Tenho recebido várias perguntas sobre o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). Sei que esse é um tema muito importante e que precisa ser mais abordado na sociedade. Por isso, na matéria de hoje, a Psicóloga Infantil e Adolescente e Terapeuta Cognitivo Comportamental Aline Rodrigues responde a perguntas enviadas pelos leitores do Blog Canal Infantil.

Confiram!

Por Aline Rodrigues

Compreendendo melhor o TDAH

Podemos abrir este bate-papo, com a seguinte pergunta: até que ponto é uma “birra”, “malcriação”, “ligada no 220”, “rebeldia”, “avoada”, “desatenção” ou “fingimento” para um comportamento inadequado de uma criança?

Que atire a primeira pedra quem nunca usou algum desses termos para se referir a uma criança ativa, desatenta e com dificuldades para acatar as regras. Essas características podem ser indícios do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). Abaixo estaremos respondendo esta pergunta tão comum no nosso dia a dia.

Pais, separamos algumas perguntas frequentes e comuns sobre o mal comportamento das crianças e a relação com o TDAH.

O primeiro ponto do nosso bate-papo é ressaltar que este transtorno não é exclusividade das crianças, porém tende a aparecer durante a infância, mas pode se prolongar ao longo da vida adulta ou mesmo só ser diagnosticado de forma tardia. No entanto, muitos pais demoram a procurar ajuda ou não aceitam o diagnóstico por pensarem que é coisa da idade, que vai passar com o tempo. Porém, o envolvimento da família nesse processo é primordial.

  • O que é o transtorno?

O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um distúrbio neurobiológico que atinge principalmente as crianças, mas também pode ser diagnosticado em adolescentes e adultos. Caracterizado por capacidade de atenção diminuída, impulsividade e hiperatividade.

  • Existem Causas?

Existem causas seguras para estas alterações, e outras que ainda geram dúvidas nos especialistas.

– A primeira é a hereditariedade, os genes não são responsáveis pelo Transtorno em si, mas por uma predisposição ao TDAH. É importante saber que o Transtorno é multifatorial, nunca se deve falar em determinação genética, mas sim em predisposição ou influência genética.

– A segunda é o sofrimento fetal, pois alguns estudos revelam que mulheres que tiveram problemas no parto, que acabaram causando sofrimento fetal, tinham mais chance de terem filhos com TDAH. Mas a relação de causa não é clara.

– A terceira é a exposição ao chumbo, pois crianças pequenas que sofreram intoxicação por chumbo podem apresentar sintomas semelhantes aos do TDAH. Entretanto, não há nenhuma necessidade de se realizar qualquer exame de sangue para medir o chumbo numa criança com TDAH.

– A quarta são substancias ingeridas na gravidez como a nicotina e o álcool, pois podem causar alterações em algumas partes do cérebro do bebê, incluindo a região frontal orbital.

É importante lembrar que muitos desses estudos somente demostram uma associação entre estes fatores, mas não indicam uma relação de causa e efeito.

AGORA VAMOS ENTENDER O QUE, DEFINITIVAMENTE, NÃO CAUSA O TDAH!

Podemos resumi-lo como um transtorno neurobiológico com causas genéticas, assim permite delimitar o que não possui relação nenhuma como:

  • Não tem origem em conflitos neuróticos, relacionados ao Completo de Édipo.
  • Não tem origem em problemas familiares ou conjugais: por mais que eles possam provocar perturbação de adaptação, cujos os sintomas são bem parecidos com o TDAH.
  • Não se relaciona com problemas emocionais e psiquiátricos, mesmo que outros familiares possam ter alguma doença mental.
  • Não tem origem em uma educação inadequada. Os sintomas não tem nenhuma origem no método de educação seguido pelos pais. No entanto, conduzir o comportamento dos filhos de maneira adequada e cuidadosa faz toda diferença durante o tratamento do Transtorno.
  • Não tem origem em participação inapropriada do meio social ou educacional, ou seja, não varia muito de acordo com a classe social.
  • Não se deve a consumo excessivo de açúcares, aditivos ou corantes artificiais, nem a processo alérgicos.
  • Corante amarelo, aspartame, luz artificial, deficiência hormonal e o uso constante de tecnológica não são causas do surgimento do transtorno.

 

  • Qual o profissional que dá o diagnóstico?

