Para começar a semana, quero trazer para vocês um pouco da história do Diogo Andrade. Ele é natural de Olinda (Pernambuco) e mora em Fortaleza (Ceará). É músico, compositor e pai, uma de suas funções mais atuantes! Conheci seu trabalho há poucos dias e gostei demais da forma com que ele cria suas músicas e consegue interagir, de forma bem lúdica e simples, com o mundo infantil. Uma das músicas que mais me emocionou foi a que ele compôs para o Daniel (@notasdadiversidade – administrado pela mãe Hedrienny), um menininho lindo, irmão da Júlia e do Pedro, que toca todo tipo de música no teclado (e agora está começando a tocar guitarra). Mas, um detalhe: Daniel é deficiente visual, autista e aprendeu a tocar completamente sozinho. É emocionante! Um exemplo!

Confiram a entrevista que fiz com o Diogo e descubram a importância da música na infância!

CANAL INFANTIL – COMO COMEÇOU A SUA RELAÇÃO COM A MÚSICA?

DIOGO ANDRADE – Venho de uma família com estreita relação com a música. Minha vó paterna tocava bandolim e violino e uma de suas filhas (minha tia) tocava piano. Com elas, eu conheci partituras musicais e, o que futuramente viria a ser minha maior influência, os Beatles. Por parte de mãe, tenho um tio compositor, que vive e sempre viveu de música. Ele foi e será uma referência como violonista, compositor e cantor. Todos os domingos havia o encontro da família e ele animava a todos com suas músicas. Esse meio influenciou não só a mim como a vários primos meus, que também seguiram o caminho da música.

Por volta dos 12 anos, embebido por todo esse convívio musical, fascínio por Raul Seixas e Beatles, como também por vários outros ídolos do rock, eu resolvi tocar guitarra e formei uma banda com meus primos.

Quando ingressei no Conservatório Pernambucano de Música, minha percepção sobre essa arte mudou definitivamente. Descobri a riqueza dos timbres, aprendi a ler e escrever música, conheci inúmeros instrumentos e, principalmente, abri minha cabeça quanto aos gêneros musicais e como a música pode ser belíssima em suas infinitas formas e ritmos.

Ainda na adolescência, já mais íntimo do violão, tive contato com grandes compositores e instrumentistas brasileiros, como Aníbal Augusto Sardinha (Garoto), João Pernambuco, Raphael Rabelo, entre outros. Nesse período, eu não me imaginava cantando, pois gostaria de ser violonista profissional. Mas não demorou muito e logo me tornei um ouvinte compulsivo do Clube da Equina, Chico Buarque, Caetano, Gilberto Gil, Mutantes… Não tinha mais volta. Joguei-me na música de corpo e alma. Fiz parte de várias bandas no meio musical do Recife, vivenciando a música como profissão em incontáveis festivais, festas, boates, inclusive fora do Estado.

Mas somente aos vinte e poucos anos comecei a compor. Minha última banda chamava-se Parafusa. Com ela, eu me descobri como compositor e vi que poderia ser muito feliz fazendo isso. Após construir uma relativa popularidade na cena pernambucana, durante a década de 2000, a banda acabou (em 2008). Cheguei a ensaiar uma carreira solo, nesse período, gravando um disco com 12 músicas próprias. Mas por questões pessoais, dei uma pausa na música, como profissional, em 2009.

Agora, quase 10 anos depois, estou voltando a divulgar minhas composições, que nunca cessei de criar.

CANAL INFANTIL – QUAL A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA NA INFÂNCIA?

DIOGO ANDRADE – Essa pergunta poderia ser respondida com outra pergunta retórica: qual a importância do contato infantil com as diversas formas de expressão artística?
Penso que, assim como é preciso estimular as crianças ao raciocínio lógico/matemático, memória, linguagem verbal, a percepção e criação musical podem e devem ser incluídas no rol de estímulos aos quais toda criança deve ter oportunidade.

Fala-se muito, erroneamente a meu ver, na musicalização infantil como um “auxílio” no aprendizado de outras áreas, sobretudo na matemática. Mas não acho que deveria ser assim. Embora encontremos facilmente pesquisas e trabalhos acadêmicos correlacionando o processo de musicalização a expressivos ganhos no desenvolvimento da memória e no raciocínio lógico/matemático, por exemplo, a música, por si só, ocupa um lugar próprio na percepção e comunicação humana. Vejo na música, assim como na linguagem verbal, na linguagem numérica, entre outras, mais uma forma de linguagem humana. Nós não possuímos uma única forma de expressão e comunicação. A linguagem musical, através da melodia, harmonia, ritmo, aliado aos diversos timbres dos instrumentos e da voz, atinge segmentos em nossa plêiade sensorial que nenhuma outra forma de linguagem poderia substituir. A música é mais uma forma de expressão para o ser humano ser mais completo. Quanto mais cedo, a meu ver, a criança iniciar o processo de musicalização, mais benefícios ela terá para o resto de sua vida.

