Maria Carolina ScarantiEste ano está bem diferente para todos nós, não é mesmo? Imagine então para as crianças! Tudo mudou! Os encontros em família, as festas de aniversários, os passeios no parque, a escola, a forma de estudar… E nós, pais, ficamos sem saber muito o que fazer. Porém, é preciso manter uma rotina com os filhos para ajudá-los nesse processo de mudanças!
Sabemos que o mais importante agora é manter a saúde emocional (nossa e dos nossos filhos) muito mais do que aprender conteúdos pedagógicos. Mas acho fundamental que os pais aproveitem este momento para ensinar seus filhos, estudar com eles e aprender muito também! É preciso saber viver cada momento da melhor forma possível!
E para falar sobre estudos e pandemia, conversei com a Pedagoga e Professora de Educação Infantil no Município do Rio de Janeiro Heloísa Araujo. Atualmente, ela está trabalhando com atividades remotas e tem feito muito pelos seus alunos.
Confiram a entrevista!
CANAL INFANTIL – Qual a importância da rotina de estudos na vida de uma criança?
HELOÍSA ARAUJO – Estabelecer uma rotina de estudos durante o período de distanciamento social é tão importante quanto presencialmente, no entanto, conscientizar as crianças e suas famílias que essa conexão com a Educação não pode ser perdida tem sido um verdadeiro desafio para nós professores.
A rotina de estudos em casa possibilita a manutenção do vínculo com a escola. Além disso, saber o que irá acontecer e a ordem das atividades que serão realizadas pode minimizar a ansiedade das crianças nesse momento em casa.
CANAL INFANTIL – Mesmo diante de um momento tão adverso como o atual, é possível manter uma rotina e ter qualidade nos estudos?
HELOÍSA ARAUJO – Acredito que na Educação básica (Educação infantil, Ensino fundamental e Ensino médio) nenhuma aula a distância é capaz de substituir a essência de uma aula presencial. Atualmente, estamos fazendo adaptações para que uma pequena parcela das experiências escolares sejam vividas mesmo de casa, reconhecendo o caráter insubstituível das atividades presenciais mas, objetivando não perder a conexão que comentei anteriormente.
Dentro desse contexto, é possível sim estabelecer uma rotina de estudos saudável se a tríade aluno, família e escola estiverem em sintonia, reconhecendo seu papel e sendo empáticos uns com os outros.
CANAL INFANTIL – Como os pais podem ajudar os filhos neste momento?
HELOÍSA ARAUJO – Através do diálogo, os responsáveis podem conscientizar as crianças de que elas não estão de férias e que por isso precisam de alguns momentos por dia para estarem conectadas aos assuntos escolares.
Para esses momentos, acho interessante que haja um lugar previamente preparado para esse momento de estudos e que a criança saiba o horário que ficará naquela determinada atividade, assim, poderá planejar, mesmo que mentalmente, o que fará depois, minimizando a ansiedade infantil nessa quarentena. Na minha opinião, os finais de semanas devem ser livres, garantindo o direito das crianças à diversão e ao lazer.
CANAL INFANTIL – Para as crianças que não estão tendo aula on-line, os pais podem buscar materiais e trabalhar em casa com seus filhos?
HELOÍSA ARAUJO – O vínculo com a escola não deve ser perdido nesse momento, no entanto, devemos reconhecer que estamos passando por um momento delicado e por isso cobranças excessivas e sobrecargas de atividades não são indicadas. Conforme citado, as atividades remotas são uma parcela das vivências escolares e não são as quantidades de atividades que suprirão essa demanda.
Indico que os responsáveis das crianças que não estão tendo aulas a distância entrem em contato com as escolas buscando alternativas e orientações. Manifestar o interesse em colaborar com a escola no processo de ensino-aprendizagem é tão importante no ensino presencial quanto na modalidade atual.
Cada realidade é única e o que pode ser pouca coisa para determinada família, pode também ser uma sobrecarga para outra. Por isso acredito muito no olhar individual para cada realidade e empatia acima de todo e qualquer conteúdo ou falta dele nesse momento.
CANAL INFANTIL – Para as crianças que estão tendo aulas remotas, você acha que os pais devem obrigá-las a acompanharem essas aulas ou é preciso flexibilizar um pouco?
HELOÍSA ARAUJO – Sou adepta a flexibilização. As etapas devem ser: a conscientização de que não são férias; preparo do espaço e horários destinados aos estudos; combinados dos horários e dias destinados a diversão e ao lazer; evitar sobrecargas e cobranças excessivas; buscar constantemente orientações e parceria da escola; e equilibrar as funções dessa tríade (aluno, família e escola).
CANAL INFANTIL – Sabemos que muitos pais estão trabalhando ou não têm paciência de estudar com os filhos, o que é normal. Qual a sua dica para que esses pais consigam acompanhar os estudos dos filhos?
HELOÍSA ARAUJO – Não podemos exigir que os pais virem professores e/ou pedagogos nesse momento. É importante reconhecer a complexidade do momento, compreender as realidades dessas famílias e praticar a empatia. Acredito que as escolas devam propor atividades curtas e de fácil compreensão para as crianças, compreendendo que nem todas tem esse suporte familiar nas atividades escolares.
A família deve assumir sua responsabilidade de conscientizar sobre o momento, preparar o ambiente, estabelecer a rotina/horários junto com as crianças e buscar essa parceria com a escola. Caso não consiga explicar e acompanhar os conteúdos, deve buscar a escola para que possam juntos encontrar caminhos alternativos.
CANAL INFANTIL – O momento atual é bem adverso. Ao mesmo tempo em que as crianças precisam aprender, elas também estão vivendo um misto de emoções. Como equilibrar estudos e lazer?
HELOÍSA ARAUJO – Estabelecendo junto às crianças os horários para cada qual.
CANAL INFANTIL – Sabemos que a socialização e o ensino presencial, dentro da escola, são insubstituíveis. Como você vê a falta da escola e o ensino em casa, on-line?
HELOÍSA ARAUJO – Estamos vivendo um momento ímpar. Todas as partes estão se reinventando: alunos, professores, escolas, famílias e a Educação como um todo. Agora mais do que nunca conseguimos ver claramente que, assim como as máquinas, uma engrenagem não funciona sem que a outra esteja funcionando também. Nesse sentido, destaco novamente o papel fundamental de cada uma das partes envolvidas nessa interdependência. Precisamos mais do que nunca ter essa escuta sensível para que possamos seguir minimizando as perdas cognitivas.
A rede em que trabalho adotou as atividades remotas e assim tenho feito desde o dia 16 de março, quando as aulas foram suspensas por aqui. Como leciono para Educação Infantil e os eixos norteadores de nossa prática são as interações e brincadeiras, tenho procurado manter a ludicidade e o vínculo afetivo nos vídeos. Envio semanalmente para coordenação um vídeo de contação de histórias e sugiro aos responsáveis algumas atividades baseadas na história. Optei por não estabelecer dias certos para a realização das atividades, envio em modelo lista e cada família adapta dentro de sua disponibilidade.