre Fabia Antunes
Diretora Pedagógica da Escola Lourenço Castanho. Doutora e Mestre em Pedagogia do Movimento pela Universidade de São Paulo – USP, com pesquisa voltada para a construção curricular e aprendizagem educacional. Bacharel e Licenciada em Educação Física pela Universidade de São Paulo. Especialista pela Harvard University – Bok Teaching Certificate.
Especialista em Marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing ESPM.
Assessoria de Imprensa: Betini Comunicação