CANAL INFANTIL – VOCÊ FOI PROFESSOR DE MÚSICA INFANTIL. COMO É TRABALHAR A MÚSICA COM CRIANÇAS?

DIOGO ANDRADE – Eu fui professor de violão e de guitarra por mais de 10 anos. A musicalização infantil não era meu foco, mas as crianças sempre me desafiaram a criar formas e didáticas novas, a fim de entretê-las ao que precisava. Tinha que ser lúdico, sem perder o foco, que era ensiná-las a tocar. Foi uma experiência muito rica. Muitas vezes, quando elas me viam, era uma festa: queriam me ouvir tocar, queriam me chamar pra brincar… Não era fácil começar a aula, propriamente. Mas eu sabia que só o contato com a música, mesmo que por um curto período de tempo, fazia muito bem a elas e a mim também.

Não é uma tarefa fácil ser professor de crianças. A responsabilidade no processo de musicalização requer técnicas e disciplina que, à época, eu não dominava. Por isso, me aventurei em algumas poucas experiências.

CANAL INFANTIL – VOCÊ COMPÕE MÚSICAS INFANTIS TAMBÉM. VOCÊ ACREDITA QUE CRIAR MÚSICA PARA TRABALHAR AS DIVERSAS QUESTÕES QUE ENVOLVEM O MUNDO INFANTIL, COMO O MEDO, POR EXEMPLO, PODE AJUDAR A CRIANÇA A COMPREENDER MELHOR AS SITUAÇÕES?

DIOGO ANDRADE – Sim, sem dúvida. A criança compreende o mundo ao seu redor de muitas formas, que às vezes o adulto não compreende bem. Sempre permeado por muita fantasia e imaginação. Não é raro uma criança relatar um sonho com monstro, por exemplo, quando o “monstro”, na verdade, pode ser um colega mais difícil com quem ela tem que lidar na escola. Ou, até mesmo, o monstro do crescimento e todas as mudanças assustadoras com as quais ela tem que aprender a conviver. Tudo, no universo infantil, pode ser simbolizado e, dependendo da idade, é impossível para a criança compreender e relatar verbalmente as questões que a permeiam. Nesse contexto, ao falar disso numa música, é possível auxiliá-la de muitas formas. Tem uma música (está lá no @umsomqualquer) que fiz exatamente com esse propósito. Chama-se “Monstro”. Com ela, eu tentei mostrar a meus filhos que ter medo não é vergonhoso. Essa música ajudou bastante a tornar mais lúdica a ideia de monstros e criaturas da noite, num contexto infantil.

“Sabe filho, tudo bem, não faz vergonha ter medo
Eu também na sua idade me assustava com monstros
Mas um dia percebi que eles tinham mudado
De repente em vez de medo me senti protegido

Eu nuca estive só
Você também não está
Se algo lhe assustar
É só pensar assim

Na imaginação enfrento até dragão
Até bicho-papão não tenho medo não
Mas se a coisa complicar meus pais vêm me ajudar”

(Letra da música MONSTRO)

De toda forma, considero a musicalização e o contato com música muito útil e saudável para auxiliar as crianças a lidarem com as dificuldades da vida, real ou fantasiosa, de uma maneira muito ampla.

Apenas como exemplo, uma experiência de iniciação musical muito comum dá-se através da prática de conjunto, onde a criança aprende a “tirar som” de algum instrumento, simultaneamente com outras crianças e instrumentos. Isso requer organização, disciplina e, principalmente, atenção e respeito ao que o(s) outro(s) está(ão) fazendo. A consequência previsível desse tipo de experiência vai além da música, pois reflete no convívio social da criança, em todos os sentidos.

O processo de musicalização e educação musical, em crianças, requer concentração e dedicação dirigidas por um profissional formado para essa tarefa. Os frutos desse trabalho vão desde ganhos na autoconfiança, na organização, na concentração e até na criatividade para lidar com situações imprevisíveis, que antes o assustariam, por exemplo.

