Desde o nascimento, vários são os sinais do desenvolvimento infantil. Existem alguns marcos, considerados dentro do padrão, que devem ser observados pelos pais e pelo pediatra da criança. Constatando atraso, a família deve procurar ajuda. Mas sempre cabe lembrar que cada criança é única e pode sim haver variações comportamentais de uma para outra.

Hoje trago para vocês um texto da Terapeuta Ocupacional, especialista em Saúde da Criança, Mestre em Ciências da Reabilitação e consultora em Desenvolvimento Infantil, Letícia Guimarães Machado. Ela explica tudo sobre os sinais comportamentais do bebê.

 

Por Letícia Guimarães

O universo da maternidade é muito amplo e ao mesmo tempo único. Tanto para as mamães de primeira viagem, quanto para aquelas que já tem outros filhos, a chegada de um bebê traz inúmeros sentimentos que envolve tanto a alegria e expectativa pela nova experiência, quanto angustias relacionadas a criação, a nova rotina e também quanto ao inicio da relação com esse novo integrante da família. Quem nunca teve dúvidas com relação ao comportamento de um bebê e se perguntou: Por que será que ele (a) está chorando agora? Ele (a) está soluçando, será que é frio?  Ele (a) não fala, como eu vou saber se está tudo bem? Será que ele (a) presta atenção em mim? Será que me reconhece?

É claro que cada bebê é único e consequentemente terá comportamentos distintos diante do outro e do ambiente que o cerca, mas existem alguns sinais que podem nos dizer sobre formas de ajudar o bebê em momentos de estresse, bem como de interagir com ele.

Durante muitos anos, o recém-nascido foi visto como um indivíduo passivo que não conseguia ver, ou ouvir, nem interagir, menos ainda brincar. Respondia ao ambiente apenas com reflexos primitivos. Mas com estudos, percebeu-se que os bebês são muito competentes e responsivos, capazes de demonstrar preferência pela voz materna, por imagens de face e de contraste, e até de imitar expressões faciais. Conseguem também mostrar que estão estressados com alguma coisa ou que estão satisfeitos com determinado ambiente ou pessoa. É possível saber qual é o melhor momento para interagir e brincar com o bebê, e quando ele está precisando descansar ou receber um aconchego.

Peter Wolf e Berry Brazelton foram pioneiros na descrição dos estados comportamentais do recém-nascido e também da sua capacidade de auto-organização. Segundo eles, existem basicamente seis estados comportamentais do recém-nascido: Sono profundo; Sono leve; Sonolento; Alerta tranquilo; Alerta ativo e Choroso.

Sono profundo: É quando o bebê está completamente entregue ao sono, quando ele não faz nenhum tipo de movimento dos olhos ou do corpo. Este é um estado que dura pouco tempo, mas é essencial para o descanso do bebê e processamento das informações e estímulos recebidos pelo cérebro.

Sono leve: É possível observar movimentos dos olhos, do corpo, sorriso enquanto o bebê dorme. Quando é necessário acordar o bebê, costuma ser mais fácil despertá-lo durante este estado.

Sonolento: É quando o bebê está de “preguicinha”. Abre os olhos e fecha novamente, sorri em resposta a face de alguém familiar, solta alguns resmungos. É um estado de transição, ou para retornar ao sono leve ou para atingir o alerta.

Alerta tranquilo: Este é o momento chave para interagir com o bebê! É quando ele está acordado, com o olhar vivo, mas tranquilo, sem muita movimentação dos braços e pernas. É quando ele tem mais facilidade para manter a atenção na face e na voz do adulto: momento de conversar variando o tom de voz, de cantar, exagerar nas expressões faciais, sorrir e se divertir muito!

Alerta ativo: É aquele momento que o bebê está mais agitado, com movimentação vigorosa dos braços, pernas, cabeça e olhos. Neste estado, é mais difícil manter a atenção do bebê para a interação, mas é possível brincar de outras formas: pegando nos braços e pernas do bebê e movimentar associado a alguma música, dar beijinhos, fazer cosquinha, dançar.

