No texto de hoje, a Psicóloga Jéssica Suzana aborda um tema muito difícil mas necessário: como falar sobre a morte com as crianças! Melhor seria se jamais tivéssemos que falar sobre esse assunto. Porém, infelizmente, em algum momento da vida, nossos filhos vivenciarão a perda de um parente, de um animal; o afastamento de um colega; a perda do emprego do pai ou da mãe. Enfim, são muitas formas de perdemos algo ou alguém. E precisamos falar sobre isso!

Confiram!

 

Por Jéssica Suzana

Falar sobre morte já é um assunto difícil para todos os adultos, dirá para as crianças. De um modo geral, subestimamos muito as crianças em muitas coisas e, sobre este assunto, mais ainda. Com o intuito de protegê-las, não falamos sobre, porém, estamos criando formas delas apenas entenderem sobre a vida e seus ganhos e nunca sobre nossa finitude e as perdas. Fazendo isso, acabamos reforçando nelas a dificuldade de lidar com várias perdas vivenciadas ao longo da vida: seja a morte do animal, a mudança do amigo de cidade, a morte de alguém da família, entre outros. Afastamos magicamente as crianças sobre assuntos do tipo, com o intuito de minimizar a dor, mas, muitas das vezes, queremos proteger nossa ignorância e despreparo enquanto adultos.

A morte é inevitável, faz parte do ciclo da vida, e não falar para a criança é não ajudá-la a entender este ciclo natural. Dizemos que queremos evitar que a criança sofra, mas, o sofrimento não faz parte da vida? Por que negar? Ou, por que não ensinar à criança? Afinal, todos teremos aflições algum dia, e lidar com as perdas e com o sofrimento é preciso ser um processo de desenvolvimento e crescimento, não um regresso e algo prejudicial. Não ensinar às crianças sobre isso, é deixarmos que cresçam confusas e desorientadas, e isso sim é prejudicial ao desenvolvimento cognitivo, emocional e social.

Elas precisam de uma explicação adequada sobre a causa da morte, com o uso de termos corretos como “morrer” e “morte”, termos vagos como “ir embora”, “virou uma estrela”, “foi dormir”, aumentam a confusão. Ajude ela a aprender a reconhecer, nomear, aceitar e expressar sentimentos, para que não desenvolva defesas diante de emoções difíceis. Compartilhe de forma cuidadosa as crenças religiosas, pois as crianças podem ficar com medo ou ressentidas em relação a um Deus que leva para o céu alguém amado.

Sendo assim, precisamos entender sobre três conceitos básicos sobre a morte:

  • Universalidade – todos os seres vivos (plantas, bichos e pessoas) sem exceção, um dia morrerão;
  • Não funcionalidade – caracteriza-se que na morte, todas as funções vitais cessam: a pessoa não respira, não se mexe, não pensa e não sente absolutamente nada; e
  • Irreversibilidade – é a capacidade de perceber que quem morre não volta mais. A morte não é temporária.

Quando uma criança perguntar sobre “o que é a morte”, explique dentro desses conceitos de maneira adequada a cada idade. As crianças compreendem e percebem o mundo à sua volta, através de contos, de histórias, do desenho, das brincadeiras e até mesmo através de suas fantasias. Vamos usar do lúdico, um espaço onde possamos trabalhar junto delas assuntos muito importantes, que podem ser trazidos com leveza e naturalidade.

Com isso, quero dividir com vocês sobre uma autora que traz como cada criança em sua fase entende sobre a morte. Torres (1999) fez um estudo de acordo com os estágios estabelecidos por Jean Piaget (autor que estudou sobre o desenvolvimento infantil):

1 – Crianças de 0-2 anos (antes da aquisição da linguagem): a morte é percebida como ausência e falta;

2 – Crianças de 3-5 anos (compreendem a linguagem de forma concreta/literal): as crianças não entendem a morte como uma ausência sem retorno, não distinguem os seres animados dos inanimados. Apresentam pensamento mágico e egocêntrico, para elas tudo é possível;

3 – Crianças de 6-9 anos: distinguem melhor os seres animados e inanimados; compreendem a morte como um processo definitivo e permanente (seria a irreversibilidade). Há uma diminuição do pensamento mágico, predominando o pensamento concreto. Ainda não são capazes de explicar adequadamente as causas da morte, mas, conseguem aprender o conceito de morte em sua totalidade: em relação a não funcionalidade, a irreversibilidade e a universalidade;

4 – Crianças de 10 anos até a adolescência: o conceito de morte, devido ao pensamento formal, torna-se mais abstrato. Já compreendem a morte como inevitável e universal, irreversível e pessoal.

Qualquer que seja a fase que a criança se encontra e a forma como ela percebe sobre a morte, fale a verdade. E deixe que a cada momento que ela for crescendo, você continue adaptando à idade dela todas as explicações. Até quando chegar na idade da adolescência, sua compreensão sobre o tema será muito melhor e natural. Que falar sobre morte, seja falar sobre como podemos viver melhor.

Jéssica Suzana / CRP 04/47222

Psicóloga que acredita no poder da escrita e no valor que pode agregar as pessoas.

Inspira e transforma vidas através da escuta.

Aprende todos os dias sobre: recomeços, criar possibilidades e ter conexões com sentido.

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