Você conversa com o seu filho sobre dinheiro? Pois saiba que esse é um assunto muito importante e que deve ser tratado desde cedo. As crianças precisam aprender sobre educação financeira a fim de cuidarem melhor do dinheiro no futuro.

E para falar sobre esse assunto, conversei com a Paula Andrade, que é jornalista de finanças e autora de quatro livros infantis sobre educação financeira. Confira a entrevista e veja como ajudar o seu filho a ter uma boa relação com o dinheiro.

CANAL INFANTIL – Qual a importância de trabalhar a educação financeira na infância?

PAULA ANDRADE – A nossa relação com o dinheiro está mais ligada com os nossos hábitos, comportamentos e emoções, do que com a quantidade de conhecimento de finanças que temos. Todas as pessoas sabem que não podem gastar mais do que possuem. Por que algumas conseguem, enquanto outras se endividam? Porque algumas pessoas conseguem ter um melhor controle dos impulsos. Esse é o pulo do gato.

E a infância é a fase perfeita para aprendermos a desenvolver hábitos e comportamentos que nos ajudarão a ter uma melhor relação com o dinheiro no futuro. Quanto mais velho vamos ficando, mais difícil é de se mudar ou de se criar um novo hábito/comportamento.

CANAL INFANTIL – A partir de qual idade deve-se começar a falar sobre dinheiro com a criança?

PAULA ANDRADE – Desde quando a criança começa a pedir “dá pra mim”. Isso acontece por volta dos dois anos. Nessa fase, a criança é puro instinto natural. É quando observamos como funciona os nossos impulsos de consumo. Nesse momento, como adultos, já podemos conversar sobre esse desejo. Questionar o porquê, ajudar a criança a entender o que ela está sentindo. Podemos falar sobre desejos e necessidades. Ver algo bonito e desejar para si é absolutamente natural. Desejar algo não é ruim. É natural. A questão é conseguir desenvolver a paciência para se planejar para comprar no futuro em um momento combinado e planejado.

CANAL INFANTIL – É mais fácil trabalhar a educação financeira com as crianças por meio de livros?

PAULA ANDRADE – Os livros nos permitem mostrar para as crianças situações do dia a dia e conversar sobre as experiências e aprendizados dos personagens. São ferramentas riquíssimas e muito poderosas.

CANAL INFANTIL – Você é autora de livros infantis. Conte um pouquinho sobre eles.

PAULA ANDRADE – Eu já escrevi quatro livros de educação financeira para crianças. Eles compõem uma série (a Turma da dona Baratinha) para ser usada no ensino fundamental. Todos procuram trabalhar comportamento e emoções relacionadas às finanças.

O primeiro livro é o “Barato da Dona Baratinha”, no qual falamos sobre necessidades e desejos. O segundo livro é a “Formiga que queria ser confeiteira”, no qual falamos sobre planejamento, metas e sonhos. O terceiro livro se chama o “Gafanhoto e o segredo do tempo”, nele ensinamos a relação tempo x dinheiro x trabalho. O livro mais recente se chama “Dona Baratinha e a cidade desbaratinada”, no qual falamos sobre orçamento público e participação popular.

Este ano teremos novidades! É surpresa ainda!

CANAL INFANTIL – O que você acha de dar mesada para as crianças e como os pais podem fazer isso?

PAULA ANDRADE – A mesada é uma ferramenta de educação financeira. Ela, sozinha, não faz todo o serviço pois, como disse, são os nossos comportamentos, hábitos e emoções que ditam a nossa relação com o dinheiro.

A mesada é para todo mundo? Não. Ela é eficiente para um determinado perfil de criança: pró-ativas e autônomas. Isso porque a mesada é, literalmente, um “dinheiro fácil”. E na vida sabemos que nenhum dinheiro vem fácil. Então dar mesada para uma criança que já tem um perfil mais reativo, acomodado, pode criar uma condição de dependência no futuro.

A mesada demanda também alguns pré-requisitos: tem que saber as operações básicas de matemática (somar e subtrair), preferencialmente saber ler, conhecer bem as cédulas e moedas, saber um pouco sobre planejamento…

O mais eficiente é que, antes de dar a mesada para uma criança, os pais devem estimulá-la a pensar em formas autônomas de ganhar dinheiro. Empodeirá-las na sua própria capacidade de resolver seus problemas e conseguir dinheiro por conta própria, sem precisar ficar pedindo para um adulto. Ela pode vender desenhos, fazer shows de brincadeira, oferecer biscoitos para a vizinhança… Primeiro a criança deve se sentir capaz de fazer sozinha. Só depois chega o adulto e oferece uma ajuda.

CANAL INFANTIL – Deixe uma mensagem para os pais.

PAULA ANDRADE – Não subestimem a inteligência das crianças e não deixem para falar sobre dinheiro com seus filhos depois que eles estiverem grandes. Ensine a criança a ter paciência, a ter resiliência, a ter perseverança, a entender que cada escolha tem a sua consequência… todo esse conhecimento irá reverberar na forma como aquela criança lidará com o seu dinheiro e com as emoções que o envolvem.

A educação financeira vai muito além de números, cofrinhos, mesadas, investimentos. Educação financeira é controlar os impulsos de compra, é se organizar e se planejar para comprar no melhor momento. É entender que a vida tem altos e baixos, e que devemos estar preparados para isso…

E se na escola do seu filho não tiver aulas completas de educação financeira, pode reclamar na direção porque isso já é Lei. Toda escola deve oferecer esse conteúdo aos alunos.

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