Nos dias atuais, muito se tem ouvido falar em TDAH. Mas você sabe o que significa essa sigla? Conversei com a psicóloga Gabriela Ferreira (CRP04/45407), graduada na Universidade Federal de São João Del Rei (MG), para explicar um pouco sobre esse transtorno que vem causando muitas dúvidas nos pais. Atualmente Gabriela cursa pós-graduação em Neuropsicologia, na Santa Casa de Belo Horizonte, e trabalha com Psicoterapia de adolescentes e adultos, Avaliação Neuropsicológica nos problemas de aprendizagem e Orientação e Re-orientação Profissional na clínica @meuespacovita.

Confiram a entrevista!

CANAL INFANTIL – O que é TDAH? Quais suas causas e sintomas?

 GABRIELA FERREIRA – Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – 5ª edição (DSM-5), o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um transtorno do neurodesenvolvimento. Hoje acredita-se que ele tenha uma origem bio-psico-social. Isso porque não se sabe exatamente as causas. Alguns fatores de risco são conhecidos como: baixo peso ao nascer, uso de álcool e tabaco pelas mães durante a gravidez, eclampsia, estresse fetal, desentendimentos na família, hereditariedade entre outros.

O transtorno tem como características um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade. Como assim, Gabriela? Bom… o indivíduo pode apresentar os dois sintomas ou então uma predominância de hiperatividade ou uma predominância de desatenção, ou seja, são três diagnósticos possíveis. Exemplificando as características, notamos os indivíduos divagando, com falta de persistência, desorganizado, atividade motora excessiva, conversa em excesso, impulsividade e dificuldade em não receber recompensas imediatas. Geralmente, esses indivíduos podem ter também atrasos no desenvolvimento linguístico, motor e social, irritabilidade, alterações do humor e dificuldades na aprendizagem. O diagnóstico e tratamento exigem abordagem multidisciplinar e é preciso estar atento à possibilidade de comorbidades, que são outros transtornos que podem se apresentar junto com o TDAH, como: Transtorno Opositivo Desafiador; Transtorno de Ansiedade; Transtorno Depressivo; Alcoolismo; Transtorno de Conduta Antissocial; entre outros.

CANAL INFANTIL – Qual profissional costuma dar o diagnóstico do TDAH? E qual o tratamento?

 GABRIELA FERREIRA – O diagnóstico do TDAH deve ser feito, preferencialmente, por uma equipe multidisciplinar, onde neuropediatras e/ou neurologistas trabalham em conjunto com psicólogos e/ou neuropsicólogos e psicopedagogos e/ou neuropsicopedagogos e até psiquiatras. Cada um, em sua área, realiza testes, escalas e exames para verificação da possibilidade de diagnóstico e comorbidades.

Apesar de não ter cura, tem tratamento que costuma dar um bom retorno quando feito corretamente. O indivíduo passa a criar estratégias para lidar com seus déficits e quando medicado também consegue manter um padrão de vida mais perto da “normalidade”. Sendo assim, o tratamento pode ser medicamentoso, mas dependendo dos prejuízos psicológicos a terapia pode ajudar também, pois muitas vezes essas crianças têm autoestima baixa e estão desacreditadas. Além disso, o acompanhamento com psicopedagogos ou fonoaudiólogos podem ser necessários em casos de atrasos na aprendizagem e problemas específicos de linguagem. Terapia ocupacional e reabilitação neuropsicológica podem ser úteis nos problemas de memória, atenção, coordenação, prensa, entre outros.

Ainda sobre a cura, apesar de não existir, às vezes, os sintomas diminuem na vida adulta.

CANAL INFANTIL – Crianças com TDAH diagnosticado precisam fazer uso de medicamentos?

 GABRIELA FERREIRA – Geralmente, crianças, adolescentes e adultos com TDAH tendem a ter uma melhor resposta ao tratamento ao serem medicados. Então TODOS os indivíduos com esse diagnóstico vão fazer o uso da medicação? Depende da conduta de cada profissional, mas, até então, a psicofarmacoterapia tem sido o método mais eficaz no tratamento. Para essa decisão também seria muito importante que todos os profissionais envolvidos no processo diagnóstico e terapêutico participassem. Podemos dizer que sempre vai depender do grau de prejuízo que o transtorno causa na vida da pessoa.

CANAL INFANTIL – Diante da polêmica atual envolvendo o medicamento Ritalina, qual a sua opinião?

 GABRIELA FERREIRA – Na minha opinião, no tratamento do TDAH, o remédio tem seu lugar sim. Como eu disse anteriormente, sempre vai depender do grau de prejuízo que o transtorno causa na vida do indivíduo. Devemos sempre perguntar, pedir explicações, pesquisar em fontes confiáveis para ter uma opinião sobre qualquer coisa.

As medicações do TDAH são resultado de anos de estudos e que foram feitos com milhares de pessoas diferentes, com características, sexos e idades diferentes. Além disso, os estudos comprovam sua eficácia. O problema em torno do remédio está relacionado à falta de informação correta. Temos que ter em mente que toda medicação vai causar uma alteração no organismo e vai ter efeito colateral. Uma pessoa com problemas de hipertensão vai deixar de tomar medicação só por conta dos efeitos colaterais que PODEM acontecer? Pode ser que sim, pode ser que não… temos que pensar nos prejuízos da medicação e nos prejuízos do transtorno ou da doença.

Além disso, algumas informações enganosas levam as pessoas a terem medo da medicação. Dizem que a Ritalina, ou metilfenidato, vicia igual cocaína. Isso é MITO. Até então, o que se sabe é que a Ritalina não causa dependência biológica, ou seja, seu corpo não vai “pedir” a medicação. O que PODE vir a ocorrer é a dependência psicológica, ou seja, você “achar” sempre que precisa do remédio e que não pode viver sem ele. Mas isso é uma coisa que pode acontecer com qualquer outro medicamento.

Claro que temos que ter em mente que trabalhamos em uma área em constante estudo e evolução. Então temos que estar em constante estudo para saber o que as novas pesquisas têm dito sobre as doenças, os transtornos, os medicamentos e os tratamentos. As coisas não devem ser levadas ao pé da letra, nem “sempre”, nem “nunca”, temos que manter a dúvida, a inquietação e a pesquisa.

Aconselho as pessoas a sempre pesquisarem e correrem atrás de informações confiáveis, pois muitas vezes o futuro de uma criança ou adolescente pode depender completamente do sucesso do tratamento do seu transtorno. TDAH é um transtorno real, não é frescura e deve ser diagnosticado por profissionais competentes e tratado por profissionais capacitados.

Como podem ver, TDAH é um transtorno real e tem tratamento! Qualquer dúvida com relação ao comportamento do seu filho, procure um profissional para uma avaliação. Quanto antes o seu filho receber acompanhamento melhor.

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