Neste mês de conscientização mundial da infertilidade, a Dra. Cláudia Navarro fala das dores das mulheres que nunca engravidaram. Segundo a especialista em reprodução assistida, são dores invisíveis, que a sociedade tem dificuldade de entender, mas completamente compreensíveis e válidas.

Confiram!

Saúde mental e infertilidade: atenção às dores invisíveis

Por Cláudia Navarro

Especialista em Reprodução Assistida, diretora clínica da Life Search

Junho é mês de conscientização sobre a infertilidade e uma das questões que envolve esse tema é a saúde mental. Quem passa pela experiência de se descobrir infértil encara situações muito delicadas. Na maior parte dos casos, a infertilidade tem tratamento graças à medicina reprodutiva, que dispõe de recursos para promover o sonho da maternidade.

Entretanto, em outros casos, a resolução do problema, ou seja, a gravidez, pode demorar mais do que o esperado, por diversos motivos, ou mesmo nunca acontecer. Nesses casos, a saúde mental é ponto crucial para o casal.

Um levantamento baseado em estudos sobre o tema, realizado pelo Centro de Saúde Mental da Mulher, do Hospital Geral de Massachusetts, nos EUA, mostra que a depressão está presente em até 54% dos casais inférteis. A Organização Mundial da Saúde – OMS, lembra que, além de depressão, sentimentos como ansiedade e luto também afetam fortemente as pessoas inférteis. Isso mesmo, luto.

Quem tenta uma gravidez por meses, ou anos, chega a viver uma espécie de luto, muito difícil de ser compreendido por quem não está diretamente envolvido.

Para nós, é completamente compreensível que uma mãe viva o luto da perda de um filho que nasceu, cresceu e criou laços com a família. Mas é muito difícil reconhecer a dor das mães que nunca engravidaram, e sempre sonharam com isso. São mulheres que mergulham no luto daquilo que elas imaginam ter perdido antes mesmo de ter ganhado.

São dores imaginárias, invisíveis, mas completamente tangíveis. É o enxoval que nunca foi comprado. O primeiro passo que o filho nunca dará. O primeiro dia de aula que nunca acontecerá. É como se, todos os dias, aquela gravidez tão sonhada estivesse cada vez mais longe de acontecer. O casal às vezes pode se sentir  imperfeito, incapaz, triste e sem controle da própria vida.

Ao buscar ajuda na Reprodução Assistida, o profissional precisa, sobretudo, se colocar no lugar daquele casal e entender a dor que eles vivem e o histórico que os levou até aquele consultório. A medicina reprodutiva não é uma matemática onde se soma óvulo e espermatozoide e nasce um bebê. Há variáveis, há um processo e há também muito amor e muito carinho com cada paciente.

Trabalhar a saúde mental nesses casos é crucial. Diversos casais que recorrem aos procedimentos da Reprodução Assistida chegam ao consultório com um histórico de até 10 anos de tentativas frustradas de gravidez. É papel do médico ajudar esses casais a superar tudo isso, mesmo que, no fim, a gravidez não ocorra. Em alguns casos, o especialista precisa encaminhá-los para um outro profissional que irá cuidar da mente (e quem sabe da alma?).

Aos casais que passam por isso, é crucial entender a importância de compartilhar os sentimentos com um especialista em saúde mental e também de buscar esgotar todas as alternativas médicas. Aos médicos, ter sabedoria ao apontar a infertilidade e os caminhos aos casais é fundamental. Aos familiares e amigos de pais sem filhos, evitar tocar no assunto poupará que o casal reviva a experiência da “não maternidade”. São dores invisíveis, mas ainda são dores.

Sobre Cláudia Navarro

Cláudia Navarro é especialista em reprodução assistida e diretora clínica da Life Search. Graduada em Medicina pela UFMG em 1988, Cláudia titulou-se mestre e doutora em medicina (obstetrícia e ginecologia) pela instituição federal. Atualmente, atua na área de reprodução humana, trabalhando principalmente os seguintes temas: infertilidade, reprodução assistida, endocrinologia ginecológica, doação e congelamento de gametas.

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