Qual a importância da educação na vida de uma criança? Na matéria de hoje, trago uma entrevista que fiz com a Targelia de Souza Albuquerque, que é Doutora em Educação pela PUC/SP, Membro da Cátedra Paulo Freire – UFPE, Sócia – formadora do Centro Paulo Freire Estudos e Pesquisas e Professora aposentada da UFPE.

CANAL INFANTIL – Você escreveu o livro “Os pés nos quintais e os olhos no mundo – Um menino chamado Paulo Freire”, lançado pela Editora Cepe, que conta sobre a vida de Paulo Freire e fala sobre educação. Como surgiu a ideia de escrever o livro?

TARGELIA DE SOUZA ALBUQUERQUE – Estudo Paulo Freire há mais de 30 anos. E, a cada momento que dialogava com ele, através da leitura de suas obras,  me surpreendia e encantava com as suas próprias narrativas sobre a sua infância e juventude, estabelecendo conexões com os fundamentos e práticas de sua  grande obra.  Seus  relatos  autobiográficos dessas fases não eram apenas memórias de momentos vividos. Era a sua história de educador que se tecia nas idas e vindas do passado que se tornava presente e fundamentava o projeto de um futuro libertário. Paulo Freire é um homem de grandes ideias, de projetos de vida e de sociedade; de sonhos e ousadias de um Brasil democrático, digno, ético, fraterno e justo.  Em meados de 2019, com a aproximação do centenário de Paulo Freire, que seria comemorado em 19 de setembro de 2021, decidi que mergulharia nos estudos dos livros de Paulo Freire e de seus mais importantes biógrafos, reunindo informações para escrever um livro infanto-juvenil sobre “O menino Paulo Freire”, sua  infância, juventude e como construiu os seus primeiros passos como educador-professor, cidadão do mundo, andarilho da esperança. Ousei sonhar e produzir um livro que fosse lido por cada criança e jovem de Recife, Pernambuco, de diferentes espaços de nosso Brasil e que elas aprendessem com Paulo Freire a lerem o mundo, antes mesmo da leitura das palavras, que amassem ler livros, textos e aprendessem a ler com criticidade; e amassem a escola como um lugar fundamental na sua formação plena. O livro é um chamamento também aos adultos para conhecerem quem foi o menino que se tornou o grande educador, Patrono da Educação Brasileira. Esse sonho está se transformando em realidade. A Editora CEPE assumiu o projeto e produziu um belíssimo livro que cabe nas mãos, toca os corações e abre mentes, movendo belas ações.

CANAL INFANTIL – Qual a faixa etária indicada?

TARGELIA DE SOUZA ALBUQUERQUE – Creio que as crianças, com autonomia conseguirão ler o livro e amá-lo a partir dos 10 anos, mas, com a ajuda da família e educadores, penso que com 8 anos. É um livro que tem um foco para crianças e adolescentes do Ensino Fundamental, mas pode ser bem indicado para jovens que iniciam o ensino médio. E para todos e todas as pessoas que desejem conhecer Paulo Freire e como essas fases têm importância na construção de sua pedagogia.

CANAL INFANTIL – Qual a importância da leitura desde a infância?

TARGELIA DE SOUZA ALBUQUERQUE – Paulo Freire chamava a atenção para a importância da leitura de mundo, antes mesmo da leitura da palavra. Isso possibilita a cada criança se reconhecer como ser no mundo, construir um universo vocabular e observar a natureza, a sua família e a comunidade da qual faz parte. Com a leitura da palavra a compreensão do mundo se amplia. Linguagem e cultura dialogam e se recriam, abrindo novas trilhas de conhecimento de si e da realidade. A criança e o jovem irão fazer a passagem: da curiosidade ingênua para a curiosidade epistemológica e crítica. Isso permite ao sujeito humano desbravar o mundo e, ao conhecê-lo, optar eticamente em transformá-lo.

CANAL INFANTIL -Como a educação pode mudar o mundo?

TARGELIA DE SOUZA ALBUQUERQUE – Paulo Freire explica que a educação sozinha não muda o mundo. Ela muda pessoas e pessoas mudam o mundo. A educação é o alicerce de um projeto de sociedade digna, fraterna e justa. Mas, não estou falando de uma educação que considere as crianças e jovens como objetos-esponja, sem autonomia, sem criatividade, passivas, inanimadas. Falo de uma educação dialógica que liberta, que se funda na fé, na amorosidade, na compaixão, nos saberes científicos e tecnológicos. Falo de uma educação plena de respeitos às diferenças, ao sujeito humano, à produção da vida; falo de uma educação escolar e não escolar que garante a autêntica aprendizagem, que estimula a criatividade, que ensina a criticidade porque a vive; que agrega forças, energias, pois, generosa; que jamais exclui porque é radicalmente contra a qualquer forma de preconceito e discriminação. Aprendi com Paulo Freire que devemos garantir um processo educacional libertador que ajude a cada ser humano a SER-MAIS.

Se aprendemos a educar com Paulo Freire, compreendemos que cada criança, jovem ou adulto pode nos ensinar e que devemos juntos ser contra a uma educação bancária que apenas acumula conhecimentos e treina para o ENEM, estimulando competição para discriminar quem tem dificuldades, responsabilizando-os por seu fracasso. A educação bancária defende a exclusão. A educação democrática dialógica, amorosa, séria é aquela que acolhe, que constrói estratégias de inclusão e que abre espaço a construção da amizade, da alegria, do respeito, da ética universal do ser humano. A escola na perspectiva freireana convida todos a sonhar e a ousar construir um mundo melhor.

PALAVRA: ESPERANÇA – Eu gostaria de ver cada criança, jovem e adulto segurando com amorosidade o livro “Os pés nos quintais e os olhos no mundo. Um menino chamado Paulo Freire”. E que esse livro tocasse o seu coração e provocasse a sua mente para construir o diálogo sobre temas da sua vida, da escola, da sociedade em prol de um mundo mais digno, solidário e justo.

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