Choroso: Este é o momento de dar aconchego ao bebê, diminuir o seu estresse ou resolver o seu problema: fome, fralda, sono. Antes de chegar neste estado, geralmente o bebê já demonstra outros sinais que está cansado ou irritado.

Os bebês são capazes de expressar quando estão prontos para interagir por meio dos sinais de aproximação e quando necessitam de suporte com os sinais de retração.

Os principais sinais de aproximação são: a respiração é tranquila; a pele tem a coloração habitual (nem pálida, nem arroxeada); aconchega no colo; mantém os braços e as pernas mais fletidos; leva mão ao próprio rosto ou boca; segura a mão ou dedo do adulto; sorri e faz movimentos com a boca em resposta ao adulto; tem movimentos corporais suaves e organizados; olhar vivo e interessado na face; busca o rosto e voz materna ou de outro cuidador. Todos esses sinais podem variar, o mais importante é estar atento ao reconhecimento de como o seu bebê se expressa.

Os principais sinais de retração/estresse são: respiração irregular ou acelerada; mudança de coloração da pele (pálida, mosqueada-manchada; arroxeada); temperatura da pele (muito fria ou muito quente); movimentação do corpo muito vigorosa/irritada ou ausência de movimentação (bebê mais molinho); mãos espalmadas (mão e dedos muito abertos); mãos muito fechadas/tensas; caretas; choramingos constantes; sustos frequentes; inquietação; olhar vago; soluço; bocejo. Já sabemos que esses são sinais de que não é o melhor momento para interagir com o bebê ou que ele está precisando de algum suporte. Mas o que pode ser feito para ajudá-los?

Aqui vão algumas dicas de formas de acalmar bebês quando observados este sinais acima:

– Tentar manter-se calma para identificar os sinais de estresse para ajudá-lo de forma mais efetiva;

– Observar se o ambiente em torno do bebê não está oferendo muitos estímulos ao mesmo tempo: luminosidade, ruído, muitas pessoas carregando, cheiro muito forte. Caso isso seja observado, tentar minimizar a hiperestimulação ambiental;

– Conversar com voz suave, cantar;

– Aconchegar no colo oferecendo “contenção” com uma manta ou no próprio colo;

– Deixar que o bebê leve a mão à boca para sucção. A sucção é algo que traz conforto, permite a auto-organização e o reconhecimento do próprio corpo, não significa que o bebê irá chupar dedo na infância;

– Oferecer estímulo vestibular: balanceio lentificado no colo, ou em cadeirinha, ou bebê conforto, rede, etc;

– Dê um banho de balde que oferece relaxamento pela água quentinha e também pela permanência em uma posição similar a que estavam no útero pelo formato do balde;

– Faça massagem no corpinho todo, coloque uma música baixa durante este momento;

– Caso seja necessário, selecione um estímulo de cada vez (voz ou toque ou balanceio).

Todos os bebês são, desde a gestação, influenciados pelo ambiente a que são expostos (incluindo o intra-uterino) e pelas relações que são estabelecidas com seus pais, cuidadores, irmãos, etc. São uma esponjinha, capazes de absorver e aprender muito com exemplos. Por isso, é interessante desde a gestação proporcionar ambientes e experiências agradáveis ao bebê que certamente trará benefícios a longo prazo e o tornará uma criança, adolescente e adulto saudável e confiante.

Como dito, este é um território cheio de surpresas e singularidades. Existem alguns materiais que nos ajudam a conhecer um pouco melhor tanto as competências e comportamentos do bebê quanto a influência determinante que o ambiente tem em seus desenvolvimentos neuropsicossocial. Deixo como uma sugestão a leitura do livro “O bebê e o outro – Seu entorno e suas interações” que traz a partir de uma visão ampliada do bebê sua capacidade de expressão e interação a partir de suas relações. É possível adquiri-lo pelo site do Instituto Langage.

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