A investigação para o diagnóstico costuma ser bem detalhada. Em geral, são feitos testes e avaliações neuropsicológicas, além de relatório escolar e dos relatos da família para confirmar o diagnostico e investigar se existem outros transtornos associados.

  • Como saber se meu filho tem TDAH? Uma criança agitada é sinal de TDAH?

Crianças com TDAH têm dificuldade em manter a atenção por períodos longos, dificuldade de executar as tarefas até o fim. Os primeiros sinais de TDHA normalmente aparecem na fase escolar. Esses sintomas devem estar presentes em dois ou mais ambientes (escolar, familiar, profissional) por um período prolongado, para que caracterize um quadro de TDAH. Uma criança agitada nem sempre é sinal de TDAH e é importante sempre verificar se existem outros sintomas.

  • Toda criança com TDAH precisa tomar remédio? Li que a Ritalina faz muito mal e tem sido usada sem necessidade. Por que os médicos ainda prescrevem?

A indicação de remédios é defendida por alguns especialistas como a maneira mais eficaz de amenizar os sintomas do Transtorno – como a falta de foco, a impulsividade e a hiperatividade. Por outro lado, há quem condene as medicações utilizadas para essa finalidade, criticando seus efeitos colaterais e, principalmente, o uso indiscriminado do medicamento. A prescrição dos remédios é necessária para equilibrar substância químicas no cérebro que interferem no comportamento do seu portador, e serve para reajustar esta falta, principalmente por via dopamina, prejudicada nesses pacientes. A terapia por si só ajuda a melhorar 30% do transtorno, já a ação do remédio controla 60%. Os dois juntos chegam a quase 100% de melhoria.

  • Como ajudar uma criança com TDAH?

As crianças que possuem o transtorno necessitam de uma atenção diferenciada, principalmente durante as aulas. É importante que o professor não trate esta criança como sendo diferente, mas sim olhe com mais cuidado em relação as cobranças pedagógicas.

– Colocá-la na frente para não perder a atenção;

– Dar mais tempo para executar as atividades e provas;

– É necessário os pais se cuidarem também, já que o fator da genética está presente;

– Lembrar que o portador age involuntariamente;

– Ter paciência para falar e ensinar inúmeras vezes;

– Ajudar a criança a achar seu próprio caminho para organização;

– Ter sempre tempo disponível para interagir com a criança;

– Incentivar as brincadeiras de jogos e regras até o final independendo do resultado de ganhos ou perdas;

– Evitar ficar com a criança dentro de casa o tempo todo.

– Estabelece cronograma, rotinas e períodos de descansos.

– Procure sempre perguntar para a criança o que ela deseja ou que está sentindo, o que está achando das coisas invés de impor;

– Use mural, folha avulsa de calendário ou adesivos para lembrar das coisas.

Para finalizar o nosso bate-papo, venho apresentar um dos recursos mais úteis para o tratamento do TDAH, que seria as terapias. Em especial a TERAPIA COGNITIVA-COMPORTAMENTAL, que é a minha atuação no consultório. Então percebo na prática e no dia a dia das crianças melhorias significativas, que evitam o uso da medicação.

Vamos entender melhor esta atuação?

TERAPIA COGNITIVA-COMPORTAMENTAL

O tratamento da hiperatividade precisa auxiliar a criança a desenvolver novos padrões de comportamento e de pensamento. Desse modo, ela vai conseguir administrar melhor sua impulsividade, agitação e dificuldade de concentração. Não à toa, o profissional responsável pela terapia cognitiva-comportamental vai atuar com uma espécie de treino relacionado a soluções de problemas e melhores habilidades sociais. Além disso, deve proporcionar formas de relaxamento e estabelecer agendas de atividades rotineiras, de objetivos e metas a serem cumpridas. O terapeuta também ensina como modificar as formas de pensar e lidar com problemas que podem ser prejudiciais de imediato; e o melhor: apresentando resultados de forma duradoura.

Isso ocorre, pois, a abordagem caracteriza-se pela busca de mudanças nos afetos e comportamento por meio de chamada reestruturação cognitiva, isto é, substituir crenças, pensamentos e formas de interpretar as situações que sejam negativas e disfuncionais por outras formas de pensar e perceber o mundo.

Fontes

Coleção SÍNDROMES E DISTÚRBIOS- DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE

“Como combater a agitação em excesso e lidar com o transtorno”. Editora Alto Astral

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