A matéria de hoje é para os papais e mamães de meninas! Você já ouviu falar em sinéquia? Apesar de pouco conhecido pelas famílias, esse nome estranho pode ser muito mais comum em bebês do que se imagina.

Entrevistei a Dra. Aline Monteiro Neder Issa, Pediatra pelo Hospital das Clínicas – UFMG e Intensivista Pediátrica pelo Neocenter (Belo Horizonte), que explicou tudo sobre sinéquia para tranquilizar os papais!

O QUE É

“Sinéquia de pequenos lábios é o fechamento parcial ou total da entrada vaginal decorrente da aderência dos pequenos lábios, resultado da inflamação e erosão com posterior cicatrização e junção das partes em contato. Quando parcial, o acometimento da parte posterior é mais frequente que da parte anterior (perto da uretra)”, explica Dra. Aline.

CAUSAS

Dentre as principais causas da sinéquia estão “higiene precária, uso de fralda, vulvovaginite, dermatose e trauma local”, destaca Dra. Aline.

Apesar de pouco conhecida, a sinéquia atinge cerca de 5% das meninas e, segundo a pediatra, ocorre, geralmente, na fase pré-puberal, entre três meses e três anos de idade, sendo rara após os seis anos.

SINTOMAS

É importante dizer que, na maioria dos casos, a sinéquia se apresenta de forma assintomática, por isso é importante que os pais observem a genitália da criança durante as trocas de fraldas. “Geralmente a criança é levada à consulta pela aparência diferente da genitália. Porém, a sinéquia predispõe à ocorrência de vulvovaginite (inflamação ou infecção da vulva) e infecção urinária de repetição, portanto, os achados de dor ao urinar, alteração do padrão miccional, gotejamento pós miccional e corrimento vaginal podem estar presentes”, alerta Dra. Aline.

DIAGNÓSTICO

O próprio pediatra consegue fazer o diagnóstico por meio “da inspeção da vulva, onde se vê uma linha de fusão vertical em graus variáveis de acometimento”, explica a pediatra. Sendo assim, é muito importante os pais realizarem consultas periódicas e tirarem todas as dúvidas com o profissional que acompanha a sua criança.

TRATAMENTO

“O tratamento consiste na liberação da aderência. Nos casos assintomáticos e pequenos, não é necessário instituir nenhum tipo de tratamento porque a separação espontânea ocorre quando a criança entra na puberdade, devido à ação do hormônio estrogênio no epitélio vulvar. Já, nos casos sintomáticos e extensos, é instituído o tratamento com creme à base de estrogênio ou corticoide sobre a linha de fusão para separação ou afinamento da mesma. Separação mecânica pode ser necessária se o tratamento medicamentoso não for bem sucedido”, afirma Dra. Aline.

É importante dizer que a sinéquia não traz muitos riscos para a criança. Complicações são muito raras, dentre elas “a ocorrência de vulvovaginite, infecção urinária de repetição e recorrência da própria sinéquia”, explica Dra. Aline.

MINHA FILHA TEVE SINÉQUIA

Elcione e Laura

Trago aqui o relato de uma mãe que viveu essa experiência. Elcione Carmona, mamãe da Ericka e da Laura, passou um susto com sua filha caçula. Laura estava com um mês e, em uma troca de fralda, Elcione observou “que o canalzinho da vagina estava diminuindo de tamanho, parecia bem menor. Levei à pediatra que constatou ser sinéquia, um tipo de fimose feminino. Foi uma surpresa, pois nunca tinha ouvido falar sobre o assunto”!

Segundo a mamãe, “não foi difícil descobrir que havia algo errado, pois era notável que o canal vaginal da Laura estava fechando. Você vê que existe uma pele transparente, onde dá para ver a sobra do canal atrás, como se fosse uma porta coberta por um filó”, relembra a mamãe.

No caso da Laura, o tratamento foi simples: “como foi descoberto bem no início, a pediatra receitou uma pomada para passar no local. Com um cotonete, após a higiene, eu passava a pomada e fazia uma suave fricção sobre a película transparente que se unia como duas folhas de seda. Aos poucos percebia que estavam descolando uma da outra. A Laura não reclamava de nada, era tudo feito sem nenhuma dor”, conta Elcione.

Laura com um mês de vida, época em que foi descoberta a sinéquia.

E o resultado foi satisfatório e bem rápido. Segundo a mamãe, “como havia percebido desde o início, o tratamento funcionou na primeira semana e, quando retornamos à pediatra, havia apenas uma linha fina ainda ligada que ela terminou de romper com o lado oposto de um termômetro. A pediatra ainda explicou que, no caso de se observar a sinéquia tardiamente, existe risco dessa película se unir completamente, chegando a tampar o canal da urina e acabar causando infecção urinária. Disse-me também que há casos que, por demorar a tratar, é necessário um pequeno procedimento cirúrgico  para abertura da pele”, conta Elcione.

E, por orientação médica, após o tratamento com medicamento (pomada), Elcione ficou por um bom tempo fazendo uso de óleo mineral durante a limpeza da vagina, “até me certificar de que a pele estava livre de colar novamente. A cada troca de fralda, assim como eu fazia com a pomada, passei a usar o óleo mineral depois da higiene”.

“Após esse acontecimento, a pediatra me orientou, até os 12 anos da Laura, observar se a sinéquia está voltando, para, se necessário, repetirmos o tratamento”, relata Elcione.

Para terminar, deixo aqui uma mensagem da Dra. Aline para todas as famílias de meninas: “é importante o acompanhamento regular da criança com o Pediatra e exame físico completo em toda consulta. Fazer a higiene local e procurar orientação com seu médico em caso de dúvidas”.

Se você tem dúvidas, vá ao pediatra e peça para ele observar a sua criança. Jamais deixe de relatar qualquer situação. É muito importante descobrir a sinéquia no início!

Matéria feita em parceria com a Cristina Sanches, da Árvore Gestão de Relacionamento.

Fontes: Pediatria Ambulatorial – Editora Coopmed, 2013 Pediatria no Dia a Dia – Editora Rubio, 2018

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