CANAL INFANTIL – ALÉM DE MÚSICO E COMPOSITOR, VOCÊ TAMBÉM É PAI. COMO É A SUA RELAÇÃO COM SEUS FILHOS?

DIOGO ANDRADE – Tenho dois meninos lindos. Gabriel (7 anos) e Rafael (2 anos). Não é fácil eu fazer uma autocrítica, como pai, mas posso dizer, sem titubear, que sou um homem diferente do que era antes de tê-los. Sempre nutri um gigantesco desejo de ser pai, mas não podia prever o quão intenso seria de fato.

Gabriel nasceu em Recife, quando ainda morávamos lá. Foi meu primeiro e inesquecível encanto. Não tinha ideia de como se criar meninos, mas entrei de cabeça na paternidade e aprendi rápido a trocar fraldas, dar banho, fazer gagau, levar pra vacinar, ao pediatra, enfim… Só não ia amamentar por razões óbvias! Isso fez e faz uma diferença absurda na minha relação com ele. Conheço-o muito bem. E ele também a mim. Procuro respeitar as suas fases e naturais dificuldades, mantendo a firmeza quando necessário. Aprendeu a ler muito cedo e logo se tornou um contumaz devorador de livros. Enche-me de perguntas das mais sortidas, a respeito do espaço, do oceano. É um barato testemunhar sua curiosidade e sede por conhecimento. Já compus algumas canções inspirado nele…

Rafa é um brilho de sol cearense. Nasceu aqui em Fortaleza, apesar do sangue pernambucano. Acorda e vai dormir de bom humor, querendo brincar a todo instante. Assim como o irmão, aprendeu logo a dizer obrigado, desculpa e por favor. Vive falando isso até quando nem precisa. Tem os cachos que eu tinha, em sua idade, mas a personalidade (que, embora em formação, já mostra a direção que vai tomar) é forte como a da mãe. Como é cinco anos mais novo, tem que brigar pra conseguir espaço com o irmão, que resiste um pouco com a partilha dos pais, dos brinquedos, da TV… Mas essa lição ele já aprendeu direitinho. Procuro ser próximo dos dois da mesma forma e, assim como fiz com Gabriel, dedico boa parte do meu tempo a ficar com Rafa, acordando de madrugada até hoje, quando preciso.

Mas, felizmente, nenhum dois nos dá trabalho algum. Na escola, os dois são só elogios! Duas crianças maravilhosas que só me dão alegria.

CANAL INFANTIL – E COMO MÚSICO, COMPOSITOR E PAI, É CLARO QUE NÃO FALTA MÚSICA EM SUA CASA. COMO VOCÊ ABORDA A MÚSICA COM SEUS FILHOS?

DIOGO ANDRADE – Desde que nasceram, meus filhos me veem tocando e cantando pela casa, ouvindo musica, estudando violão. Gabriel ainda chegou a me ver fazendo algumas apresentações esporádicas em Recife (quando nasceu, em 2011, eu já não atuava mais como profissional). Mas Rafa só me vê tocando para eles, em casa ou na casa de amigos.

Muitas vezes, para acordá-los de manhã pra ir à escola, chego de mansinho, sento ao lado deles na cama e fico tocando violão de forma suave, para que não acordem assustados e possam começar o dia bem, com tranquilidade. Às vezes funciona! Mas, às vezes, só faz eles dormirem mais profundo. Aí, vai o método tradicional mesmo.

Já tentei ensinar violão a Gabriel. Comprei uma guitarra pequena para ele, mas ainda não teve o interesse ideal. Temos um pequeno acordeom, pandeiro, gaitas, flautas, teclado de todo tipo (até aquele tapete de teclas de piano que toca de verdade quando pisado). Tudo isso nós usamos em meio a diversas brincadeiras dentro de casa. De vez em quando, inventamos uma música para todo mundo cantar junto. Sempre lúdico, sempre divertido.

Embora já perceba (com níveis diferentes) bastante musicalidade nos dois, não pretendo forçá-los a estudar música, como eu fiz. Vou aguardar para ver se desperta esse desejo neles. O importante é que conheçam a música do jeito saudável, sem “utilizá-la” apenas como ambientação ou coisa assim. Sempre que posso mostro a eles os diferentes tipos de som musical, brinco com ritmo e com suas divisões. Quanto mais contato com as diversas formas de expressão eles tiverem melhor.

Quem quiser conhecer mais sobre as músicas do Diogo, é só entrar nos links abaixo:
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