Um dos momentos mais difíceis de uma mãe e de um pai é passar pela perda de um filho, seja ela gestacional ou não. O sofrimento é indescritível! Mas, é importante que os pais saibam que existem várias redes de apoio para ajudá-los e que, após o luto, é possível ir à luta e seguir em frente. A saudade e a falta do filho sempre irão existir, mas o luto pode ser superado.

Para ajudar famílias que sofreram perdas, conversei com a Larissa Lupi, uma das criadoras do grupo de apoio “Do Luto à Luta”. Após sofrerem perdas gestacionais, Larissa e sua irmã criaram o grupo e também uma petição online para que os hospitais, maternidades tenham um maior cuidado com a perda gestacional. Não é nada fácil para os pais viverem um momento assim. Mesmo quando o bebê ainda não nasceu, ele estava ali; ele existiu e foi muito amado e esperado! Não podemos mais viver em uma sociedade que não compreende as perdas gestacionais e não acolhe essa mãe e esse pai.

Pensando nisso, Larissa e sua irmã criaram um abaixo assinado para mostrar às pessoas que é possível viver o luto de forma mais humanizada. Confiram a entrevista!

 

CANAL INFANTIL – COMO SURGIU A IDEIA DE CRIAR UMA PETIÇÃO ONLINE?

LARISSA LUPI – A ideia da criação do abaixo assinado surgiu a partir da minha perda gestacional e da minha irmã gêmea, ambas na mesma maternidade e no mesmo ano. Logo, percebemos a necessidade de reivindicar um maior cuidado na assistência prestada nesses casos, tendo em vista os equívocos que vivenciamos como parabéns do maqueiro na saída do centro cirúrgico, kit maternidade, dentre outros relatos semelhantes que recebemos de inúmeros seguidores. Sendo assim, ficou evidente pra gente a necessidade de buscar mudanças que pudessem ser implementadas, a curto prazo, para evitar que estes equívocos voltem a acontecer, já que não podemos evitar que a perda aconteça.

 

CANAL INFANTIL – QUAIS OS PRINCIPAIS OBJETIVOS DA PETIÇÃO?

LARISSA LUPI – Pedimos, principalmente, uma pulseira de identificação diferenciada, nestes casos, com o objetivo de sinalizar para todos os funcionários que trabalham na maternidade e hospital que aquele caso é uma perda gestacional e neonatal, ou existe risco de perda, e, assim, a família se sentir minimamente respeitada na sua dor, individualidade, preservando a integridade moral da pessoa.

Pedimos também que possa ser ofertado um ambiente mais reservado para estes casos, evitando que quem perdeu esteja lado a lado com quem está com seus filhos no colo, saudável, ouvindo choro de bebê, pois é muito constrangedor para ambos os lados, ou seja, pais que não conseguem viver sua dor na sua plenitude devido à presença dos casais felizes com seus filhos, nem o contrário, os casais que não vivem sua alegria por causa das famílias com colo vazio. Objetivando, desta forma, não trazer danos secundários adicionais para quem perdeu, que já precisa lidar com a dor dilacerante da perda do filho e precisa ser preservada na sua integridade física e moral.

 

CANAL INFANTIL – VOCÊS ACREDITAM QUE HÁ UMA FALTA DE PREPARO DOS PROFISSIONAIS EM MATERNIDADES E HOSPITAIS PARA LIDAREM COM AS PERDAS?

LARISSA LUPI – Percebemos o quanto a nossa cultura não sabe como lidar com a morte; o tabu que a morte é na nossa cultura, que busca o prolongamento da vida ao máximo através do avanço da medicina e tecnológico. Nas maternidades, percebemos o quanto eles estão preparados e treinados para lidar com o “happy end” (final feliz), mas não sabem lidar com a perda gestacional e neonatal, no geral. Os profissionais precisam estudar, desde a graduação, sobre luto, perda gestacional e neonatal, cuidados paliativos, para que possam ser treinados e capacitados para desenvolverem recursos (competências técnicas e humanas) para lidar com perda gestacional e neonatal da forma mais acolhedora e respeitosa possível.

 

CANAL INFANTIL – COMO AS MATERNIDADES PODEM TRABALHAR MELHOR ESSA QUESTÃO DO LUTO, DO ACOLHIMENTO?

LARISSA LUPI – A melhor forma das maternidades lidarem com casos de luto é buscar por capacitação e treinamento dos seus profissionais e funcionários em cuidados paliativos, em geral, e neonatais. Assim podem prestar uma assistência de empoderar as famílias para fazerem suas escolhas e oferecer um suporte técnico e humano (com especialistas em luto, se possível) para auxiliar as famílias a vivenciarem as suas perdas e escolhas de rituais de despedida da forma mais respeitosa, acolhedora e sensível. Já que sabemos da importância de concretizar a perda do filho, é importante que a mulher não esteja sedada na hora da intervenção (quando possível) para poder se despedir do bebê morto. As maternidades podem auxiliar na realização e materialização da perda do filho, ajudando na vivência do luto na sua plenitude.

