Você já parou para pensar sobre as palavras? Como elas ganham vida após saírem da nossa boca? Como elas possuem significados, cores, tamanhos e formas diferentes dependendo do contexto ou do que o ouvinte entende?  É demais pensar sobre isso, não é mesmo! Muitas vezes, falamos tanto no automático, que não percebemos esse mundo das palavras que está bem ao nosso redor.

Lançado este mês pela Editora Cepe, o livro “A palavra da boca pra fora” encanta, diverte e ensina as criança sobre esse mundo mágico das palavras. Escrito pela jornalista e cineasta Clara Angélica e ilustrado pelo professor e ilustrador Rodrigo Fischer, o livro brinca com as crianças e convida o leitor a usar a imaginação.

Sabemos que as palavras podem ser escritas, faladas ou até mesmo sentidas. Mas será que você sabe que elas podem ser divididas, calculadas e até ter cheiros? Algumas são chatas, outras bonitas e divertidas; algumas engraçadas, outras tristes e sentidas de maneiras bem diferentes… Existem palavras-pessoas acompanhadas de animais, de frutas, de flores e até de árvores. Divertido, não é mesmo?

Um detalhe que eu gostei muito no livro foi a forma como ele foi ilustrado. Com imagens engraçadas e contínuas, podemos caminhar pelas páginas do livro e sentir as palavras dentro da nossa vida.

“A palavra da boca pra fora” é um livro muito legal e que encanta crianças e adultos! Só lendo o livro para vivenciar essa história! Confira agora a entrevista que fiz com a autora e com o ilustrador para conhecer um pouquinho mais desse livro!

CANAL INFANTIL – Como surgiu a ideia de escrever o livro?

CLARA ANGÉLICA – Esse é o meu terceiro livro infantil (Tintim por Tintim um Palhaço se Faz Assim e 7  Poemas para Sete Amores), além de dois outros de poesia (Na Carne Viva e Ai, Recife).

O A Palavra da Boca pra Fora foi escrito há mais de 10 anos. Me reconectei com o texto alguns anos depois, fiz algumas revisões e deixei quieto. Em um dos encontros com Rodrigo Fischer, ilustrador do livro (somos muito amigos), apresentei o texto e ele gostou do que leu. Nesse período, meu neto, Benjamin, estava pra nascer. Foi o que precisava pra retomar o projeto.

CANAL INFANTIL – Como foi ilustrar o livro?

RODRIGO FISCHER – Ilustrar A palavra da boca pra fora foi um processo longo e riquíssimo. O livro editado pela CEPE foi o terceiro projeto. Há uns cinco anos, Clara me mostrou o texto, e eu me apaixonei logo pelo tom poético e desafiador que ele carrega. Depois de um projeto voltado pra natureza e outro explorando as palavras escritas em prédios de uma cidade, resolvi caminhar por um lugar mais gráfico e que, não somente repetisse o texto, mas fosse além dele com referências ao cinema, à música, às artes plásticas.

Minha técnica é mista: uso acrílica, guache, aquarela, lápis de cor e colagem de revistas e enciclopédias antigas. Todas as pranchas são finalizadas digitalmente. Para esse projeto, apesar do colorido, optei por bases de azuis e laranjas. Deixei o fundo branco para dar uma ideia de vazio mesmo e deixar os detalhes do caminho que conduz o texto, aparecerem.
CANAL INFANTIL – Qual a importância das imagens na hora de ler um livro?
RODRIGO FISCHER – Para mim, enquanto artista e, sobretudo, leitor, não faço divisão ou classificação da importância entre imagens e textos. Entendo que esse tipo de pensamento vem de nossa herança judaico-cristã e o apego sagrado à palavra escrita. Mas é bom lembrar que a arte de contar histórias (a literatura) sempre esteve ligada à arte da pintura, vide os registros ancestrais rupestres, por exemplo. E quando falamos, hoje, do universo da leitura em que imagens nos circundam o tempo todo, essa relação (texto e imagem) se torna ainda mais potente.
Quando ilustro um projeto de um texto que não é meu, me considero tão autor quanto o escritor. Por isso, tenho o cuidado de não repetir em imagens o que está escrito. Eu tento produzir uma ilustração para além do texto. Que não o esgote, mas o amplie.
Sendo assim, compreendo a imagem na literatura, assim como outras formas de visualidades (fotografias, manipulações gráficas e tipográficas, colagem de documentos) como elementos inerentes ao texto que mudam consideravelmente o modo como enxergamos o leitor e tornam a própria literatura num objeto muito mais complexo.

CANAL INFANTIL – Qual o principal assunto do livro?

CLARA ANGÉLICA – A palavra sempre foi companhia de uma vida inteira, principalmente a escrita. Seja através da leitura, seja através da escritura. A palavra, em todas suas narrativas, é algo que me norteia. No livro convidamos a leitora, o leitor a viajar no universo multidimensional da leitura e do falar apresentando a diversidade da palavra. As iguais com sentidos diferentes; as que trazem flores, animais, frutas; as enigmáticas; as palavras-pessoas. É um mundo de sentidos e sentimentos.

CANAL INFANTIL – Qual a faixa etária indicada?

CLARA ANGÉLICA – Acredito que o livro pode ser acessado por criança de várias faixas etárias. As ilustrações dialogam de uma maneira mágica com o texto e as imagens também podem ser lidas sugerindo que a (re)invenção do texto, que também podem ser lido e interpretado através das imagens.

CANAL INFANTIL – Qual a importância da leitura desde a infância?

CLARA ANGÉLICA – É prazeroso demais buscar essa aproximação com as crianças; participar de alguma maneira desse Universo tão peculiar. Quando escrevo para elas me sinto no meio dessa brincadeira. As crianças sempre especulam sobre o mundo, têm uma curiosidade natural sobre tudo. Participar de alguma forma da compreensão do mundo que as rodeia, onde através das brincadeiras, dos questionamentos, das descobertas, constroem seu entendimento sobre suas vidas é uma riqueza, uma oportunidade incrível.

RODRIGO FISCHER – É essencial. Apresentar livros e histórias às crianças é abrir um mundo de perguntas, análises, hipóteses, iluminações e espantos. Enxergo a leitura de livros literários como um exercício do corpo e da imaginação.

Nesse sentido, defendo o livro ilustrado como um gênero necessário para o desenvolvimento da criança em todos os sentidos. Nele, textos e imagens oferecem lugares de liberdade, de reconhecimento, de representatividade e de resistência.

CANAL INFANTIL – Deixe uma mensagem para os pais.

CLARA ANGÉLICA – Penso que a presença dos pais no estímulo à leitura e na escolha dos livros possibilita o entendimento de que a linguagem escrita está também associada à linguagem falada. Claro que devemos deixar que a vontade e o gosto da criança tenham espaço importante nessa escolha.  Apresentar livros nos primeiros anos de vida desenvolve a curiosidade, além de possibilitar o começo de um mundo repleto de descobertas e estimular habilidades cognitivas e sociais.

RODRIGO FISCHER – Para sair do lugar comum do “leiam para seus filhos, comprem livros ilustrados que despertem o interesse deles”, trago uma reflexão meio óbvia: leiam mais, ou melhor, sejam mais leitores. Apaixonem-se pelos livros. Só os apaixonados conseguem seduzir, persuadir ou comover o outro. Somos um país de torcedores de futebol fanáticos porque nossos pais também o são ou foram. A fórmula é a mesma. Basta trocar as bolas pelos livros.

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