Devo ou não colocar limites no meu filho? Essa é uma pergunta muito comum entre as famílias. Muitos preferem deixar o filho fazer o que quiser, outros já optam por não permitir que o filho faça tudo. Cada família cria e educa seus filhos da forma que mais lhe convém. Porém, segundo os especialistas, é praticamente impossível educar um filho sem limites! O próprio mundo em que vivemos nos impõe certas situações em que não podemos fazer o que desejamos.

Para falar sobre limites na infância, conversei com a Marília Beatricci de Souza Pagio, Psicóloga, Especialista em Terapia Cognitivo Comportamental e Especializanda em Transtorno do Espectro do Autismo.

LIMITES

Segundo Marília, “de maneira geral, limites são pontos que não podem ou não devem ser ultrapassados. Estas barreiras podem ser físicas ou sociais. Os limites existem de maneira natural no mundo. A vida adulta traz limites de tempo, de condição financeira, de saúde, das leis, dentre inúmeros outros. Também é importante salientar a valiosa regra: o meu direito termina onde inicia o do outro. Esta regra, nada mais é, do que um limite para os atos de cada um”. Por isso colocar limite nos filhos é tão importante.

Quando falamos em limites, o ideal é que os pais comecem a trabalhar com a criança desde cedo. “Estudiosos da psicologia do desenvolvimento afirmam que falta de limites na infância gera filhos com baixa competência social e cognitiva, baixo autocontrole, performance acadêmica pobre. Pais muito permissivos ou ausentes colaboram para que seus filhos sejam mandões e autocentrados, com pouco autocontrole e muita dependência dos outros ao longo da vida. Além disso, nestas condições, as crianças podem se tornar agressivas, ter explosões de temperamento e ir mal na escola. A longo prazo, estas crianças tendem a apresentar transtornos de comportamento e uma maior probabilidade de uso de drogas na adolescência”, alerta Marília.

Mas a partir de qual idade devemos colocar limites nos filhos? Segundo a psicóloga, “os limites podem ser estipulados desde a primeira infância, desde que sejam adaptados ao nível de desenvolvimento da criança/adolescente. Quando começa a engatinhar, o bebê passa a ter acesso a espaços da casa aos quais antes não tinha. Assim, limitar o espaço físico ajuda. Também, por volta desta idade, a criança já é capaz de compreender o que é dito. Os pais podem dizer simplesmente ‘não’ quando a criança for em direção a uma tomada ou a uma escada. Quando a criança for mais velha e tiver uma maior compreensão da linguagem, as regras podem ser verbalizadas de maneira mais clara: ‘não mexa na tomada’, ‘não se aproxime da escada’.

Um ponto muito importante é que os pais devem sempre educar os filhos colocando certos limites. É necessário que a criança entenda que ela não pode fazer tudo o que quiser e deve respeitar o outro. A psicóloga explica que “pensando na existência de limites naturais e sociais da vida adulta, a criança deve ser preparada para viver nesse mundo. Toda criança tem uma curiosidade natural, uma necessidade de explorar o mundo ao seu redor. Porém, mesmo uma casa segura, apresenta uma série de riscos: tomadas que dão choque, objetos de vidro que podem se quebrar e nos machucar, lugares altos que representam risco de queda. As crianças pequenas não têm noção desses perigos, por isso os adultos são responsáveis por limitar o espaço e as possibilidades da criança, de forma a protegê-la de riscos naturais. Quando fica mais velha, a criança deve ser apresentada aos riscos do mundo além de suas casas, em um nível muito mais complexo. Cabe aos pais explicar as regras de funcionamento do mundo e dar suporte para que a criança não se coloque em risco”.

LIMITES E BIRRAS

Muitos pais confundem birra com falta de limites. Mas nem sempre esse é o motivo! Marília ressalta que, em primeiro lugar, “é importante avaliar os motivos desta birra. Como birra, estou considerando o choro e os comportamentos que não tenham a ver com reações fisiológicas da criança. A birra só ocorre em alta frequência quando os pais dão consequências agradáveis para ela. Assim, é importante investigar o que está mantendo este comportamento (pode ser a atenção dos adultos, a criança conseguir o que quer após algum tempo de birra) e retirar essa consequência. Em contraposição, os pais podem recompensar a criança quando ela realizar algo desejável”.

Além disso, é fundamental que os pais tentem compreender a criança. “Durante a birra, os adultos ao redor podem ignorar, focar em outra coisa. No entanto, não podemos abandonar a criança. É necessário zelar pela segurança dela, observar se ela não está se colocando em posição de risco. Também é mais fácil se os adultos iniciarem este procedimento em casa, onde é mais fácil de controlar os estímulos aos quais a criança está exposta. Uma birra no supermercado, por exemplo, é bem mais difícil de lidar. No entanto, se a criança souber que não irá receber consequências agradáveis quando fizer birra, certamente ela irá parar”, explica Marília.

CONVERSE COM O SEU FILHO

Para se ter limites, é preciso haver conversa! Os pais precisam conversar com seus filhos. A comunicação é essencial em qualquer relacionamento. Marília ressalta que “é necessário ter regras claras e que estas regras sejam ditas de forma adaptada para a criança. Para isto, devemos usar linguagem simples e, se necessário, pode ser criado um quadro de regras. Caso a criança ainda não saiba ler, estas regras podem ser representadas por imagens. De maneira semelhante, é importante utilizar sempre as mesmas frases para explicar o que a criança fez de errado. A variação do vocabulário, nesta situação, pode ser prejudicial, já que pode atrapalhar a compreensão da criança sobre a situação. Devemos garantir que a criança compreenda o que é certo e o que é errado”.

COMO USAR O CASTIGO

“Primeiramente, é necessário garantir que as regras sejam dadas de maneira clara para a criança. Se necessário, podemos utilizar regras escritas ou com imagens ilustrativas. Se a criança quebrar esta regra, ela recebe um aviso. Caso ela volte a quebrar a regra, deverá receber algum tipo de castigo, perdendo o direito a algo que gosta. Outra opção é retirar da criança um objeto ou brinquedo que ela goste muito, e dizer que vai ficar sem aquele item como punição por seu comportamento. É importante identificar se o que estamos fazendo realmente tem um efeito punitivo para a criança, ou seja, o castigo deve ter um efeito real de reduzir o comportamento indesejado. Se os pais perceberem que esta punição não está sendo efetiva, devem procurar ajuda profissional para pensar em outras estratégias”, ensina a psicóloga.

Os pais devem ter sempre em mente que educar é difícil mas não é impossível! Mesmo em uma sociedade consumista e permissiva como a nossa, é possível estabelecer limites. “Uma sociedade consumista oferece itens a serem comprados através dos vários meios de comunicação. As crianças não estão imunes a isto. Assim, é necessário que os pais expliquem à criança o ‘valor’ do dinheiro. A criança precisa entender que o dinheiro que ganhamos depende do esforço do trabalho dos pais e que, também, tem um limite. Quando a criança estiver mais velha, podemos explicá-la em termos matemáticos (soma do salário e subtração das contas)”, explica Marília.

Por fim, Marília deixa uma dica importante para os papais: “impor limites às crianças nem sempre é uma tarefa fácil; depende de pequenas atitudes diárias dos pais e responsáveis pela criança. Caso necessário, lembre-se: você não precisa dar conta de tudo sozinho. Não tenha medo de buscar ajuda profissional”!

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