Você já levou o seu filho para assistir a um teatro de marionetes? Se sim, sabe como é mágico e encantador! Por meio das marionetes, histórias são contadas e a imaginação flui.

E para falar sobre a magia das marionetes, conversei com a artista, marionetista e escritora Juliana Notari, que acabou de lançar o livro “Pedagogia da Marionete Livre: Festa-Manifesto”, no qual reúne as vivências e os processos de criação experienciados por ela durante sua trajetória artística de duas décadas. Essa obra faz parte do projeto “20 anos de Marionete Livre – Comemoração e Manifesto”, que foi contemplado pelo programa Rumos Itaú Cultural.

Dividido em nove capítulos, o livro discute as memórias da infância, a poética do cotidiano, a construção sensível de marionetes e exercícios e práticas de animação. A obra também aborda os diálogos possíveis entre a arte da marionete e o contexto sociopolítico contemporâneo. O prefácio é do narrador oral Aldo Méndez, cubano radicado na Espanha que é autor de vários livros e foi indicado ao Grammy Latino 2020 pelo álbum Sonidos que cuentan.

Pedagogia da Marionete Livre: Festa-Manifesto é um livro essencial para os acervos de escolas de arte e teatro, salas de aula, estudantes e para todas as pessoas interessadas nessa arte peculiar, pois registra os conhecimentos acumulados por Juliana Notari a partir da troca com artistas e pesquisadores e de espetáculos organizados por ela em várias partes do mundo.

Confiram a entrevista:

CANAL INFANTIL – Como surgiu a ideia de escrever “Pedagogia da Marionete Livre: Festa-Manifesto”?

JULIANA NOTARI – Já são 22 anos de dedicação plena ao universo das marionetes e, com isso, carrego muitas criações, desenvolvimento de técnicas, pensamentos e escritos. Além disso, me considero uma artista nômade, pois já levei minhas obras para muitos países e culturas. A troca que acontece nesses deslocamentos afeta totalmente o meu trabalho (minha arte).

Eu sempre sinto necessidade de trocar experiências com o máximo de pessoas que posso, e colocar tudo isso que citei acima em formato de livro, permite que o tema se pulverize ainda mais. A arte das marionetes é bem invisível, apesar de ser uma arte milenar, que atravessou gerações, ainda é pouco valorizada. Escrever um livro sobre o tema, sendo uma artista mulher e independente, abre outros caminhos.

CANAL INFANTIL – Qual a faixa etária indicada?

JULIANA NOTARI – O livro é indicado para pessoas interessadas em arte, em criação, em marionetes. Uma pessoa de 13 anos já pode se interessar nesse tipo de leitura. Eu mesma, quando tinha essa idade, buscava livros de teatro.

CANAL INFANTIL – Conte um pouquinho sobre o livro.

JULIANA NOTARI – O livro Pedagogia da Marionete Livre: Festa-Manifesto foi escrito a partir de minhas vivências, experimentações e criações nas artes das marionetes. Desde a infância carrego comigo meus caderninhos de autonomia, de sonhos, de ideias. Eles são a base da escritura deste livro.

A obra é um manifesto também, pois o impossível acontece aqui, quando uma mulher, artista, independente e marionetista se emancipa de regras e expectativas e se dedica ao universo das marionetes, vivendo desta arte.

O livro é uma festa, pois faz parte de uma comemoração necessária de mais de duas décadas de abertura de caminhos, de encontros, de geração de poesia e de existência. Eu divido algumas de minhas práticas e todo o meu amor por essa arte com os leitores.

CANAL INFANTIL – Qual é o encanto da marionete?

JULIANA NOTARI – Esta arte é milenar. Já foram encontradas figuras de barro articuladas em terras ameríndias, por exemplo. A marionete resistiu e ainda resiste às grandes mudanças sociais e aos conflitos, ao mesmo tempo dialoga com o novo, com o futuro, com as tecnologias.

Ela é o encanto. Traz consigo a poesia como se fosse o seu coração. Com pequenos movimentos ou um simples suspiro, a marionete desmonta a dureza do mundo. Ela mergulha no olhar de todas as pessoas, de todas as idades e culturas.

Existe teatro de marionetes em todo o planeta. A marionete representa a diversidade de que tanto clamamos. Por isso, ela pode ser a ponte para a sensibilidade que necessitamos.

Ela está nas ruas, nas feiras, nas praças, nos teatros, nos museus e nos palácios. O teatro de marionetes rompe as diferenças sociais com sua magia da transformação.

CANAL INFANTIL – Qual a importância do teatro na infância?

JULIANA NOTARI – A extrema importância do teatro na infância está na grande capacidade de transformação. Costumo dizer que a arte é inerente ao ser humano e faz parte das necessidades vitais, como comer e respirar. Sem essa possibilidade de transformação e mudança que a arte traz consigo, nossos corpos estariam enrijecidos, sem brilho, sem força, sem ar.

O teatro na infância mostra um mundo diverso, cheio de realidades, estimula a imaginação e a criatividade, e com isso instiga a generosidade, a escuta e o entendimento do indivíduo e do coletivo.

CANAL INFANTIL – Deixe uma mensagem para os leitores.

JULIANA NOTARI –  Invistam em arte, especialmente na infância. Ela traz o entendimento da diversidade de mundo, que tanto precisamos para romper com a dureza e a injustiça. E para quem quer saber um pouquinho mais sobre o meu trabalho, convido à leitura de Pedagogia da Marionete Livre: Festa-Manifesto.

UM POUQUINHO SOBRE JULIANA NOTARI

Começou sua carreira em 2000, já dedicada à pesquisa e criação de espetáculos e oficinas de teatro de animação ao lado da artista Maria Zuquim, com quem trabalha até hoje. Desde então trabalhou e colaborou com músicos, compositores e multiartistas para abrir novos caminhos para a marionete contemporânea.

Nas últimas duas décadas, apresentou obras para públicos de todas as idades, criou e dirigiu festivais de marionetes, desenvolveu uma pedagogia própria, investigou diferentes processos de criação e materiais para suas marionetes, fez turnês internacionais em mais de 15 países. É criadora da Marionete Livre, movimento nômade defendido por meio de suas obras marionetescas e seus processos pedagógicos de trocas de saberes pelo mundo.

Em 2008, realizou uma residência como artista pesquisadora pelo Institut International de la Marionnette, em Charleville-Mézières, na França. Continuou suas pesquisas sobre o universo das marionetes dentro do programa de mestrado da Universidade de Strasbourg, onde viveu durante cinco anos. Em 2011, criou o projeto Velhas Caixas, uma série de miniespetáculos sobre a velhice que foi concebida depois que a artista se internou em casas de repouso da França.

De 2015 a 2020, foi gestora do espaço independente Condomínio Cultural, localizado em São Paulo, onde promoveu ações de difusão e fomentos às artes da marionete. Em 2020, realizou a minissérie audiovisual experimental Selva, ao lado da artista e jornalista Laura Corcuera e do editor Yuri de Francco, com apoio do Instituto Goethe. É fundadora da Sociedade Insólita para Marionete Contemporânea ao lado da Cia Mevitevendo.

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