 

CANAL INFANTIL – QUAL A IMPORTÂNCIA DE SE ACOLHER OS PAIS LOGO APÓS A PERDA DO FILHO? 

LARISSA LUPI – É de suma importância ser oferecido este acolhimento ao casal ou mãe que perdeu que, com muita frequência, se sente solitário na sua dor, pode se culpar pela perda ou culpar terceiros, como o hospital (processo natural do luto) para tentar entender o que aconteceu, já que é antinatural perdermos quando estamos prontos para a vida, para ganhar nossos filhos. Essas famílias, quando acompanhadas por profissionais especialistas em luto ou grupos de apoio, vão poder expressar toda sua dor e amor pelo seu filho, e encontrar/buscar recursos para lidar com o luto do filho, como a materialização da perda do filho através de rituais de despedida, soltar um balão em homenagem, já que não existe um velório para o mesmo antes das 22 semanas de gestação. Desta forma, as famílias vão poder vivenciar o luto, ou seja, dar voz à sua dor. Compartilhar com quem também perdeu tem um efeito terapêutico incrível, ajuda na identificação e criação de vínculo entre os membros do grupo, e no não adoecimento de cada participante, já que está sendo autorizado, reconhecido na sua dor. O grupo se torna mais uma rede de apoio, acolhimento e cuidado. Isto é, o apoio tem um efeito preventivo e profilático de preservar a saúde física e mental dos participantes.

 

CANAL INFANTIL – QUAL A MENSAGEM VOCÊ DEIXA PARA AS FAMÍLIAS QUE PASSARAM POR PERDAS E NÃO FORAM BEM ACOLHIDAS NAS MATERNIDADES? 

LARISSA LUPI – O que eu diria para as famílias que não são acolhidas no hospital é que eu sinto muito pela sua perda e por todo transtorno adicional causado pela maternidade. Que estamos lutando para romper este ciclo de falta de preparo e acolhimento na assistência prestada à  perda gestacional e neonatal. Acrescentaria, também, a frase do psicólogo comunitário Adalberto Barreto para dizer que busquem ajuda, pois ele diz: “Quando a boca cala, o corpo fala e quando a boca fala, o corpo sara”.

Então, vamos nos curar buscando recursos internos pra ressignificar essa dor, como por meio de um livro, documentário, campanhas fotográficas, diário, criação de um grupo; por meio de suas habilidade e talentos; com a ajuda de recursos externos, como terapia com especialistas em luto e apoio de um grupo de apoio à perda gestacional e neonatal. Juntos somos mais fortes.

E se você passou por uma perda gestacional ou pela perda de um filho, busque ajuda, converse, fale sobre o seu filho.

 

PETIÇÃO

Para pedir um maior cuidado com a perda gestacional.

 

O QUE PEDIMOS: um espaço nas maternidades dedicado às mulheres que requerem um procedimento após a perda de um feto, e também às gestantes de risco, para que possam ter um tratamento individualizado, respeitando seu momento de luto e sofrimento. Além disso, um método de identificação (sistema de pulseira colorida, código especifico) para evitar constrangimento desnecessários.

 

PORQUE PEDIMOS: é muito chocante perder um bebê e se torna bem pior quando o ambiente parece estar insensível a sua dor. O atendimento se torna desumano no momento mais frágil da família. É cruel que essas mulheres tenham que ser atendidas num ambiente voltado para celebrar a vida e a chegada de novos bebês. Conhecemos inúmeros casos de gestantes que passaram por constrangimentos nesse momento. Algumas foram parabenizadas erroneamente por maqueiros e enfermeiras; outras recepcionadas por cegonhas em seus quartos. Como sair do quarto sabendo que todos a sua volta vão te parabenizar pelo que você mais desejava mas não se concretizou?

 

PARA QUEM PEDIMOS: para as diversas maternidades, públicas e privadas, que realizam procedimentos pós perda gestacional.

Decidimos neste primeiro momento reivindicar por mudanças mais práticas e concretas, como uma identificação com pulseiras a esses casos, visando evitar constrangimentos às mães e um espaço mais reservado para estas situações, a fim de favorecer o respeito e acolhimento.

Acreditamos que este é apenas o passo inicial para auxiliar numa reflexão a assistência prestada à perda gestacional, pois só através da sensibilização e conscientização para esta temática que conseguiremos fazer com que pais e familiares se sintam respeitados na sua autonomia e dignidade humanas.

 

ASSINE VOCÊ TAMBÉM E AJUDE A MUDAR ESSA REALIDADE!

 

http://www.peticaopublica.com.br/pview.aspx?pi=BR75170